O Alto Alentejo é “um diamante em bruto e quem quiser autenticidade, encontra-a aqui”. Quem o diz é Pedro Capão, divulgador entusiasta da sua terra e que durante a pandemia decidiu elaborar um projeto de animação turística, depois de alguns anos a trabalhar em hotelaria, em Lisboa. No Crato, fundou a TOOBRAA (acrónimo para Touristic Offers Over the Beautiful and Rich Alto Alentejo); o nome remete para tubra ou túbara, as trufas alentejanas que se colhem no final do inverno.
O nome como ligação à terra não é de todo despropositado, até porque Pedro quer mesmo promover o Alto Alentejo nas vertentes cultural, gastronómica, de enoturismo e de natureza. Bisneto de oleiros da Flor da Rosa, localidade no município do Crato, Pedro tem por esta arte um gosto especial que partilha em workshops. Na HERDADE DA ROCHA, com quem trabalha em parceria, promove, então, sessões de duas horas para quem quer aprender as bases. Apesar da tradição familiar, não aprendeu a arte. Teve de ir aprender olaria com um mestre do Redondo porque, conta, “já não há muitos mestres e, dos poucos, alguns não gostam de ensinar”. Pedro começa por explicar a diferença entre os vários tipos de barro da região e o tipo de olaria, como a da Flor da Rosa, mais utilitária, e a de Nisa, mais decorativa. Depois, cria uma peça para explicar os princípios e convida os participantes a fazer a sua, que pode ser um copo ou uma tigela. Ainda se compromete a cozer a peça e a entregá-la.
Isto é apenas uma das muitas possibilidades que a Herdade da Rocha, encostada à serra de São Mamede, no Crato, oferece a quem a visita. O sistema de parcerias numa região ainda em desenvolvimento em termos turísticos parece ser o ideal. Na Herdade da Rocha, é também possível ouvir cante alentejano ao vivo, com o grupo Os Lagóias, de Portalegre, e participar em outras atividades. Mas o foco são os vinhos.
“O projeto teve início em 2009 com a plantação de Alicante Bouschet e Syrah; num segundo momento, foram plantadas Touriga Franca e Touriga Nacional e, depois, em 2011, as castas brancas Arinto, Alvarinho e Viognier”, conta João Silva e Sousa, o enólogo consultor da casa. Aqui, “em solos graníticos pobres, faz-se uma produção integrada com arrelvamento natural, pasto espontâneo, monitorização de insetos” e um rebanho de ovelhas para limpar terreno.
Recentemente adquirida pela Terras & Terroir, a herdade mantém as características originais, com muitas obras de arte, herdadas do dono anterior, espalhadas tanto pelos espaços exteriores como na adega, no alojamento e no restaurante e sala de estar. Logo à entrada da herdade estão elegantes esculturas de veados em ferro. Isto a indicar que mesmo dentro daquele espaço existe uma tapada cinegética, com famílias de veados e outros animais. Na adega estão obras de vários artistas, desde murais que remetem para trabalhos renascentistas até às portas de madeira maciça esculpidas por Paulo Neves. Quem se deslocar da Boutique Lodge, o alojamento do projeto (ler caixa), e a adega, poderá ver o cenário pontuado por árvores pintadas de amarelo. A ideia foi dar uma outra vida a árvores já mortas.
No edifício da adega produzem-se e envelhecem-se os vinhos, e esta também pode funcionar como sala de provas para se experimentarem os vinhos frescos e elegantes da casa.
Uma das castas que Silva e Sousa mais gosta de trabalhar aqui é o Alicante Bouschet. Esta casta, francesa, “não é muito apreciada pelos franceses, pois só a utilizam para dar cor aos tintos”, diz. Mas no terroir da Herdade de Rocha faz um dos premium da casa, o Herdade da Rocha Private Collection Alicante Bouschet. A Syrah também é apresentada tanto a solo como em blend com a Alicante Bouschet e a Touriga Nacional. E esta última faz o único rosé do portefólio. Nos brancos, o Alvarinho e o Arinto destacam-se. Ambos são apresentados a solo e em blend.
Na região do Antão Vaz
Já no Baixo Alentejo, pode descobrir-se outra das mais recentes aquisições do grupo Terras & Terroir, RIBAFREIXO, na Herdade do Moinho Branco, Vidigueira. Conhecida pelos brancos muito frescos, a sub-região expressa-se bem nos vinhos que saem desta adega, construída em 2011. Nuno Bicó, responsável pela viticultura, conta que o projeto nasceu em 2009, com a plantação da autóctone Antão Vaz. Em 2012, já com a vinha maturada e a adega a funcionar, fizeram-se os primeiros vinhos. Além desta casta branca, muito “exuberante aromaticamente”, apostaram noutras, como Alvarinho, Roupeiro, Verdelho e, para uma experiência diferente, a Chenin Blanc, casta francesa do Vale do Loire com grande expressão na África do Sul.
Se as grandes amplitudes térmicas, a influência marítima e os solos de xisto muito antigo imprimem aos brancos a frescura conhecida, nos tintos isso também acontece. “Os nossos tintos são também frescos, nada enjoativos”, diz Nuno Bicó. Nestes, a Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tinta Miúda, Syrah e o Arinto destacam-se. A filosofia da casa é, como diz Nuno, serem principalmente bons produtores de fruta, “porque se esta não for boa, não há bons vinhos”.
Quem for visitar a adega e provar os vinhos não deve deixar de experimentar o restaurante aberto há dez anos, tendo sido o primeiro restaurante de adega na Vidigueira, e hoje um dos mais frequentados. Pratos alentejanos como o cozido de grão, sopas e açordas tradicionais, carne de porco à alentejana, costeletas de borrego na grelha ou lombinhos de porco preto saem da cozinha liderada pela chef Natércia.
Boutique Lodge Herdade da Rocha
Os olivais de sequeiro que rodeiam toda a Herdade da Rocha são a inspiração para o alojamento da mesma. São oito os quartos que compõem a Boutique Lodge e estão divididos entre o edifício principal e as suítes externas, individuais. Os hóspedes têm acesso à piscina e ao terraço comum. O espaço dispõe também de restaurante, apenas para hóspedes, onde se pode provar comida regional alentejana, como sopa de tomate, pratos com porco preto ou a típica sobremesa sericaia.
A aposta no enoturismo do grupo Terras & Terroir
O que hoje é o grupo Terras & Terroir começou por ser um projeto virado para o “mercado da saudade”. Em França, os empresários Paulo Pereira, Maria do Céu Gonçalves e Álvaro Lopes começaram a importar produtos portugueses, incluindo vinhos, para colmatar a falta dos mesmos em França. Depois, veio o negócio da viticultura, primeiro no Douro. Adquiriram a Quinta da Pacheca, que logo transformaram num destino de sucesso de enoturismo. Em 2020, com a aquisição, no Dão, da vinícola Caminhos Cruzados, assumiram o nome atual. Na Bairrada têm a quinta do Ortigão e mais recentemente em Mesão Frio, a Vila Marim Country Houses. No Douro, possuem a Quinta do Barrilário, em Armamar.