Alcácer do Sal: vinhos, passeios a cavalo e boas mesas nas margens do rio

Entre as curvas do rio Sado, os arrozais e a zona de floresta há muito para fazer e descobrir em redor da cidade de Alcácer do Sal. Um novo bar de vinhos e petiscos, um ateliê de joalharia de autor, passeios a cavalo à beira-rio e boas mesas são alguns dos ingredientes deste roteiro.

Debruçado sobre o espelho de água da barragem de Vale do Gaio, no concelho de Alcácer do Sal, o HOTEL VALE DO GAIO proporciona um banho de natureza aos hóspedes que o escolhem em alternativa aos resorts de luxo da costa alentejana. É fácil perceber porque razão Vasco Gallego se apaixonou pelo lugar, quando ainda era uma simples pousada da Enatur. Comprou-a, e ao cabo de uma década resolveu “fazer um hotel novo”, aproveitando apenas a infraestrutura de betão de 14 acomodações.

Hoje com 24, a unidade de quatro estrelas vai de vento em popa. “Não é um hotel, é um restaurante onde se pode dormir”, corrige o empresário que durante 30 anos foi o rosto do restaurante XL, perto da Assembleia da República. Daí que pratos icónicos como o soufflé de pescada se sirvam aqui, com direito à toalha bordada do XL. A lista desdobra-se em entradas, das quais se destaca por exemplo a patanisca de nada com salmão fumado e nata azeda, e apresenta ecléticas opções de principais.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

 

Jantar debaixo da pérgula verde e iluminada, numa noite quente, é um momento de puro prazer, assim como estirar o corpo ao sol nas espreguiçadeiras fofas da piscina. Já nas amplas salas comuns sobrepõem-se objetos de diferentes estilos e épocas, numa composição feita por Vasco e pela mulher Cláudia Machaz. Todas as manhãs há um buffet de pequeno-almoço recheado de produtos locais e caseiros, enquanto os cães Bu e Amélia passeiam pela casa livremente, a pedir mimos aos hóspedes.

Conhecedor da região, também José Ribeira, tendo já há 12 anos os Cavalos na Areia na aldeia de Torre, na Comporta, decidiu tirar proveito do curso do rio Sado. Com os CAVALOS NO RIO, os participantes – com ou sem experiência prévia – passeiam na paisagem de montado, mata e floresta junto a Vale do Guizo, e a dado momento do percurso trocam a sela por um caiaque, remando três quilómetros no rio. Um cais a sul e outro a norte permitem aliviar o esforço dos participantes a favor da corrente.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

A atividade decorre a uma dezena de quilómetros de Alcácer do Sal, no alojamento Casa das Cegonhas aberto no início deste mês – daí que uma das ideias de José seja conciliar o passeio a cavalo com um almoço nesta propriedade de seis hectares integrada na Herdade de Porches, ou um piquenique nas margens do rio. Por ora, as saídas a cavalo acontecem uma vez por dia, em grupos máximos de seis pessoas, de forma a garantir segurança e conforto a todos os amantes equestres.

 

Vinhos e joalharia

Chegados a Alcácer, que Sophia de Mello Breyner Andersen poeticamente “pintou” com “A sombra azul da palavra moira/O branco vivo da palavra sal”, sente-se no ar uma calmaria única, como se o rio embalasse levemente as gentes da cidade. E é na marginal que se encontra, justamente, um desses sítios que convidam à fruição das coisas simples, como um copo de vinho emparelhado com um petisco ao final da tarde. O sítio chama-se DESCOMPLICADO e abriu portas há apenas um mês.

Filho da terra e já com outros negócios de restauração, Hugo Rodrigues quis trazer para aqui um espaço que descomplicasse o consumo de vinho. Com mais de 40 referências de vinhos tranquilos e alguns fortificados (moscatel, madeira e porto), aos clientes não faltam opções, considerando ainda os que são vendidos a copo, rotativamente. A curadoria baseia-se em “pequenos produtores e rótulos que não se encontram à venda nos supermercados” e também inclui vinhos naturais.

O espaço tem inclusive uma pequena garrafeira, onde se pode comprar garrafas a preço especial. Em alternativa, quem quiser pode levar um vinho de casa e pagar só a taxa de rolha (serviço). Em relação aos petiscos, “a ideia não é ter uma carta fixa, mas sim pequenos pratos de partilha que mudam consoante os produtos da época”, explica Hugo. Queijo fresco de Alcácer com romesco e coentros, pastéis de massa tenra com língua de porco e cogumelos confitados são algumas das propostas.

Na porta ao lado encontra-se outra novidade, o ateliê FRIEZA JEWELRY aberto por Telma Frieza, amiga de Hugo desde os bancos da escola. “Desde miúda que gosto de trabalhar com as mãos e criar coisas”, conta a artista formada em Conservação e Restauro. Entrou no curso por entusiasmo e trabalhou alguns anos na recuperação de documentos gráficos na Torre do Tombo, mas quis voltar à criação, apostando na joalharia. “Nunca tinha ponderado voltar às raízes, mas ter um ateliê em frente ao rio é a concretização de um sonho”.

(Fotografia de Paulo Spranger/GI)

Com lâminas, martelos, brocas e alicates dá forma a anéis, brincos e colares em latão banhado a ouro de 24 quilates plaqueado, com inspiração em conchas, flores, estrelas-do-mar e até insetos. Em tão pouco tempo, criou inclusive uma coleção exclusiva para o resort Sublime Comporta e que está a ter uma grande procura. O valor das peças, todas feitas à mão, começa nos 33 euros. Além de bijuterias, Telma também faz macramé e cerâmica.


Comer numa antiga escola primária

À beira da estrada nacional 253, na aldeia de Cachopos entre Alcácer do Sal e a Comporta, esta escola primária do tempo do Estado Novo (1950) é desde há 25 anos o restaurante A ESCOLA. Para muitos, é uma viagem no tempo, pois ainda lá estão o quadro de ardósia, uma carteira e os sólidos de madeira com que se explicava a matemática. Hoje, a lição versa sobre gastronomia, ao sabor dos pratos de Octaviano Martins. Um deles herdou do sogro, que fundou o negócio, a muito famosa empada de coelho bravo desfiado com especiarias. Na época deles, há pratos de caça como pombo de nabiçada (estufado com feijão). À chegada, a mesa está recheada de petiscos portugueses, mas há que ter cautela e guardar espaço para provar o ensopado de cherne com camarão e pão frito, coentros e hortelã. O vinho da casa encerra com uma ideia acertada: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.



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