Descer a uma mina, comer à beira-mar e comprar artesanato: o que fazer em Grândola este verão

O concelho de Grândola esconde pequenos tesouros que vale a pena descobrir, muito para lá da costa atlântica. Desde descer a uma antiga mina a conhecer o passado e futuro do artesanato local, ou provar vinhos que estagiam debaixo de água. Descubra o que há para ver, fazer, conhecer e provar em redor da Comporta.

O contraste da areia branca com a água azul turquesa cria uma paisagem constante a que é difícil resistir. Este cenário estende-se ao longo dos 45 quilómetros de frente atlântica do concelho de Grândola, entre a península de Troia e Melides, mas na Praia do Carvalhal parece ganhar maior atratividade. Foi para aqui que se mudou o RESTAURANTE SAL, ao fim de quase 11 anos no Pego, a 1,5 quilómetros a sul, vindo ocupar o espaço do também famoso “O Dinis”.

“Quisemos manter o mesmo espírito descontraído da casa original, que foi eleita em 2015 pelos leitores da Condé Nast o melhor restaurante de praia do mundo”, explica Vasco Hipólito, um dos sócios. Da sua coleção pessoal trouxe quase 80 embarcações de diferentes estilos, em pequena escala, para adornar a parte superior do balcão e preciosidades como um escafandro do século XIX e uma cabeça de proa ainda mais antiga. Boias, cordames, lanternas e outros objetos náuticos decoram, suspensos, o teto da sala.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

Mas a grande atração é, sem dúvida, a esplanada. Pampo, cantaril, cherne, corvina, dourada e mero são alguns dos peixes que podem ir para a mesa, grelhados, com batatas e legumes salteados. A pescaria chega todos os dias das lotas de Setúbal, Sines e de fornecedores locais. A sopa com cabeças e lombos de peixe e o arroz negro de choco também são especialidades. Nas entradas, a maré trouxe um novo ceviche, um carpaccio de camarão e um chuleton nacional maturado, para partilhar.

Nesta região, o mar também “dá” vinhos. Falamos dos Vinhos do Atlântico, feitos pela QUINTA DO BREJINHO DA COSTA, a 15 minutos de carro do Sal. Depois da vinificação na adega, mil garrafas são colocadas a 10 metros de profundidade ao largo da Ilha do Pessegueiro, em Porto Covo, onde ficam a estagiar durante um ano. “O biólogo marinho que acompanha o processo diz que existe uma aglutinação das moléculas do vinho que lhes permite acelerar a evolução”, diz Hugo Candeias, da área de enoturismo.

O ponto alto da experiência é fazer um batismo de mergulho naquele local e trazer uma garrafa de tinto ou branco com um rótulo esculpido pelas cracas e algas que a ela se agarraram. Nos solos arenosos, o mar também influencia a uva, graças à brisa marítima que lhe confere uma “película de mineralização”. A enóloga Marta Rosa trabalha com 15 castas divididas por 40 hectares e tem apostado cada vez mais nas estrangeiras, indo ao encontro do gosto do público “cada vez mais internacional”.

Na adega, qualquer pessoa pode provar vinhos de várias gamas, incluindo os muito conhecidos moscatéis, assim como fazer uma visita à destilaria onde produzem gin, medronho da Serra de Grândola e vinho destilado com algas do mar, entre outros produtos. Continuando a descer pela costa em estradas ladeadas por pinheiro-manso e montado de sobro, chega-se à pacata aldeia de Melides. Originalmente um porto piscatório, quando a barra assoreou a população virou-se para o artesanato de barro e rolhas de cortiça.

 

Velhos ofícios, novas abordagens

De facto, Melides foi um dos mais importantes centros de produção oleira da região. Disso dá conta o NÚCLEO MUSEOLÓGICO DA OLARIA DE MELIDES, aberto ao público em novembro após a recuperação da casa e oficina de Francisco de Matos Almeida, o último oleiro em atividade, até 2007. Desde o séc. XVIII, pelo menos, que o barro dava forma a uma pequena indústria. A exposição sobre o ofício, as mãos e os rostos que o trabalharam recupera esse património, com um toque tecnológico.

Muito diferentes das panelas, alguidares, púcaros e alcatruzes produzidos noutros tempos são as peças das três ceramistas residentes nas OFICINAS DE CERÂMICA, uma extensão viva do museu. “Fazer cerâmica é muito meditativo”, considera Luísa Benedy, que começou a modelar barro em casa quando a pandemia a impediu de organizar eventos empresariais. Aprendidas as técnicas básicas e somados alguns workshops, criou a marca Mona_Estudio, de venda de peças decorativas ou utilitárias, em grés e porcelana. Saboneteiras, taças e peças de joalharia como brincos e anéis inspirados em formas naturais. “Ainda estou a tentar encontrar o meu lugar”, reconhece. Noutro ponto da oficina trabalha Clémence Thiollier, francesa que diz ter encontrado no Alentejo “pessoas muito tranquilas”. Sentada numa roda de oleiro elétrica, também produz peças decorativas e utilitárias, em barro vermelho que, tal como as de Luísa, refletem a estética e funcionalidade que a olaria mantém.

 

Descer a uma mina

No concelho de Grândola, o turismo industrial ganha maior expressão no CENTRO DE CIÊNCIA VIVA DO LOUSAL – MUSEU MINEIRO. Situado naquela que durante 88 anos foi uma aldeia mineira, é um recreio cultural por excelência para as famílias. O ponto alto é a Galeria Waldemar, um percurso com 280 metros de extensão a 35 metros de profundidade, que permite conhecer os antigos paióis e a evolução da tecnologia mineira desde a entivação em madeira até ao betão armado.

O acesso à galeria – onde uma colónia de 11 mil morcegos permite falar também de biologia – é feito por um passadiço ao longo da antiga zona de exploração mineira, onde saltam à vista duas lagoas ácidas, uma delas vermelha. “A água é vermelha porque o ferro que existe naturalmente na rocha oxida em contacto com o oxigénio”, explica o engenheiro químico João Costa. O local tem placas informativas e acesso livre, mas as visitas guiadas ao sábado e domingo são a melhor forma de o conhecer, pois fornecem todo o contexto histórico.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Entre 1900 e 1988, a mina do Lousal foi usada para extrair pirite, um minério rico em enxofre que era depois transformado para produzir adubos. No pico, deu trabalho a 2500 homens, cujas famílias residiam na aldeia, à época dotada de escola primária. Após o encerramento da mina, a Fundação Frédéric Velge recuperou os edifícios, convertendo a central elétrica no Museu Mineiro (que deverá reabrir no último trimestre deste ano), o armazém central num restaurante e a casa da administração num hotel boutique com 11 quartos.

Apesar de a galeria e a paisagem ferida da corta mineira serem as áreas com maior impacto para os visitantes, o complexo não se deixa visitar em pleno sem a ida ao Centro de Ciência Viva, que aborda várias áreas do saber a partir do tema “Georecursos”.


Tranquilidade minimalista no Sobreiras Alentejo Country Hotel

Imerso nos 25 hectares da Herdade do Vales das Sobreiras, na freguesia de Santa Margarida da Serra, em plena serra de Grândola, este hotel gerido pela Unlock Boutique Hotels é um refúgio para quem procura dias de descanso na natureza. Tem 24 quartos e suítes decorados de forma minimalista, em consonância com as casas do Alentejo, mas a grande novidade são as duas villas já disponíveis para reservas, a que se somarão outras oito nos próximos anos. Além de piscina privada, as T3 têm sala de estar, cozinha equipada e estacionamento próprio. No recinto do hotel funcionam também uma piscina “infinita” e um restaurante e bar que terá nova carta de comidas ao almoço e ao jantar. Há ainda campos de padel e ténis e várias bicicletas de uso livre na herdade, cuja paisagem é dominada por montado de sobro.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.



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