Um encontro com a obra de Fernando Távora, no Porto

(Fotografia de Carlos Carneiro/GI)
No centenário do nascimento de Fernando Távora, uma síntese da sua obra pode ser vista na Fundação Marques da Silva, instituição a que o arquiteto, nome incontornável da Escola do Porto, doou o seu acervo.

Uma pequena viagem ao imenso mundo de Fernando Távora, através da sua obra e do seu arquivo pessoal. “Fernando Távora. Pensamento livre”, patente na Fundação Marques da Silva, na Praça do Marquês, no Porto, guia-nos pelo percurso do arquiteto que fez a transição para a modernidade da arquitetura portuguesa, sempre em diálogo com a tradição, “sem se render ao nacionalismo salazarista”, sublinha Alexandre Alves Costa, curador da exposição.

Sem pretender fazer o retrato exaustivo da obra de Távora, a mostra, que assinala o centenário do nascimento do arquiteto, a 25 de agosto de 1923, guia o visitante por alguns dos seus trabalhos mais representativos, uns construídos de raiz, outras reabilitações de património edificado, uma das vertentes mais expressivas do seu percurso. Do mercado de Santa Maria da Feira à Casa dos 24, no centro histórico do Porto, passando pela Pousada de Santa Marinha da Costa, em Guimarães, pelo anfiteatro da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, pela Escola do Cedro, em Vila Nova de Gaia, pelo Pavilhão de Ténis da Quinta da Conceição, em Leça da Palmeira, e pela casa de Ofir, no concelho de Esposende.

Alexandre Alves Costa, o curador da exposição. (Fotografias de Carlos Carneiro/GI)

Além das maquetas e dos desenhos de cada uma das obras, o visitante tem um primeiro contacto, no piso térreo do edifício, com as principais inspirações de Távora. Começamos pelas “Referências”, onde encontramos alguns do arquitetos que mais o influenciaram, nomeadamente Le Corbusier e Frank Lloyd Wright. Há também espaço para os “Tratados de arquitetura”, a “Literatura” e, tão marcantes nas obras de Távora, “As viagens”. Com destaque para aquela que fez à volta do mundo, com o patrocínio da Gulbenkian, nos anos 60, e que teve como resultado mais visível “Diário de bordo”, o registo das suas impressões obtidas no Japão, Grécia, Estados Unidos e México.

Exposição assinala o centenário do nascimento do arquiteto.

Nesta exposição a assinalar o centenário está também o Távora professor, através do registo gravado das suas aulas, que tantas gerações de arquitetos marcou.

“Fernando Távora: Pensamento Livre” está patente na Fundação Marques da Silva, Porto.


Projetos fundadores
Pavilhão de Ténis – Matosinhos (1956-1960)
Integrado na Quinta da Conceição, em Leça da Palmeira, o pavilhão de ténis foi pensado para criar um ponto de referência no parque, entre o jardim e os campos de ténis. Fernando Távora, quando se referia ao pavilhão, dizia que a sua conceção lhe recordava “momentos de grande convicção e esperança profissional”.

Casa de Ofir-Esposende (1957-1958)
Implantada no miolo do pinhal de Ofir, em Fão, num terreno com “encantadores pontos de vista sobre o Cávado”, foi uma encomenda de Fernando Ribeiro da Silva. Alves Costa classifica-a como “uma casa funcionalista”, adaptada à envolvente, o que a transforma “num edifício orgânico, onde a relação com a paisagem é muito importante”.

Pousada de Santa Marinha-Guimarães (1972-1989)
”Uma obra essencial” que transforma um velho convento numa pousada. Alves Costa sublinha que o projeto levanta questões metódicas que todos os arquitetos vão ter ao intervir no património. Foi uma intervenção em que Távora estabeleceu “diálogo, afirmando mais as semelhanças e a continuidade do que cultivando a diferença e a rutura”.

Casa dos 24-Porto (1995-2003)
A escassos metros da Sé Catedral, foi construída no final do século XV para instalar os Paços do
Concelho. Foi nesse espírito simbólico do poder da burguesia, em contraponto ao poder da Igreja, que Távora criou um objeto arquitetónico que, invocando a torre outrora existente, “não a mimetiza”, como destaca Alves Costa, constituindo uma pedra fundamental do projeto da Avenida da Ponte.


Fernando Távora: Pensamento Livre
Fundação Marques da Silva, Praça do Marquês de Pombal, 30-44. Das 14h às 18h, de segunda a sábado. A partir de fevereiro pode ser vista na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; em maio chega à Escola de Arquitetura, Arte e Design, em Guimarães.




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