Algarve no inverno. Dos restaurantes aos bares, dos hotéis às lojas

Tavira-13/10/2016- Reportagem na cidade de Tavira . (Paulo Spranger/Global Imagens)
Das camas que vão nascendo aos sabores ecléticos que reforçam a gastronomia local, passando pela mixologia que agita a região e as fornadas de pastelaria que adoçam o palato, o Algarve vai mexendo para rejeitar o rótulo sazonal. De Loulé a Tavira, atravessa-se a costa para conhecer novos e renovados locais para se estar com tempo, nos meses frios.

Novidades em Loulé, da pastelaria à nova vida de um café histórico

A reabertura do mais icónico café da cidade, com legado centenário e cara lavada, e uma nova casa inspirada na pastelaria francesa são motivos para rumar ao centro louletano.

Café Calcinha, Loulé. (Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Pelas paredes do espaço, há fotografias a preto e branco que testemunham o legado desta casa centenária e a própria evolução da sociedade, com registos de noites de bilhar, tertúlias e jantares entre ilustres ou da primeira mulher que aqui entrou. Na esplanada à entrada, mantém-se a estátua em bronze do poeta António Aleixo (frequentador assíduo, tendo passado a última parte da sua vida em Loulé), sentado de perna cruzada, mas o CAFÉ CALCINHA, o mais icónico café louletano, reabriu agora de cara lavada e nova gerência, depois de vários meses fechado.

Há uma década que é considerado Imóvel de Interesse Municipal, faz também parte da Rota dos Cafés com História de Portugal, criada em 2016, mas a sua vida começou em 1929, quando abriu portas. A fachada com colunas trabalhadas mantém-se a mesma, e no interior chega muita luz natural, entre paredes em tom salmão, plantas vistosas e madeiras escuras.

Nesta nova etapa, funciona como cafetaria e restaurante, mas também palco de agenda cultural, entre música ao vivo, clubes de leitura, gravações de podcasts ou sessões de poesia, por exemplo. “A recetividade dos louletanos tem sido total. Todos os dias me contam memórias ligadas a esta casa”, conta Fernando Silva, que gere o Calcinha em dinâmica familiar, com o filho Ricardo Vaz e a companheira, Sara Carvalho. Com o nascimento do filho mais novo, largou a sua Invicta, que “adora”, mas à procura de uma vida mais calma, fora das grandes urbes. Fixou-se em Loulé, onde já detém o 8100 Café.

O Café Calcinha reabriu no início deste ano. (Fotografias de Paulo Spranger/GI)

Além da oferta de cafetaria e pastelaria, há menus de almoço acessíveis.

Ainda assim, trouxe a francesinha para a carta do Calcinha (a tradicional e uma vegetariana), às quais se juntam torradas e tostas em pão de fermentação natural, bifanas, artigos de pastelaria (folhado de Loulé, pastéis de natas, croissants, etc), chocolates quentes, sumos naturais, bolos à fatia e o café torrado na própria casa, do Brasil, Etiópia e Colômbia, que perfuma o Calcinha a ritmo constante. Aos almoços, há sempre pratos do dia, como sopa de couve-flor com caramelo e queijo; feijoada de tamboril; cogumelos recheados; açorda de marisco ou o cozido à portuguesa, este último aos domingos.

“Os espaços podem ser importantes, mas quem faz os espaços são as pessoas”, explica Fernando Silva, empenhado em “colocar Loulé no mapa”. A partir de maio, o horário vai alargar e o Café Calcinha vai passar a abranger também jantares e bebidas noite fora, onde ganharão protagonismo cocktails clássicos e cerveja artesanal algarvia.

Fernando Silva e o filho, Ricardo Vaz, são os responsáveis pelo espaço.

A estátua de António Aleixo, na esplanada do café.

Subindo a Praça da República, os olhos voltam-se quase sempre para o seu mais vistoso inquilino, o Mercado Municipal de Loulé, construído há quase 120 anos e remodelado algumas vezes desde então, mantendo, ainda assim, os seus quatro pavilhões e outros tantos portões, com estilo neoárabe. Além das compras diárias de peixe, carne e frescos, acolhe iniciativas como a Feira do Chocolate. E por falar em doce, o passeio continua a poucos metros dali, noutro reforço recente do centro louletano.

Liliana Varela é transmontana, nasceu em Mirandela, mas foi para os arredores de Paris ainda bebé, com os pais. Foi em França que conheceu o companheiro, Stephane da Costa, também filho de portugueses. Ela trabalhava num escritório e ele num restaurante, mas com a chegada das duas filhas, o casal decidiu mudar de vida e escolher um destino mais soalheiro. Foi em Loulé que abriram a pastelaria L’ATELIER GOURMET, onde diariamente se aposta na produção artesanal.

“Já gostava de pastelaria, fazia bolos e coisas mais básicas em casa. Comecei a aperfeiçoar o conhecimento e aprendi tudo sozinha. Aliás, ainda hoje, estamos sempre a aprender coisas novas”, explica Liliana. Nas montras deste espaço, inspirado na pastelaria francesa, ao longo da manhã e da tarde desfilam fornadas frescas de croissants folhados, pain au chocolat, viennoise simples e com chocolate, brioches folhados, bolachas com chocolates variados e manteiga de amendoim, tarteletes, variedades de Paris-Brest e éclair, brownies de caramelo salgado e bolos maiores, como o mil-folhas de morango e framboesa.

Liliana e Stephane são os donos da recente pastelaria L’Atelier Gourmet.

Os croissants são um dos produtos-estrela da casa.

Os produtos usados são todos nacionais e locais (como é o caso das frutas, dos morangos às framboesas, por exemplo), com exceção da manteiga extra-seca francesa, “que faz diferença no sabor dos folhados” e do chocolate francês. E a criatividade fá-los mudar as produções a nível ritmado, numa dinâmica familiar que resulta. “O que ele gosta de fazer, eu não gosto, e vice-versa”, ri-se a proprietária, de 35 anos. Num dia de fim de semana, é normal fabricarem-se entre 200 a 250 croissants. “Vendemos sempre tudo o que temos na montra”, acrescenta Liliana, antes de mostrar a tranquila esplanada que se situa nas traseiras.

Aqui, também se personalizam bolos de aniversário, numa casa decorada a lembrar as pâtisseries francesas, Além do estilo romântico de mesas e cadeiras, há balanças e cafeteiras antigas, livros e revistas de pastelaria, além dos pacotes que se compram para se fazer bolachas e fondant de chocolate em casa, já com todos os ingredientes precisos.

Todos os dias, há bolos, bolachas e folhados na montra da pastelaria.

A poucos metros dali, vale a pena passar pelo JARDIM DOS AMUADOS, junto à Igreja Matriz e construído, no seu limite oeste, sobre a muralha do Castelo de Loulé. O nome tem origem em referências populares, pelo facto dos bancos do jardim estarem posicionados em pares, costas com costas. Entre arvoredo alto e canteiros relvados, chega-se ao miradouro panorâmico que aqui existe, do qual se avista a fortaleza e parte da cidade louletana.

O mercado municipal louletano.

O Jardim dos Amuados, um espaço verde junto à Igreja Matriz.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 


Entre Faro e Olhão, por novas mesas e camas recentes

Um novo restaurante na marina farense, aos pés da Ria Formosa, e a aposta biológica de uma mercearia a granel são razões para rumar à capital algarvia. No centro cubista de Olhão, descansa-se entre camas recentes, um rooftop panorâmico e mesas que homenageiam a cestaria.

Pure Formosa Concept Hotel, Olhão. (Fotografia de Paulo Spranger/GI)

A localização privilegiada é evidente, em plena Marina de Faro, junto ao centro histórico, ao Jardim Manuel Bívar e a dois passos do castelo, e a vista panorâmica faz-se da primeira fila, para a Ria Formosa. “O espaço estava degradado, mas assim que subi as escadas e vejo esta vista, vi logo o potencial”, explica Cláudio Mocho, dono do AMURA, o recente restaurante situado no topo do edifício do Ginásio Clube Naval de Faro, aberto desde setembro.

Está ligado à área do fitness, mas já tem experiência na restauração farense há seis anos. O viveiro de lavagantes e sapateiras e a banca de gelo com o peixe e marisco algarvios do dia desvendam, logo à entrada, a inspiração da cozinha, em combinação com a inspiração marinha do espaço luminoso, entre tons de azul e branco e quadros com motivos náuticos.

O Amura é o novo inquilino da Marina de Faro. (Fotografias de Paulo Spranger/GI)

O polvo com puré de batata-doce é um dos pratos do Amura.

Entre sala, esplanada e a zona privada para refeições mais intimistas (até oito pessoas), conseguem sentar-se 90 comensais. Entre as especialidades estão os tentáculos do tenro polvo com tomilho e puré de batata doce com canela; o arroz malandrinho de lingueirão da ria com açafrão e coentros; a clássica cataplana algarvia; ou a massa de peixe com camarão. Mas também há petiscos como ostras salada de polvo; camarão à Guilho; ceviches ou camarão-tigre na grelha, para acompanhar com pão e broa artesanais e as mais de 40 referências vínicas.

À despedida, há opções como panacota com molho de maracujá e o folar de Olhão com gelado de lima, por exemplo. Para provar sem pressas, já que o espaço não fecha entre refeições. “Queremos fugir ao rótulo sazonal”, conta Cláudio. A ajudar a isso está o novo terraço, que abre em breve mesmo ao lado, que trará bebidas e petiscos durante o por do sol e noite fora.

Mar e ria são dois dos principais pilares da carta do novo restaurante de Faro.

A vista para a Ria Formosa, da esplanada.

A sala mais intimista, pensada para pequenos grupos, com vista para a marina e a ria.

Na mesma cidade, também Sara Barão Teixeira arriscou ao criar a “primeira mercearia a granel de Faro”. É lisboeta mas rumou a sul para se formar em Biologia. Na RETRATOS D’ALDEIA, continua a zelar pela educação ambiental, mas de outra forma. “Foi um voltar às origens. Quis ter um espaço sustentável, que estimulasse as pessoas a ter uma vida mais ecológica, com oferta para todos, acessível a todos”, conta a proprietária, de 33 anos. Pela mercearia, desfilam produtos biológicos e artesanais, quase todos nacionais e muitos destes locais.

Sara Barão Teixeira é a responsável pela mercearia Retratos d’Aldeia.

Venda a granel e foco nos produtos biológicos, veganos e naturais são a espinha dorsal da mercearia.

Queijos veganos de Aljezur, pão de fermentação lenta e natural de Loulé, biscoitos de Faro e São Brás de Alportel, mel alentejano, café a grão e torrado, conservas de Olhão, bolachas de Oeiras sem glúten e manteigas veganas da Costa Vicentina são alguns dos produtos que aqui se vendem. A estes juntam-se cereais, sementes, frutos secos, compotas, chocolates biológicos, leguminosas, especiarias e gomas veganas, além dos cabazes de fruta e legumes (pré-feitos ou personalizados) que se podem comprar todas as quintas-feiras.

A Retratos d’Aldeia também vende cabazes de frutas e legumes, todas as quintas-feiras.

Camas e mesas recentes em Olhão

Os tons azul-petróleo, verde salino e terracota, que ajudam a dar cor aos 67 quartos singles e duplos do PURE FORMOSA CONCEPT HOTEL, aberto há ano e meio, prestam homenagem às paisagens das salinas de Olhão e da Ria Formosa. Na cidade cubista algarvia, este é um dos mais recentes reforços da hotelaria local, pelas mãos de dois irmãos olhanenses, Bruno Siragusa e Pedro Loreto dos Santos.

Situado a dois passos da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, o hotel deu nova vida ao local onde funcionou uma antiga serralharia. Os quartos, com bastante luz natural e aposta nas madeiras claras, têm vista para a cidade e alguns têm varanda. Nas zonas comuns, onde coabitam obras em macramé, painéis de cerâmica e cadeirões em vime, há espaço para a sala de pequenos-almoços, área de leitura, zona de bar e petiscos e um pátio abrigado onde apetece sentar à conversa ou a ler um livro.

O Pure Formosa Concept Hotel soma mais de seis dezenas de quartos.

O rooftop do hotel, com vista para a cidade, a Ria Formosa, a serra e as ilhas mais próximas.

Ainda assim, o ex-líbris está no piso mais alto: um terraço com bar e uma piscina exterior rodeada de espreguiçadeiras. Enquanto se saboreiam os cocktails de autor da casa (como o Formosa Cocktail, com gin, melancia, lima e hortelã), é possível avistar-se, de forma desafogada, o centro histórico, a ria, a serra algarvia e as ilhas mais próximas, como a Culatra e a Armona.

O hotel abriu há um ano e meio no centro de Olhão.

A vista panorâmica do terraço, onde também está uma piscina exterior.

O passeio prossegue ali perto, com uma caminhada pela zona da marina, e passando pelo Mercado de Olhão, um conjunto de dois edifícios centenários de fachada em tijolaria, que se tornaram num dos principais postais olhanenses. Ainda hoje, é aqui que se compra peixe, carne, frescos e produtos regionais, durante a manhã.

O Mercado de Olhão.

É à frente do mercado que nasceu o CESTARIA, novo restaurante de Olhão que vem aplaudir as raízes algarvias na cestaria em palma. Não só no nome, mas em toda a decoração, do céu de 92 cestas que veste o teto de uma das salas (feitos artesanalmente por mãos algarvias, em parceria com a Loulé Criativo) ao revestimento de jarras ou aos cestos que trazem pão e entradas à mesa.

“Quis ir às nossas origens. Antigamente, vinha-se às compras ao mercado com cestas para levar legumes, peixe, marisco, etc. Quis homenagear os artesãos, e que essa cultura não fosse perdida”, explica Joseph Viegas, proprietário de 33 anos, que nasceu nos EUA, mas a viver em Olhão desde os dois anos, quando os pais voltaram à terra-natal. Ele próprio apelida os elementos da sua equipa no restaurante de artesãos.

Os rissóis da Ria Formosa (polvo, lingueirão e berbigão) e a maçã gratinada com queijo chèvre e mel da Serra do Caldeirão, duas das entradas do Cestaria.

O lombo de bacalhau em crosta de amêndoa, com puré de batata-doce e lima, uma das especialidades do novo restaurante de Olhão.

A decoração presta homenagem à arte da cestaria.

Na carta, o peixe e marisco vem todo da costa algarvia, exceto o bacalhau, e as carnes maturadas são de raças portuguesas DOP (com mais de uma dezena de cortes). Entre as especialidades estão o camarão-tigre grelhado no josper com manteiga de jalapeños e arroz; o tachinho de bochechas de porco ibérico estufadas em vinho tinto; o lombo de bacalhau com meia-cura em crosta de amêndoa, com puré de batata-doce e lima; ou a carbonara de muxama de atum com linguini nero.

Nas entradas – estes petiscos também se servem entre refeições -, destaque para o trio de rissóis da Ria Formosa (polvo, lingueirão e berbigão, bem recheados e nada oleosos); carpaccio de novilho com avelãs; ou a maçã gratinada com queijo chèvre e mel da Serra do Caldeirão; não se esquecendo os clássicos: pica-paus, amêijoas à Bulhão Pato e saladas de polvo da vizinha Santa Luzia, capital deste molusco.

O tachinho de bochechas de porco ibérico em vinho tinto.

O produto algarvio mantém-se firme nas sobremesas, como exemplificam o folhado de Dom Rodrigo ou a tarte de amêndoa. Já a zona de enoteca ilumina as dezenas de vinhos para acompanhar, com holofote especial nos algarvios. O feedback não podia ser melhor. “Não esperava tanto sucesso em tão pouco tempo”, conta o dono (também proprietário do vizinho mexicano Halo Torito), com casa composta em dias úteis e de descanso. “Olhão está cada vez mais na moda”, explica.

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Cozinha com selo Bib Gourmand e cocktails inspirados em Pessoa, em Tavira

Na cidade onde nasceu Álvaro de Campos, banhada pelo Gilão, há novidades para conhecer, das mesas recém-distinguidas com o selo Bib Gourmand, da Michelin, aos novos cocktails de autor inspirados em Fernando Pessoa.

Ofélia, Tavira. (Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Nasceu em Lisboa, mas foi no Algarve que se formou e deu os primeiros passos na cozinha, passando por cozinhas Michelin como as do Ocean, no Vila Vita Parc, e do Vila Joya. Depois de ganhar mundo em locais como Paris, Salvador da Bahia e Macau, regressou ao Algarve. “Vim de férias e acabei por ficar. Queria tranquilidade, uma vida mais calma. A vida na cozinha já é demasiado agitada”, explica João Dias, chef que lidera o restaurante À MESA, no centro de Tavira, junto à Igreja do Antigo Convento de Nossa Senhora da Ajuda.

O espaço abriu há três anos, mas ganhou recentemente uma razão extra para uma visita: foi uma das sete novas entradas na lista Bib Gourmand do Guia Michelin 2023, que distingue as casas com melhor relação preço-qualidade. “É algo que sabe bem, é o reconhecimento do nosso trabalho. No dia seguinte [à distinção], sentimos logo uma maior procura do público”, adianta o chef, proprietário deste restaurante [e também do vizinho A Ver Tavira, detentor de uma estrela Michelin] ao lado do chef Luís Brito.

O chef João Dias lidera a cozinha do À Mesa, no centro tavirense.

O salmonete da costa algarvia com molho de fígado do mesmo, arroz de limão, crocante de tomate e alface-do-mar.

Ao almoço, aposta-se nos pedidos à carta. Ao jantar, brilha o menu de degustação, que chega descrito dentro de uma caixa com conchas, que chega à mesa no interior deste espaço centenário (do qual ainda se mantêm paredes em pedra) ou na esplanada, onde se somam 50 lugares. O produto local e sazonal é o denominador comum a ambos. “Faz toda a diferença ao nível da proximidade e da confiança”, diz João, que ganhou o gosto pela gastronomia a observar, provar e ajudar nos temperos da avó paterna Lucília, com “uma mão fantástica para a cozinha”.

O restaurante À Mesa foi uma das novas entradas na lista Bib Gourmand, no Guia Michelin 2023.

A “falsa” pera bebeda da casa, feita com chocolate.

O menu arranca com os aperitivos do chef (um trio de finger food composto por tártaro de beterraba, tártaro de atum crocante e crocante de migas com cogumelo e trufa), e salta entre mar, ria, terra, horta e pomar, com pratos como as ostras da Ria Formosa e texturas de framboesa; o salmonete da costa algarvia com molho de fígado do mesmo, arroz de limão, crocante de tomate e alface do mar; ou o pato a baixa temperatura com laranja e gengibre. A harmonização vínica faz-se pelas mãos do sommelier José Balicha, entre as cerca de 120 referências da casa, expostas nas câmaras refrigeradoras da sala ou na cave, para a qual se espreita através de um vidro no chão.

José Balicha, sommelier do À Mesa.

A paixão de Fernando Pessoa

No centro desta cidade, que é um dos locais mais procurados para dias de descanso no sotavento algarvio, há mais sangue novo a correr pelas veias de Tavira. Do À Mesa, partimos para a outra margem do Rio Gilão, passando pela obrigatória Ponte Velha, apoiada nos seus famosos sete arcos, e cujas primeiras referências remontam ao século XIII.

A Ponte Velha tavirense.

Situado na frente ribeirinha, o OFÉLIA COCKTAIL & ART BAR veio reforçar o mundo da mixologia por estes lados, inspirado na obra literária de Fernando Pessoa – ou não fosse um dos seus heterónimos, Álvaro de Campos, natural de Tavira – e em Ofélia Queiroz, que ficou conhecida como a única namorada do gigante da literatura nacional.

O espaço intimista e descontraído, que abriu no verão do ano passado, não descura a decoração temática, com figuras de Pessoa e Ofélia em luzes néon, prateleiras com alguma da bibliografia do poeta, um quadro-retrato pintado à sua imagem, quadros com excertos dos seus textos e até na forma dos candeeiros, a imitar os chapéus pretos que Pessoa costumava usar. O algarvio Márcio Gonçalves [que também lidera o gastrobar Come na Gaveta, também em Tavira] é o dono do bar, que nasceu da “sua paixão pela obra de Pessoa”, conta André Teixeira, gerente. “Este bar veio trazer algo diferente à cidade, não havia grande oferta para aquele período entre um jantar e uma ida à discoteca”, diz o mesmo.

O Ridículo é um dos cocktails de autor do Ofélia.

Fernando Pessoa inspira a decoração e a carta do bar.

Sentado nos sofás aveludados ou ao balcão, onde se lê a frase “O homem é do tamanho do seu sonho” em letra garrafais, escolhe-se entre seis cocktails de autor, sempre batizados e inspirados em poemas de Pessoa. O Tabacaria, uma reinterpretação de um Old Fashioned, homenageia o poema homónimo e junta bourbon, vermute russo e xarope de framboesa; o Ridículo, por exemplo, que bebe inspiração em “Todas as Cartas de Amor são Ridículas”, leva rum e banana caramelizada, é quase um “cocktail-sobremesa” e é o mais vendido da casa. Para quem preferir os mocktails, tem o Ophelina, com puré de morango, chocolate e Sprite.

Todos os meses há um cocktail novo que destacam, e onde aproveitam para testar coisas diferentes. A carta vai duplicar em breve e a agenda cultural faz-se a ritmo constante, com música ao vivo e recitais de poesia – basta estar atento às redes sociais. Para acompanhar, há tábuas de enchidos e queijos e outros petiscos, enquanto se folheia uma das obras de Pessoa.

Os retratos do escritor e de Ofélia Queiroz, a única namorada conhecida de Pessoa.

Os ponteiros do relógio movem-se a passo largo e o fim de tarde aproxima-se. Motivo mais do que suficiente para subir ao topo da cidade, para aproveitar o por do sol no JARDIM DO CASTELO, rodeado pelas muralhas da fortaleza que começou a ser construída por muçulmanos entre os séculos X e XI. Aqui, é a botânica que nos faz companhia, passeando-se entre metrosideros, anáguas-de-vénus, malvaviscos, jacarandás, figueiras e loendros. Já a vista panorâmica é ampla e faz-se sobre o Rio Gilão, a Ria Formosa e o centro histórico.

O Jardim do Castelo de Tavira tem vistas panorâmicas sobre a cidade, a Ria Formosa e o Rio Gilão.

Uma nova exposição fotográfica

Perto do castelo e do seu jardim, há uma nova exposição para conhecer, disponível até 1 de abril. Chama-se “Cores”, é da autoria do fotojornalista Fernando Ricardo, que mostra a sua passagem por destinos como Bilbau, Berlim, Paris, Valência, Nova Iorque e Brasil. A exposição fotográfica está no Palácio da Galeria, um dos núcleos do Museu Municipal de Tavira e mostra ângulos diversos das suas viagens, da arquitetura contemporânea a retratos de povos indígenas.

O Palácio da Galeria tem uma nova exposição.

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Hilton Vilamoura: aos 16 anos, um cinco estrelas revitalizado

Década e meia depois do Hilton Vilamoura se ter tornado na estreia deste grupo em Portugal, o cinco estrelas está a renovar-se, pelos quartos, apartamentos e refugados. Sinónimo de descanso entre cascatas, piscinas, spa e campos de golfe.

Hilton Vilamoura. (Fotografia de Paulo Spranger(GI)

Em 2007, quando abriu portas, tornou-se não só no primeiro hotel do grupo a abrir em território Portugal, como no primeiro resort Hilton ao nível europeu. Além disso, o seu spa é o maior que existe em Portugal Continental. Mas mesmo com os seus 16 anos, o HILTON VILAMOURA AS CASCATAS GOLF & RESORT SPA continua a mostrar sinais de vitalidade, com o atual processo de renovação onde se inserem quartos e restauração.

Pelos 176 quartos e apartamentos T1 e T2 do cinco estrelas algarvio (estes últimos equipados com cozinha, zona de refeição e de estar, sem esquecer varandas), aposta-se em maior luminosidade e tonalidades como azuis e cremes, que o imaginário associa à dupla areal-mar, tão inconfundível na identidade algarvia. As vistas fazem-se ora sobre Vilamoura, ora sobre os campos de golfe, ora para o conjunto de piscinas exteriores, ladeadas de espreguiçadeiras, palmeiras, zona de bar e estruturas em forma de rochedos por onde caem cascatas – detalhe que veio ajudar a batizar o hotel.

Há mais de 170 quartos e apartamentos no hotel que soma mais de década e meia em Vilamoura. (Fotografias de Paulo Spranger/GI)

O cinco estrelas algarvio está a renovar-se.

“É um hotel multifacetado”, explica João Rosado, diretor comercial do hotel, que preserva ainda hoje os traços arquitetónicos de inspiração mourisca. Ao longo dos cinco hectares deste terreno, há espaço para cinco campos de golfe, “um segmento importante” para o hotel; as três piscinas exteriores para adultos e uma quarta para crianças, situada no espaço lúdico Kids Club; ginásio aberto 24 horas por dia; um piso inteiro de salas de conferências, o restaurante Moscada, onde se servem pequenos-almoços, com área de cafetaria reforçada, e o intimista Rubi Bar, para bebidas e petiscos, virado para a zona de piscinas.

Junto ao Hilton Vilamoura há cinco campos de golfe, uma área importante para o hotel.

A zona de piscinas exteriores e cascatas, que servem de vista a partir de muitos dos quartos.

Quando a fome aperta, todos os caminhos vão dar ao CILANTRO, o restaurante liderado pelo chef André Simões, inspirado em algumas cozinhas do mundo, sem perder o fio condutor, que é a visão mediterrânica. Nas entradas, destaque para a burratina italiana com salada de rúcula, amêndoa torrada e compota de abóbora (nove euros); o camarão piri-piri com cogumelos selvagens (14,5 euros); ou o magret de pato fumado com salada de espargos, frutos vermelhos, pêssego, agrião e parmesão (13,5 euros). No peixe na grelha, aposta-se no atum, salmão, camarão-tigre e na espetada de camarão e tamboril com bacon; e há ainda a secção de risotos da casa – quatro variedades, uma destas vegetariana (16,5 euros). Nas sugestões mais tradicionais, a cataplana algarvia é uma das especialidades: uma junta peixe, marisco e xerém de coentros (26,5 euros), a outra tem polvo, camarão, bacalhau e batata-doce assada (25,5 euros). Sugestões que emparelham com as mais de quatro dezenas de referências vínicas, algumas destas algarvias.

As cataplanas fazem parte da cozinha do Cilantro.

O restaurante fica no piso térreo do hotel.

Se a ideia é relaxar, o 7 SPA é o destino certo. Foi, durante muitos anos, o spa português de maior dimensão, e agora mantém-se como o maior, mas em território continental. Pelas várias zonas e salas, há circuito aquático com quatro piscinas interiores, sauna, banho turco, jardim de relaxamento, duches sensoriais, sem esquecer os tratamentos e massagens a seco e com água.

Mais de década e meia depois, João Rosado não duvida: “Um dos segredos do nosso sucesso é termos 80% da equipa desde a abertura do hotel”, explica o diretor comercial. O cinco estrelas está envolto de natureza, mas quem quiser, pode chegar à Marina de Vilamoura e à Praia da Falésia em poucos minutos, com os transfers gratuitos que o Hilton Vilamoura oferece, todos os dias. No referido areal, os hóspedes têm direito a espreguiçadeiras e colmos gratuitos, junto ao Al.Mar Tapas by The Sea, café e restaurante que pertence ao hotel.

O 7 Spa é o maior spa português em território continental.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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