A caminho da Foz, há um punhado de novidades a refrescar a marginal do Porto

O'Rio (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)
Na noite de São João, a festa estende-se pelo rio fora até à Foz. Os arraiais das freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos vão animando o caminho, refrescado no último ano com novas casas que se fazem essencialmente de sabores do mar e comida do mundo. Itália chegou em força à marginal do Douro, mas também deixou espaço à cozinha de memórias e aos cocktails de autor.

O palco montado no Cais das Pedras, em Massarelos, é um dos focos de animação ao longo da marginal do Porto no São João, que vai assegurando bailarico a quem se lança nesse arraial itinerante que vai desaguar à Foz do Douro, onde os mais resistentes dão por terminada a noite mais longa do ano, a ver o nascer do sol na praia. A música fica a cargo da parelha Musicanto e Duo Karisma, e há de chegar facilmente aos ouvidos de quem se sentar na esplanada de O’Rio para recarregar energias. O restaurante de Henrique Villas-Boas – que também detém o O’Travessa, na Foz – é uma das mais frescas adições à restauração local e veio reforçar a oferta de marisco, numa carta servida em frente ao rio, mas feita essencialmente do mar. “Achava que esta zona da cidade tinha pouca identidade da nossa cozinha e quis trazer para aqui comida de verdade, à base do produto, da cozinha tradicional portuguesa, e muito focada no marisco”, descreve o proprietário, que por vezes também assume as rédeas da cozinha para fazer, por exemplo, um arroz de lingueirão, que vai pescar às memórias das férias de verão passadas no Algarve: “Era o que comíamos lá”.

O’Rio (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

O’Rio (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

O’Rio (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)

 

O menu também inclui algumas heranças de família, como os croquetes de bacalhau, que são receita da mãe, assim como o bacalhau à sua moda, cuja preparação envolve uma máquina de picar antiga e termina no forno com claras em castelo. É um dos pratos que, por encomenda, se junta à lista fixa, de onde se destacam propostas como o picado do mar – uma espécie de ceviche, feito com gambas, atum e outro marisco fresco do dia, bem cítrico – e o arroz de berbigão com secretos de porco. “Era uma combinação que o meu pai adorava”, afirma Henrique. Já o capítulo dos mariscos varia consoante a temporada, mas as travessas compõem-se habitualmente de ostras, amêijoas, mexilhão, percebes e outros achados do dia. Durante a tarde, os pregos de lombo ou atum em bolo do caco assumem o protagonismo. E para a noite de São João há um menu especial, com tudo o que a data exige: sardinha assada, bifanas, salada de pimentos, caldo verde, tripas enfarinhadas e outros pitéus, disponíveis desde o entardecer que pinta o horizonte atrás da Ponte da Arrábida de cores que aconchegam, até ao rebentar do fogo-de-artifício, à meia-noite.

 

Snacks com samba e um clássico renovado
O Smash Burguer, na Rua do Ouro, é outra novidade ribeirinha que se vai render aos clássicos dos Santos Populares e trocar a chapa dos hambúrgueres pela grelha da sardinha na noitada sanjoanina. O carioca Daniel Doulart e o paulista Filipe Cholas deixaram Lisboa e vieram para o Porto abrir uma hamburgueria artesanal com cheirinho a Brasil. The Rock é o best-seller da casa, composto por dois hambúrgueres, bacon, queijo cheddar, cebola caramelizada e um ovo estrelado, no meio de um pão brioche. Mas também há combinações mais arrojadas, como o Incredible Hulk, que junta guacamole, jalapenho, pico de gallo, queijo da Ilha e agrião. Há ainda um punhado de sandes, de onde sobressai a Chinatown, com frango panado, e uma boa dose de opções vegetarianas, como a sandes de falafel e a de abóbora assada com nozes, mel e queijo coalho. Saladas e petiscos – pastéis de bacalhau, nuggets de camarão e croquetes – completam a carta, onde não faltam caipirinhas e brigadeiros, a piscar olho às raízes brasileiras da casa, enaltecidas ao som de samba e bossa nova.

Smash Burguer (Fotografia de Pedro Correia/GI)

Smash Burguer (Fotografia de Pedro Correia/GI)

 

Um pouco mais à frente, já a chegar ao Jardim do Calém, que se enche de carrosséis e carrinhos de choque, barracas de doces e manjericos, rulotes de farturas, cachorros e cerveja, além de outro palco, ao qual sobem na noite de 23 a Banda R e o Duo Ivasom para dar música ao arraial, o Nhac Nhac renova o estatuto de pizaria de referência às mãos de Raquel e Hugo Hering. Desde o início do ano que os dois irmãos têm como missão resgatar o ambiente familiar e a cozinha de conforto que recordam daquele italiano em frente ao Douro, onde iam com os pais quando eram miúdos. “Sempre foi um local frequentado por famílias, e agora que pegamos no restaurante queremos trazer de volta essa essência”, diz Raquel. A decoração foi refrescada, está mais airosa, e as paredes enchem-se de fotografias que fazem sonhar com Itália. A carta também foi toda renovada, com criações de Hugo – que já passou por várias cozinhas da cidade – e algumas receitas que foram atravessando gerações, como a lasanha da avó materna.

Nhac Nhac (Fotografia de Pedro Correia/GI)

Nhac Nhac (Fotografia de Pedro Correia/GI)

 

Aumentaram ainda as propostas de partilha, com destaque para a burratina, servida com presunto de Parma, cebola frita e pesto de pistacho caseiro; ou os camarões panados em panko, que acompanham com gremolata e maionese caseira; e as focaccias com recheios variados. Nas pizas, feitas ao estilo romano, com a massa estaladiça, as combinações clássicas partilham a lista com outra menos usuais, como a Rústica, que junta mozarela fresca, cebola roxa, rúcula e vinagre balsâmico, ou a que põe na ribalta o afamado pesto de pistácio da casa.

Nhac Nhac (Fotografia de Pedro Correia/GI)

 

Vale a pena guardar espaço para a sobremesa, seja pelo tiramisu feito na hora, com um expresso acabado de tirar; pela pana cotta desconstruída, servida com compota de fruta da época; e pelo bolo de chocolate – receitas da mãe da dupla -; ou pelo cheesecake de maracujá e chocolate branco, este da autoria de Raquel. Não havendo espaço para tudo, há oportunidade de regressar a qualquer hora do dia para picar mais qualquer coisa e provar os cocktails e as sangrias da casa, feitas com limoncello ou prosecco, ideais para um final de tarde à italiana. Esta sexta-feira, no entanto, o Nhac Nhac veste as cores da cidade – “Vamos ser portuenses como deve ser”, anuncia Raquel -, e junta-se à festa com bifanas e bebidas servidas num balcão montado na rua.

 

Uma esplanada irrequieta junto ao rio
A esplanada do FOMO – antigo Fuga – é um daqueles locais de onde não apetece arredar pé, tanto mais se lá pararmos num final de tarde de verão a apreciar o Douro que ali adiante chega ao mar. E se nos refrescarmos com um cocktail fotogénico, que poderá por momentos desviar-nos a atenção da paisagem. Toda a nova roupagem do restaurante foi criada para suscitar curiosidade ao visitante e fazer com que que não queira perder pitada do que vai acontecendo (o próprio nome é um acrónimo para Fear Of Missing Out). “O objetivo é o movimento permanente”, define Marta Archer, que detém o espaço com o marido Fernando Rocha, também sócio do vizinho Bocca. E por isso, são de esperar novidades com frequência. Para já, apresenta uma carta internacional para todas as horas, assinada pelo chef consultor Luís Américo. Surpreende desde logo o azeite morno do couvert, aromatizado com alecrim, e a manteiga de alperce e vinho do Porto, e não ficam atrás as chips de mandioca, o húmus com grão crocante, a mandioca brava ou as sopas, especialmente o creme de alho francês com camarão e tomilho, servido na mesa.

FOMO (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

As quesadillas, os hambúrgueres – destaca-se a combinação de maionese de trufa e cogumelos -, as tostas e bowls rematam a oferta disponível durante todo o dia, e que é reforçada ao almoço e ao jantar com pratos como a moqueca de cação e camarão, o bacalhau assado com feijão preto e farofa de broa – “improvavelmente delicioso”, promete a carta – ou a costela mendinha com puré de tupinambor. O kulfi, um gelado indiano feito ali e servido com amêndoas crocantes, partilha um lugar de destaque nas sobremesas, ao lado do pastel de nata desconstruído, uma das poucas receitas importadas da carta do Fuga.

 

Muito brevemente irá juntar-se à oferta um balcão de sushi e uma lista de cocktails do bartender Miguel Gomes, que se inspirou em misturas clássicas para criar bebidas que seduzem o olhar antes de conquistarem o palato. É exemplo The Godfather, à base de scotch e amaretto, servido com uma gelatina no copo, que serve para refrescar o cocktail e pode ser comida à colher.

 

Um italiano do mar
Já quase com um pé na praia, no limite ocidental do Jardim do Passeio Alegre, o Al Mare, tira proveito da localização para apresentar uma cozinha italiana com foco nos sabores do mar. O mais recente projeto do grupo Cafeína, põe na mesa pratos assinados pelo chef executivo Camilo Jaña, como o polvo com arroz do mesmo terminado em forno a lenha, a carbonara do mar, feita com mexilhão, lulas, ovas de salmão e robalo, o carpaccio de salmão fumado ou a burrata embrulhada em massa de piza. Tudo isto acompanhado por sangrias e cocktails de toque italiano, como o aperol spritz e o mojito, que aqui é feito com manjericão e hortelã, e um pouco de vermute, para provar na sala interior, no terraço envidraçado ou na esplanada aberta para a foz do Douro.

Al Mare (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Al Mare (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Al Mare (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Al Mare (Fotografia de Leonel de Castro/GI)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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