Vila Verde por caminhos de natureza e tradição

Trilho do Fojo do Lobo, em Vila Verde (Fotografia de Leonel de Castro/GI)
A recente aposta do município nas valências naturais resultou numa renovada rede de trilhos que atravessa montanhas, campos de cultivo e aldeias pitorescas. Para recarregar energias não faltam boas mesas, e ainda lugares que fazem mergulhar nas tradições do antigamente.

Aninhada na vegetação ribeirinha, a primeira Cascata do rio Vade é também o primeiro tesouro que se descobre ao iniciar o Trilho do Fojo do Lobo e Nascente do Vade, PR2, um dos três percursos que integram os Trilhos da Nóbrega, a renovada rede de caminhos pedestres de Vila Verde, que serpenteiam as encostas das terras altas do concelho ao longo de 38 quilómetros, atravessando zonas rurais e serranas, miradouros e aldeias pitorescas.

Primeira Cascata do rio Vade (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Ao cabo de 100 metros deste percurso, a frescura da queda de água, acessível através de um pequeno passadiço em madeira, é capaz de demover os menos desejosos de enfrentar os 13 quilómetros de caminhada que ainda há pela frente, principalmente no verão, quando se faz oásis para locais e turistas. “As pessoas do Parque vêm muito para aqui”, diz Domingos Costa, responsável pelo Parque de Campismo e Caravanismo Rural de Aboim da Nóbrega, ali ao lado, de onde partem grupos de caminhadas, que organiza por iniciativa própria ou em parceria com o município. Quem quiser juntar a família ou os amigos para explorar a pé aquele território também o pode requisitar como guia informal.

Trilho do Fojo do Lobo (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Trilho do Fojo do Lobo (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Quando não está nos trilhos, ou dedicado à apicultura, Domingos Costa recebe os campistas e caravanistas do parque, cuja localização, no alto de uma colina rodeada de montanhas, lhe confere duas grandes valências: um silêncio retemperador e um céu estrelado digno de contemplação. “Quem gosta de sossego vem ao nosso parque e fica apaixonado”, assegura o responsável. Além das parcelas de campismo e caravanismo, e áreas de apoio, o espaço dispõe de duas casas de férias que podem acolher até quatro pessoas cada uma.

O parque de campismo é o ponto de partida e término do Trilho do Fojo do Lobo e Nascente do Vale, que depois de passar a cascata envereda pela paisagem rural do lugar da Bemposta. “Daqui até Gondomar é onde ainda se veem campos cultivados, ainda vai havendo alguma agricultura de subsistência. Os outros estão abandonados”, comenta Domingos. Aqui e ali, são os espigueiros, mais ou menos conservados, que se mantêm como estandartes da ruralidade da região.

Trilho do Fojo do Lobo (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Trilho do Fojo do Lobo (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Miradouro de Penedos Mourinhos (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Daí a 3,4 quilómetros, ultrapassadas algumas subidas mais exigentes – o trilho é de dificuldade moderada – chega-se ao Miradouro de Penedos Mourinhos, a poucos metros da nascente do rio Vade, que a 733 metros de altitude abre uma panorâmica sobre a serra Amarela e a do Gerês, e também a cidade de Braga.

Mais adiante, o percurso começa a entrar pelas longas muralhas do Fojo do Lobo de Gondomar, um dos maiores exemplares da Península Ibérica dessa antiga armadilha de lobos. Os muros formam um V e estendem-se por dois quilómetros, indo desembocar a dois fossos, onde os animais ficavam aprisionados. Desativado há várias décadas, permanece como uma memória da relação ancestral entre os humanos e o lobo nas serranias. A partir dali, o trilho coincide com um trecho do Trilho de Mixões da Serra, PR3, que tem como destino a igreja e miradouro de Santo António de Mixões da Serra, onde todos os anos, tem lugar uma das tradições mais particulares do concelho: a Bênção dos Animais.

Fojo do Lobo de Gondomar (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Santo António de Mixões da Serra (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Santo António de Mixões da Serra (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Santo António de Mixões da Serra (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

No século XVII, a população local dedicava-se essencialmente à agricultura e ao pastoreio, e “viviam aflitos por causa de três fatores: os lobos, que por aqui andavam imensos, daí existir o fojo do lobo; os javalis, que desciam da serra do Gerês e vinham para aqui destruir os campos de milho; e as doenças”, refere Adélia Santos, técnica da Câmara Municipal de Vila Verde. A devoção a Santo António, protetor dos animais, levou à construção de uma pequena ermida, a poucos passos do atual santuário, datado do século XX. No domingo anterior ao 13 de junho, dia de Santo António, há romaria com direito a banda de música e missa campal, em que a assembleia se compõe significativamente de animais. Antigamente juntava-se ali essencialmente gado bovino, cavalos, cabras e ovelhas, que hoje continuam a marcar presença, mas em menor número, dando lugar aos animais de estimação, todos benzidos um a um. “É uma romaria que nunca se esquece, quem vem uma vez, regressa sempre”, diz Adélia.

 

Sabores e saberes
Ao fim de tanto caminhar pelas montanhas de Vila Verde, descendo ao centro da vila não faltam boas mesas onde recarregar energias. Uma delas, aberta há mais de 30 anos, põe na ribalta as carnes grelhadas no carvão, como o lombo texano, fatiado e acabado junto à mesa; a picanha; ou a parrilha argentina. Mas uma refeição n’A Sevilhana há de abrir sempre com uma tortilha, antes de seguir para as especialidades da casa, que também contemplam pratos de peixe, como a espetada mista de tamboril, polvo, lulas e camarões.

A Sevilhana (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

A Sevilhana (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Mais dedicado à cozinha tradicional, o Palácio aposta em cartas sazonais, e neste outono e inverno traz de volta pratos de consistência e conforto como o pica no chão, as papas de sarrabulho com rojões ou o cozido à portuguesa. Firmes na ementa durante todo o ano estão as carnes grelhadas, o bacalhau à Braga e as bochechas de porco preto estufadas lentamente em vinha d’alhos e terminadas no forno com batatas e castanhas, assim como o pudim Abade de Priscos, que também casa especialmente bem com os dias mais frios que se avizinham. Quando assumiu o comando do restaurante fundado pelo pai, Filipe Malheiro decidiu associar à cozinha tradicional um toque de modernidade, trazendo as carnes maturadas para o menu e criando uma garrafeira bem apetrechada, que funciona também como sala privada, onde organiza oficinas e jantares vínicos.

Palácio (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Palácio (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Outro lugar que se mantém fiel às tradições, mas de olhos postos no futuro, é a cooperativa Aliança Artesanal, nascida há 30 anos com a missão de fazer renascer a tradição do Lenço de Namorados, essa “carta de amor bordada pela rapariga apaixonada para oferecer ao eleito do seu coração”, define Gorete Barbosa, funcionária da cooperativa. “Inicialmente os lenços eram bordados pelas raparigas em idade casadoira para oferecer ao seu pretendido”, continua. O trabalho da Aliança Artesanal começou com a recolha de exemplares antigos pelo concelho, alguns dos quais encontram-se ali em exposição, para que pudessem ser reproduzidos e comercializados. As bordadeiras trabalham ali mesmo, todos os dias – o lenço mais simples leva quatro dias a bordar -, e além das réplicas dos lenços, também realizam peças por encomenda. “Começámos a bordar vestidos de noiva, blusas, camisas, toalhas de mesa, cortinados, com estes motivos alegres e coloridos e com esta forma de escrever, com os mesmos erros que os lenços nos trouxeram”, diz Gorete. As peças ali criadas e outros produtos nascidos de parcerias e inspirados nos lenços estão à venda na loja Namorar Portugal, ali ao lado.

Aliança Artesanal (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Aliança Artesanal (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Sendo os lenços tradicionalmente bordados em pano de linho, o espaço acolhe também uma pequena exposição sobre o ciclo dessa planta, mas que não invalida uma visita ao Museu do Linho e do Mundo Rural, instalado na antiga escola primária de Marrancos, que após obras de ampliação, no ano passado, triplicou a área de exposição, toda ela criada a partir do espólio de Abílio Ferreira, um filho da terra, que do alto dos seus quase 87 anos guia com orgulho os visitantes por todas as fases do linho, da sementeira ao tear, apresentando-os a instrumentos de trabalho que ele próprio utilizou e que foi reunindo ao longo da vida.

Museu do Linho e do Mundo Rural (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

A Casa do Brinquedo e da Brincadeira, instalada noutra antiga escola primária do concelho, também conserva um pedaço do passado, desta vez não associado ao trabalho, mas antes ao divertimento. Ali, o brinquedo tradicional português é exposto em três vertentes, com exemplares feitos por artesãos; de produção industrial; e também aqueles que eram feitos pelas crianças, com recurso aos materiais que tinham à disposição, como os bonecos de bugalhos, os barcos esculpidos em casca de pinheiro ou os carrinhos de rolamentos. Mais um mergulho nos tesouros do antigamente que enriquecem o roteiro turístico de Vila Verde.

Casa do Brinquedo e da Brincadeira (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Cerveja e Chocolate
A juntar à lista de riquezas gastronómicas do concelho estão dois vizinhos que já uniram forças na criação de um produto distintivo: uma cerveja de chocolate. A bebida teve edição limitada e juntou o saber fazer cervejeiro da Letra – que tem no portfólio mais de 50 cervejas – com a mestria chocolateira da Chocolate com pimenta, que Pedro Sousa abriu há nove anos, depois de quase duas décadas dedicado à pastelaria, enquanto sonhava com a chocolataria artesanal. Os bombons de queijo são, surpreendentemente, os mais vendidos, mas não ficam muito atrás os de azeite, mirtilo, maracujá e pimenta.

Cerveja Letra (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Chocolate com pimenta (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Mergulhos e canoagem
No verão, a Praia Fluvial do Faial, na vila de Prado, enche-se de banhistas que procuram as águas do rio Cávado para se refrescarem. É também lugar de eleição para a prática de canoagem, a principal atividade a que se dedica o Clube Náutico de Prado, que disponibiliza aulas de canoagem e stand up paddle recreativos. A serenidade do rio, com a ponte filipina no plano de fundo, faz daquela margem um lugar de lazer durante todo o ano, mas é também especialmente concorrida no primeiro domingo de janeiro, quando centenas de pessoas se juntam ali pela manhã para cumprir a tradição do primeiro banho do ano.

Praia Fluvial do Faial (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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