Passeio de inverno por Freixo de Espada à Cinta, entre brumas e vinhas

Na ancestral vila raiana, delimitada pelo rio Douro, o vinho, a azeitona, a amêndoa e a laranja fazem parte de um cardápio servido numa paisagem de brumas envolta em muitas histórias.

Na primeira luz da manhã, Freixo de Espada à Cinta acorda com um nevoeiro suave instalado no vale da PRAIA DA CONGIDA, onde o Douro separa Portugal e Espanha. Este é bem visível das janelas do novo HOTEL FREIXO DOURO SUPERIOR, sobranceiro à vila, virado para ela e para o nascer do Sol. O hotel abriu portas no verão passado e é o primeiro quatro estrelas a instalar-se aqui.

Com piscina interior, sauna, banheira de hidromassagem, quartos espaçosos com varanda, não se deixou aqui nada ao acaso, incluindo o restaurante. O chef responsável Diego Ledesma, que na vila está à frente do restaurante Cinta D’Ouro, convidou um seu conterrâneo espanhol Miguel Cotobal para gerir a cozinha do hotel. Natural de Saucelhe, é a primeira vez que trabalha deste lado da fronteira. “Antes de vir para Portugal, estive no estrela Michelin Victor Gutiérrez, em Salamanca”, conta.

O chef conhece bem a zona raiana mas teve de “aprender cozinha portuguesa” pois tinha de usar produtos como o bacalhau, aqui servido no forno com legumes e batatas ou com vinagrete e tomate, a alheira, a amêndoa, que acompanha o ensopado de borrego, e os cítricos. Não falta também a posta de vitela tradicional da região.

Outra versão deste prato encontra-se na CASA DE ALPAJARES, alojamento local gerido por Manuela Pelicano e o chef e produtor de vinho Marco Moreira da Silva. Apostando no atendimento personalizado, com apenas seis quartos, a casa tem uma boa sala de refeições (que funciona apenas por reserva) onde se pode experimentar uma gastronomia “de forte pendor raiano, com os melhores produtos das duas margens do Douro”, refere Marco.

Nas mesas de ambos os restaurantes o que se bebe é o vinho do Douro Superior, principalmente o produzido em Freixo e que Pedro Martins e Manuel Caldeira, da QUINTA DOS CASTELARES, consideram o melhor da região. Situada na Serra de Poiares, a sua história remonta aos anos 1970, quando Manuel Caldeira comprou um pedaço de terra para plantar vinhas. “Na aldeia de Poiares morava Gastão Taborda, o engenheiro que não deixou desaparecer a touriga nacional. Quando eu estava a começar a plantar, ele recomendou que eu plantasse a serra toda, pois aqui estão ‘as melhores massas vínicas do Douro’”, conta Caldeira, que sabiamente seguiu o seu conselho. Foi só em 2010, quando Pedro Martins, engenheiro do Porto, se mudou para Freixo e se juntou ao projeto, que surgiu a marca. “Em 2011, iniciámos a vindima mas só em 2013 começámos a comercializar”, conta. Isto porque para eles “fazer vinho não é só espremer uvas, tem muita paixão”. No início “esgotávamos o vinho em seis meses”, lembra. Por isso, decidiram construir uma adega própria, inaugurada em 2015.

Na loja há uma espécie de altar com as referências da marca, sendo as três garrafas de cima os topos de gama: o Quinta dos Castelares Manuel Caldeira, o Sublime, 100 por cento touriga nacional, e o branco Bicho-da-Seda, que remete para a história da sericultura em Freixo.

Esta pode conhecer-se a fundo no MUSEU DA SEDA E DO TERRITÓRIO, no centro da vila. Mas antes de lá se chegar, percorra-se as ruas tendo em atenção as suas fachadas de estilo manuelino. Tantas, que a vila é chamada a mais manuelina de Portugal. “Estas fachadas só se podem entender com a expulsão dos judeus de Espanha, em 1492”, diz o historiador Jorge Duarte, técnico da autarquia. Sendo Freixo uma vila de fronteira, recebeu muitas famílias sefarditas. Como forma de distinção, porque tinham algum dinheiro, “decoravam as fachadas com a estética em voga na época”, explica. No museu, onde Jorge Duarte trabalha, é contada a história de Freixo, desde que era um pedaço de lodo do supercontinente Laurásia até ao século XX. Os vestígios dos primeiros humanos – que numa rocha junto ao rio deixaram gravado o que hoje é conhecido como CAVALO DE MAZOUCO – os castros, a romanização, a vida rural, toda uma vasta história é abordada no museu.

Na secção dedicada à seda, aprende-se como se passa do casulo para o fio e no andar de cima, três senhoras tecem a linha, produzindo diversos tecidos, não deixando morrer esta arte.

(Fotografia de Rui Manuel Ferreira/GI)


Comer na vila

A experiência de emigração da família Araújo na Suíça está à vista no restaurante ZONA VERDE, que une gastronomia regional e comida de tradição italiana. O restaurante abriu em 2005, quando a família regressou à terra. José Carlos Araújo aprendeu a cozinhar com a mãe e está à frente do espaço, que serve postas, bacalhau, polvo e pizas. Novidade na vila é O HISTÓRICO, espaço de petiscos pensado por Derek Sendim, com decoração que remete para as tabernas históricas. Aqui, bebe-se vinhos e cervejas e come-se chouriça, moelas ou codornizes.


Produtos Arribas do Douro

Miguel Massa, engenheiro, vivia no Porto quando decidiu voltar a Freixo para tomar conta das terras da família. O pai, médico, era já em 2006 o maior produtor de azeitona de conserva da Península Ibérica. Mas o negócio estava “meio absoleto” e Miguel apostou na criação da marca ARRIBAS DO DOURO para produtos gourmet, como pasta de azeitona, azeite e vinhos. Na fábrica, há uma pequena loja onde se pode adquirir os produtos.

(Fotografia de Rui Manuel Ferreira/GI)


Trilhos e miradouros

No Parque Natural do Douro Internacional há trilhos para percorrer pontuados por miradouros que justificam a caminhada. Penedo Durão e o Assumadouro são dois deles.

 

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