Começa hoje em Bragança a Semana Gastronómica do Butelo e das Casulas, com 33 restaurantes do concelho a privilegiarem esta especialidade transmontana nas suas cartas. Estes dias funcionam como aquecimento para o festival que começa de hoje a uma semana, e que celebra ao mesmo tempo este prato regional e as tradições do Carnaval, como o desfile dos caretos e a Queima do Diabo.
O prato tradicional de Bragança é, na verdade, mais um suculento produto da criativa cultura popular do aproveitamento total dos alimentos. Fazia-se para não desperdiçar nada do abate do porco ou da descasca do feijão. O butelo é um enchido de sobras do porco bísaro, que se faz depois de feitos todos os outros enchidos. É um embrulho dos ossinhos do espinhaço e das costelinhas, que têm agarrados pedacinhos de carne tenríssima e saborosa, em pele de bexiga ou buxo. Tem uma forma mais irregular e abre-se – como diz o escritor Trindade Coelho – em “filarmónica”. “É grotesco, mas no Entrudo, com orelheira, até parece que se esgargalha no prato, a rir como um perdido para os que estão à mesa”, descreveu o autor, numa citação muito usada para explicar o efeito visual deste enchido-rei de Bragança.
Já as casulas são as cascas do feijão (e também se designam por cascas) que se usam cozidas e limpas dos fios, como acompanhamento do butelo. Junta-se batata cozida e eventualmente outras carnes, como orelheira, para a composição do prato, rega-se com azeite – e aí está Bragança à mesa. A autarquia tem feito, nos últimos anos, um trabalho de promoção desta iguaria, ao que ajudou uma certa diáspora transmontana. Vários chefs de alta cozinha com raízes em Trás-os-Montes – como Rui Paula, Marco Gomes e Justa Nobre – têm consagrado esta especialidade nas cartas dos seus restaurantes, no Porto e em Lisboa, nesta época do ano.
No passado, Rui Paula já criou um caldo de casulas com caras de bacalhau em resposta a um desafio da Câmara de Bragança. Este ano, Marco Gomes criou, no restaurante Oficina, no Porto (onde foi hoje apresentado o Festival do Butelo e das Casulas ao público portuense) uma entrada com um puré cremoso de casulas e um molho criado a partir do caldo clarificado do butelo. “Este ano, tenho as melhores casulas que já encontrei”, referiu o chef natural de Alfândega da Fé, que tem, por esta altura, casulas e butelo na carta do Oficina – assim como outras especialidades transmontanas, os cuscos e os milhos.
Na apresentação do Festival do Butelo e das Casulas & Carnaval dos Caretos, que decorre na semana do Carnaval, entre os dias 21 e 26 de fevereiro, o presidente da Câmara brigantina apelou para uma maior valorização dos municípios que preservam tradições e património. “Falamos muitas vezes da coesão territorial, que normalmente só sai da boca para fora e na prática não acontece. Queremos que toda a gente comece a olhar para o nosso território como algo importante no que diz respeito à preservação das tradições, porque merecemos essa valorização”, declarou Hêrnani Dias.
Quem não puder visitar Bragança nos animados dias do festival, pode na mesma provar butelo com casulas, nos mais de trinta restaurantes que o servem nesta Semana Gastronómica, entre elas O Geadas (menu a 30 euros), o Solar Bragançano (menu a 20 euros) e ainda a Tasca do Zé Tuga (menu a 40 euros) e O Javali (menu a 32 euros). Os preços vão desde os 11,5 euros até aos 20 euros (prato) e dos 15 euros até aos 40 euros, para quem preferir menu.
Já quem for a Bragança nos dias do Festival, que terá a sua base numa tenda na praça Camões, pode contar com muitas atividades além do cerne do evento: a degustação e compra de butelo e casulas, em tasquinhas e zona de venda. Há uma visita guiada à cidadela, demonstrações gastronómicas, teatro e concertos e até uma maratona. Os festejos de Carnaval começam no sábado, com o desfile de Caretos (às 17h, no centro da cidade) e logo a seguir a Queima do Diabo no largo do Castelo. A lista completa dos restaurantes aderentes e o programa completo pode conferir-se aqui.