Cinco décadas de alegrias no restaurante portuense O Buraco

Apesar da mudança de gerência, tudo se vai manter igual n'O Buraco. (Fotografia de Leonel de Castro/GI)
Aberto em 1971, O Buraco mudou agora de mãos. Sócios de uma vida, Francisco Moreira e Manuel Azevedo passaram o negócio aos funcionários mais antigos. Motivo para recordar a história de uma casa querida dos portuenses, que nunca teve um dia mau.

Sentados na sua mesa favorita do restaurante, onde ao longo das últimas cinco décadas fizeram as suas refeições, Manuel Azevedo e Francisco Moreira falaram com a “Evasões” sobre a história de O Buraco, restaurante que criaram como hoje o conhecemos e que agora passa para as mãos de Bruno Costa e Ricardo Gonçalves, funcionários da casa há mais de 20 anos.

Francisco Moreira e Manuel Azevedo, com Bruno Costa e Ricardo Gonçalves. (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

“Isto era um snack-bar”, recorda Manuel, lembrando a primeira vez que entrou no espaço. “Vim para aqui quando cheguei de Moçambique, depois do serviço militar. Estava desempregado, tinha-me despedido do restaurante Ovarense, onde conheci o Francisco.” Ambos tinham saído muito novos do Marco de Canaveses mas só se conheceram naquele restaurante, Manuel tinha 12, Francisco 15 anos. Lá, faziam um pouco de tudo: “Não era só mesa, passava-se a ferro os guardanapos, ajudava-se na cozinha”.

A sala do restaurante. (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Num feliz dia de inverno de 1971, Manuel sai para a rua “com o ‘Jornal de Notícias’ debaixo do braço”, onde tinha visto um anúncio para empregado de mesa na Rua do Bolhão. Curiosamente, diz, “conhecia o patrão, o Sr. Alberto. Ele era conhecido como ‘o bananeiro’ e eu comprava-lhe bananas quando trabalhava no Ovarense”. Alberto tinha acabado de abrir a casa nova, já chamada O Buraco, que se desdobrava numa frutaria, à frente, e, atrás, num snack-bar. “Ele queria dois empregados de mesa e eu disse que conseguia fazer o trabalho sozinho, das 8 da manhã às 10 da noite”, conta, lembrando que, naquela época, ganhava à percentagem.

Arroz de pato e empadão de vitela são dois dos pratos servidos. (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Depois de cinco anos na função, e com o 25 de Abril pelo meio, teve a oportunidade de ficar com o negócio. “O Sr. Alberto quis passar a casa. Falou comigo e eu falei com o Francisco para fazermos sociedade”. Francisco tinha estado também em África, onde recebeu “louvor como cabo-cozinheiro”, lembra o próprio. Tomaram os dois conta do negócio a 3 de janeiro de 1976, com as respetivas mulheres na cozinha. “A partir daí, tudo nos correu bem na vida. Ainda trabalhámos um ou dois anos como snack-bar, mas depois optámos por ser só restaurante.” Os clientes, que rapidamente se tornaram amigos, passaram a palavra, fazendo assim com que a casa tivesse sucesso desde o início.

O que saía da cozinha é o que ainda hoje sai: feijoada à transmontana, arroz de pato, empadão de vitela, cozido à portuguesa, tripas, rojões, arroz de cabidela e peixe fresco. De entrada, nada como os rissóis de pescada, e para sobremesa o que mais sai é a rabanada.

Manuel e Francisco nunca se desentenderam no trabalho, nem no futebol. “Já viu o que é, em 47 anos de sociedade nunca nos chateámos! Eu ter de aturar um portista e ele um benfiquista!”, ri. Ao longo destas décadas, os filhos dos primeiros clientes também se tornaram clientes e amigos, e agora, os netos. “Os filhos dos netos já somos nós que os vamos aturar”, brinca Bruno Costa, que começou a trabalhar na casa com 14 anos, já lá vão 25. Ricardo Gonçalves está lá desde os 15, há 29 anos. São eles que tomam agora conta da casa. “Havia pessoas interessadas nisto, mas quis fazer o que fizeram a mim”, prossegue Manuel. Bruno e Ricardo aceitaram “de bom grado”, até porque sabem bem como a casa funciona. “Não há segredos”, diz Bruno, “é só continuar como está”.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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