História, tradição e novidades: passear pela vila alentejana de Avis

Avis. (Foto: Reinaldo Rodrigues/GI)
Foi palco medieval para a sede da Ordem de Avis, mas nem só deste legado se constrói a identidade da vila no Alto Alentejo: é juntar-se-lhe produto regional, as mesas de sempre e as que têm surgido, arte, vistas amplas e boas camas.

O seu caráter imponente e majestoso fá-lo destacar-se e avistar-se, no topo da vila de Avis, no Alto Alentejo, à distância. Mas além das características arquitetónicas, o antigo Convento de São Bento de Avis sobressai pelo legado histórico que carrega entre paredes. Há oito anos que os claustros e as salas deste espaço ganharam nova vida, alojando tanto o CENTRO INTERPRETATIVO DA ORDEM DE AVIS como o MUSEU DO CAMPO ALENTEJANO.

No caso do primeiro, reúnem-se em painéis informativos e ecrãs interativos nove séculos de História, desde a fundação do convento, no século XIII, ao desenvolvimento da vila ao longo do tempo e à forma como funcionavam a Ordem de Avis – que aqui se sediou – e outras semelhantes. Já no segundo núcleo museológico, a ruralidade é senhora e rainha: numa sala recria-se uma típica casa alentejana e nas restantes há um espólio dedicado ao trabalho agrícola, de campo e carpintaria, com exemplos de descascadores de milho, selecionadores de sementes, enxadas, ferros de marcar o gado e objetos em cortiça, fazendo-se proveito da matéria-prima que o montado oferece.

No Museu do Campo Alentejano, uma das salas recria uma típica casa rural alentejana. (Fotografias: Reinaldo Rodrigues/GI)

O museu homenageia a ruralidade e o trabalho no campo.

No Centro Interpretativo da Ordem de Avis, que aqui se sediou, conhece-se melhor a ordem e a história da vila.

O mesmo montado que povoa as redondezas de Avis e que se pode apreciar tanto do largo onde está situado o convento, como também do vizinho Jardim do Mestre. Trata-se de uma autêntica varanda panorâmica sobre a vila e os seus corredores de laranjeiras, perfeita para assistir ao pôr-do-sol, que se coloca atrás da curvilínea albufeira do Maranhão.

Este caudal de água, alimentado pelas ribeiras de Seda, Avis e Raia, também se avista de um dos terraços da CASA DA MOIRA, um conjunto de duas casas senhoriais no centro da vila, uma do século XVII e outra do XIX, que somam 11 quartos e suites com sala, lareira e tetos trabalhados que foram recuperados. Comum a todos são as áreas espaçosas e a elegância decorativa com que se alia a contemporaneidade de quadros e objetos a um lado mais tradicional – tapeçarias, móveis, cadeirões e espelhos antigos, sem esquecer o foco regional, como o mármore de Estremoz, e o conforto.

A Casa da Moira soma 11 quartos e suites espaçosos, no centro da vila.

O recente alojamento funciona em duas casas senhoriais vizinhas.

Nas zonas comuns ou nos quartos, aliam-se detalhes contemporâneos a uma inspiração rústica.

Em ambas as casas, situadas frente-a-frente no mesmo largo, existe um convidativo jardim com mesas e piscina exterior, onde se perde a noção das horas. É fácil perceber porque João Tenreiro e a mulher, Maria João, trocaram Cascais por Avis, há meia década. Já vinham passar férias com amigos nesta zona e por aqui ficaram, entretanto. Desde então que gerem este alojamento numa dinâmica familiar, onde existem também zonas de livraria, salas comuns e a possibilidade de se jantar na antiga cavalariça, hoje renovada e aconchegante, sob pedido prévio.

As duas unidades da Casa da Moira contam com jardim com piscina exterior.

João Tenreiro, proprietário da Casa da Moira.

 

Mesas novas e clássicas

Dos seus quarenta anos, os últimos vinte foram dedicados à cozinha, em algumas moradas desta zona. A paixão pelos temperos e sabores foi-lhe passada pela avó Margarida, que “cozinhava muito bem” e dá hoje os seus frutos, ou não tivesse Cristina Vieira aberto o seu primeiro restaurante há apenas dois meses. Incorporado em plena muralha medieval, a nova TABERNA DA MURALHA mantém-se fiel ao receituário tradicional alentejano, com produto da região, e aposta num ambiente mais intimista, até pela própria lotação de 28 comensais.

O bacalhau assado é uma das propostas da Taberna da Muralha, uma das novidades da vila.

O novo restaurante abriu há pouco tempo, inserido na própria muralha medieval da vila.

O porco preto grelhado com migas de espargos.

Ao visitante ocasional juntam-se já os repetentes, que vão seguindo as suas pegadas. “Para onde vou, vêm atrás da minha comida”, ri-se a dona e cozinheira, natural da aldeia vizinha de Maranhão. À mesa chegam clássicos como o porco preto grelhado com migas de espargos; os lombinhos com migas de coentros; açorda; sopas de cação e de tomate com enchidos; ovos mexidos com farinheira; torresmos; lulas grelhadas ou o bacalhau assado; sem esquecer o bife de vitela à Muralha, com molho de natas e especiarias. Há ainda os pratos do dia, de carne e peixe, mais acessíveis, que vão variando. O remate final faz-se pelas criações da própria, sem sair dos clássicos, como a sericaia com ameixa d’Elvas e as encharcadas – de noz ou de amêndoa.

Cristina Vieira, a chef e proprietária do restaurante.

O produto regional em foco na Taberna da Muralha.

A tradição é também o fio condutor da TASCA DO MONTINHO. Quem se fala em restaurantes na zona, este é certamente o que anda na boca de todos. O que tem sempre casa composta e público fidelizado. É assim há um quarto de século. Fica situado na aldeia de Alcórrego, às portas de Avis, e é gerido pelo casal Maria José – a cozinheira de mão-cheia da casa – e Joaquim Pexirra, que nasceu nesta própria rua e aqui herdou ainda uma mercearia do pai.

A cozinha tradicional alentejana é o pilar da Tasca do Montinho.

O restaurante fica situado às portas de Avis, na aldeia de Alcórrego.

Numa casa de traça tipicamente alentejana construída de raiz, decorada no interior com olaria local, chocalhos e quadros com cenários de montado, divide-se o público entre duas salas rústicas e uma esplanada. Migas de espargos com carne de alguidar; galo de cabidela; porco preto grelhado com migas de tomate; costeletas de borrego com migas de coentros; sopa de cachola; filetes de peixe-galo com arroz de tomate; perdiz estufada; ou bacalhau com espinafres são exemplos da prata da casa, antecedidas por petiscos como linguiça assada ou frita; um pratinho de paio; farinheira frita e queijo de ovelha. Quem ficar com a curiosidade aguçada, pode pedir para consultar o livro de receitas de Maria José e tirar umas notas.

Joaquim Pexirra lidera esta casa que já é um clássico na zona, com a ajuda da mulher na cozinha.

Os filetes de peixe-galo com arroz de tomate, outra das propostas da Tasca do Montinho.

 

Arte, ar livre e produtos regionais

Na parte baixa da vila, uma morada recente tem dado nas vistas, vendendo os produtos de Avis e do Alentejo. Na garrafeira e mercearia COISAS DE AVIS, aberta há ano e meio, há vinhos; azeites; doces de tomate, abóbora, morango ou frutos vermelhos; compotas de marmelo, ananás e manga; pastas de azeitonas; tostas; manteigas de mel com canela; aguardentes; enchidos e fumeiro, sem perder a perspetiva local e regional e os preços democráticos. À frente do espaço está um homem da terra, Jorge Traquinas, que quis colmatar a escassez de uma loja destas na vila. “A minha preocupação foi falar com os produtores locais e ter artigos de qualidade”, explica o dono. Curiosamente, o que mais se vende aqui é o mel multifloral produzido pelos próprios pais, José e Joaquina.

O mel local é um dos ex-líbris da mercearia e garrafeira Coisas de Avis.

No espaço existem vinhos, compotas, mel, aguardente, azeites, tostas ou enchidos.

Compras feitas, a visita pode seguir por vários caminhos. Na zona alta, é obrigatório subir à TORRE DA RAINHA, uma das três originais do castelo que ainda se mantêm, e do topo da qual se tem uma vista desafogada com uma amplitude que se chega a avistar a Serra de São Mamede. A cisterna comunitária e os seus morcegos também merecem uma visita, tal como a Igreja de São Bento – ambos sob pedido no Posto de Turismo – e a CASA DAS ARTES, um edifício renovado e multifunções que aloja uma exposição de arte gratuita do pintor Hélio Cunha, aulas de música e uma academia dedicada à tecnologia, para os mais novos. Fora do centro, mas ali perto, importa passar ainda pela PRAIA FLUVIAL DO CLUBE NÁUTICO, banhada pela albufeira do Maranhão, para beber algo na ampla esplanada que aqui está, abrigada por pinheiros e eucaliptos, ou até dar um mergulho e praticar desporto aquático. Para estas e outras sugestões, nomeadamente passeios pedestres e cicláveis, basta espreitar a recente app Your Travel Avis.

Subir à Torre da Rainha permite apreciar vistas panorâmicas sobre a vila e os cenários em redor.

A porta da muralha de Avis, que dá acesso ao principal largo da vila.

A Praia Fluvial do Clube Náutico de Avis.

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