As novidades que refrescam os bairros tradicionais de Lisboa

Chef António Amorim, do Puro MX. (Fotografia de Pedro Rocha/GI)
No mês em que a capital está em folia constante, a reboque do Santo António, há novas casas a revigorar alguns dos seus bairros tradicionais. Alfama reforça-se com sabores mexicanos e o receituário petisqueiro, a Madragoa está mais florida, a Bica pisca o olho ao ceviche e a Graça vai ao baile com cocktails de autor e empanadas.

A música popular portuguesa que ecoa pelas ruelas de Alfama indicia a chegada em força dos Santos Populares e do habitual junho festivo na capital, mas o quadro com o retrato de Frida Kahlo, numa das paredes do novo Puro MX Taqueria Mexicana, transporta-nos para outras altitudes. Um projeto natural no caminho do chef António Amorim, dono dos lisboetas Puro e Fábrica Pastel de Feijão, cujo currículo soma moradas de sabores mexicanos – o Guaka e o El Clandestino.

“Sempre gostei muito desta cozinha”, explica o chef portuense, que esteve cinco meses no México a explorar a comida de rua e de autor. Com o apoio de dois cozinheiros de Monterrey, no novo restaurante de Alfama serve 13 variedades de tacos (desde quatro euros), com tortilhas artesanais, a maioria de milho branco, feitas diariamente por um produtor em Sintra. Entre os destaques está o barbacoa (churrasco de carne cozido lentamente), o chicharron em salsa verde (entremeada), o clássico Al Pastor (porco marinado, cebola, coentros e ananás), dois vegetarianos e um taco de sobremesa (de cheesecake de maçã).

Há 13 variedades de tacos na nova taqueria de Alfama. (Fotografias de Pedro Rocha/GI)

O chef António Amorim tem dois cozinheiros mexicanos no Puro MX.

Ao longo da semana, as promoções não faltam na taqueria onde cabem 14 comensais. Todas as quartas, os tacos ficam mais baratos (menos um euro), às sextas há promoção de três tacos e uma imperial a dez euros, aos domingos oferece-se um taco barbacoa na compra de outro e todos os dias há happy hour, das 14h às 17h, com duas margaritas a preço de uma. Para brindar à mesa ou ao balcão de madeira, envernizada pelo próprio chef.

O clássico taco Al Pastor é uma das opções da carta.

Mas há mais novidades a fervilhar no bairro que é o epicentro dos festejos, por estes dias. Francisco e Miguel Tonnies são dois irmãos com raízes alentejanas, desde cedo ligados à restauração. Já são donos do Li28oa, junto à Calçada da Amália, e abriram recentemente o Discreto, uma taberna moderna que aposta nos sabores clássicos, com algumas técnicas mais complexas. “Sempre fomos apaixonados por comida. O Discreto é como se fosse a nossa casa, com comida bem feita e sem pretensiosismos”, explica Francisco, que mantém aqui uma dinâmica familiar, com a ajuda da mãe, Teresa.

À mesa chegam pastéis de bacalhau com maionese picante (2,4 euros) e o fiel amigo serve-se também fresco, alimado com piso de coentros, cebolada e folhas crocantes de arroz (7,5 euros). Na carta há espaço para petiscos como pataniscas de polvo (nove euros), camarão ao alhinho, a sandes de borrego desfiado em bolo lêvedo açoriano (dez euros), risoto de abóbora e espargos (doze euros), piano com migas de tomate (catorze euros) ou o arroz de coelho (quinze euros), entre outros.

O Discreto é um dos recentes reforços da restauração de Alfama. (Fotografias de Gerardo Santos/GI)

O receituário dos petiscos é um dos alicerces da carta.

O remate faz-se com clássicos como toucinho do céu, pudim Abade de Priscos e a mousse de chocolate com frutos secos e azeite, emparelhados à refeição por 24 referências vínicas ou pelo cocktail da casa, o Indiscreto (aguardente, café, clara de ovo e chocolate em pó). O edifício é da era pombalina e come-se em redor das arcadas e pilares originais, vestígios de uma Lisboa de outros tempos.

A feijoada de polvo é um dos pratos da casa.

O toucinho do céu, uma das sobremesas do Discreto.

Francisco Tonnies, um dos dois irmãos responsáveis pelo Discreto, com a mãe Teresa.

Empanadas e cocktails cheios de Graça

Os avós de Gaston Costa, naturais de Olhão, emigraram para a Argentina há 100 anos. Há dois anos, o argentino fez o caminho inverno, mudando-se para cá com a namorada, a colombiana Carolina Cifuentes. Na bagagem trouxeram o negócio criado há uma década, dedicado a um dos clássicos da cozinha argentina, e inspirada na receita da mãe e avó de Gaston.

Na mais movimentada rua da Graça, abriram agora o Empanadas Mi Buenos Aires Querido, depois da fábrica em Campo de Ourique e dos espaços nos centros comerciais das Amoreiras e Vasco da Gama. A massa fina de trigo é feita de forma artesanal e os recheios são variados (2,5 euros cada): uma dezena à escolha, desde maçã e queijo azul; carne doce (vitela, cebola caramelizada e sultanas); frango; caprese (queijo, tomate e manjericão); Argentina (a clássica, de vitela, azeitona e ovo) ou a carne piripiri (semelhante à clássica, mas picante).

Há uma dezena de recheios na Empanadas Mi Buenos Aires Querido. (Fotografias de Reinaldo Rodrigues/GI)

O projeto nasceu há uma década e tem agora uma nova loja, na Rua da Graça.

Por dia, fabricam cerca de 500 unidades, que podem ser saboreadas na loja ou levadas para casa, estando prontas depois de aquecer. Marcados no chão do espaço, onde também se vendem cervejas, vinhos e bombons argentinos, estão os passos para se aprender a dançar o tango, um padrão habitual pelas ruas de Buenos Aires.

Gaston Costa e Carolina Cifuentes são os responsáveis pela casa de empanadas.

A poucos metros dali, junto ao Miradouro da Graça e ao largo onde se vai dançar noite fora, Carolina Faria e Miguel Gomes colocam em prática a paixão comum pela mixologia. Ela é carioca (com família materna em Setúbal e Oeiras) e ele é de Santa Catarina, mas conheceram-se em Lisboa, por amigos comuns. Viveram ano e meio na Austrália, onde se formaram em bartending, antes de abrirem o recente Ar D’Graça. “Queríamos conhecer o mundo, essa curiosidade também nos aproximou”, explica Carolina.

Há oito cocktails de autor na carta do recente Ar D’Graça, na Graça. (Fotografias de Rita Chantre/GI)

Miguel Gomes e Carolina Faria são os responsáveis pelo bar de cocktails da Graça.

A aposta em destilados nacionais e em produtos locais são os pilares do bar, que soma 25 lugares e outros 16 na esplanada. Na carta, há cocktails de autor para todos os gostos, entre as oito criações da casa (desde oito euros). O Ar D’Graça (gin, vermute, lima, clara de ovo e framboesa), o Frescor de Maracujá (vodka, licor de maracujá, água tónica e hortelã), Ilha da Canela (rum madeirense, sumo de maçã, mel e canela fumada) e o Ginja Espresso (vodka, licor de ginja, baunilha e café, uma versão do martini espresso) são alguns exemplos.

Pelo espaço – inserido num edifício que sobreviveu ao terramoto -, estão expostos quadros de artistas nacionais, que podem ser comprados. O verão avizinha-se animado por aqui, entre workshops de elaboração de cocktails e as noites de quizz, todas as quartas.

Os destilados portugueses são um dos pilares da casa.

O Ar D’Graça fica junto ao Miradouro da Graça.

Madragoa mais perfumada

Esteve ligada à moda, mas o interesse pela botânica brotou cedo, na infância em Florianópolis. “Em criança, já fazia arranjos nos jardins de casa da minha mãe, avó e tias”, explica Priscila Alves Ribeiro, dona da Embaixada das Flores, que se mudou agora para o coração da Madragoa, pela necessidade de um espaço maior e mais perto de casa, depois de duas moradas no Príncipe Real.

Todas as semanas, há espécies novas a perfumar a florista, mas é habitual ver-se orquídeas, peónias, hortênsias, margaridas ou beijinhos de mãe, nas flores secas; lavandas ou rabos de coelho nas secas. Priscila faz ramos predefinidos ou personalizados em sete tamanhos diferentes (desde os catorze euros) e podem ser colocados em caixas-presente, com macarrons e brigadeiros. As plantas de interior também se vendem na loja – espadas de São Jorge, estrelícias, manjericos e monsteras, entre outras -, além da cerâmica de artesãos nacionais e internacionais, que chegam de lugares como Provença e Redondo, ou velas que a própria faz.

A Embaixada das Flores é a nova florista da Madragoa. (Fotografias de Rita Chantre/GI)

Priscila Alves Ribeiro, responsável, tem uma paixão por flores e plantas desde criança.

A última novidade é a secção de roupa feminina, a piscar o olho à anterior ocupação de Priscila, que tem avô português, de Castanheira de Pera. Já a decoração, foi pensada para “que quem nos visite, fique e venha com tempo”, dos sofás forrados a motivos florais ao gira-discos que coloca a música ambiente. A proprietária elogia “o ambiente familiar” da Madragoa, mas é a própria que também o ajuda a criar: ao fim da tarde, coloca num vaso exterior as flores que já não vai utilizar, que qualquer pessoa pode levar para casa.

A Embaixada das Flores também vende cerâmica nacional e estrangeira.

O ceviche que refresca a Bica

Matías de Araújo é chileno mas cresceu influenciado pelos sabores do vizinho Peru. Foi em Berlim que conheceu a namorada, a luso-alemã Katharina Goyke, e mudaram-se recentemente para Lisboa. Na Bica, abriram um espaço dedicado ao rei da cozinha peruana. No Choclo, há cinco versões de ceviche (desde 8,90 euros, entre estes o clássico, com peixe branco do dia, vindo do Mercado da Ribeira, leite de tigre, milho peruano e batata-doce), mas também petiscos e pratos quentes, como o arroz de marisco típico do norte do Peru, com base de coentros, polvo, camarão e lula. Há cocktails à base de pisco, vinhos e cervejas peruanas, para provar à refeição ou fora desta, ao balcão ou junto à janela onde se avista o Elevador da Bica no seu sobe-e-desce habitual.

O casal responsável pelo Choclo. (Fotografias de Reinaldo Rodrigues/GI)

Há várias versões de ceviche no Choclo.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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