Namorar a Galiza, passear e ser feliz em Monção

Praça Deu-Lá-Deu, em Monção. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)
Terra de vinho Alvarinho, termas, cordeiro assado com nome ousado, lampreia e do dragão Coca, a vila minhota vive a mirar território galego para lá do rio Minho, e tem muito para descobrir. Haja tempo, pernas e barriga para desfrutar

Haja tempo para conhecer e uns dias de sol em Monção podem transformar-se numa experiência memorável de descoberta. A vila é pequena (percorre-se bem a pé), mas recheada de ícones. Entre eles, contam-se as suas muralhas, as termas, a emblemática Coca – o dragão mítico que, todos os anos, combate com o cavaleiro S. Jorge, nas festividades do Corpo de Deus e que deu origem a uma instalação gigante de Bordalo II, numa das paredes do novo Museu Monção & Memórias.

No capítulo da mesa, tem lugar soberano o vinho Alvarinho (que até tem museu próprio); o lendário prato de cordeiro assado no forno, a que na região chamam de “Foda à Monção”; as roscas, rosquilhos e papudos, consideradas Maravilhas Doces de Portugal; e, nesta época do ano, a lampreia.

Para tomar um simples café, há dois locais emblemáticos: o BAR DAS CALDAS e o Mira Espanha. Ambos virados ao rio Minho e com esplanada. No primeiro, que também inclui restaurante, Nuno Vieira serve café da marca local “Minhotinha”. Tem sempre pastelaria local, vinho a copo e petiscos. O espaço fica no Parque da Caldas, que só por si, é ponto de partida para um grande passeio. Possui parques de merendas, infantil e desportivo, e é atravessado pela Ecopista do Rio Minho.

Para norte, o traçado segue até Troviscoso, num troço com cerca de dois quilómetros e, para o lado sul, vai até Lapela (onde existe uma torre de menagem com Núcleo Museológico), num percurso com cerca de seis quilómetros. Sempre com com a margem espanhola (Salvaterra do Miño) à vista. Na zona das Caldas, situam-se também o balneário termal e o Hotel Bienestar Termas de Monção. A unidade hoteleira de 4 estrelas, possui 60 quartos, dos quais um adaptado e duas suites.

Hotel Bienestar Termas de Monção – Termas (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Ao alojamento, o cliente pode aliar o acesso ao circuito termal. O que, segundo a diretora do hotel Elisabete Álvaro, é o seu “ponto forte”. “É um 2 em 1. Temos muitas tarifas que englobam circuito termal”, afirma, referindo que as águas de Monção estão indicadas para tratar problemas de pele, respiratórios, ósseos, musculares e do sistema nervoso. O balneário possui espaços para tratar da saúde, piscinas dinâmicas, sauna, banho turco e duche escocês, serviço de massagens, hidroterapia, tratamentos de estética, de relaxamento e anti-stress. Além de ir a banhos, a estadia no hotel também pode incluir, a pedido, provas de vinhos nas adegas da região e prática de desportos radicais, bicicleta e caminhadas. “Temos a sorte de ter ecopistas aqui muito próximas”, nota Elisabete Álvaro.

A Ecopista do Rio Minho, que atravessa a vila, liga a Valença pela antiga linha do comboio (16 quilómetros no total) e tem uma “gémea” na margem espanhola. Quem faz o percurso português, consegue avistar, enquanto caminha ou pedala, por entre o verde da paisagem e para lá das águas, a ecovia de Salvaterra e os seus utilizadores.

Do lado de cá, a bonita Porta de Salvaterra, é um marco no traçado da ecopista lusa. A partir dali, podemos adentrar-nos na vila e continuar a caminhar rente às muralhas, mirando o Minho e descer até aos novos passadiços da Fortaleza. A estrutura em madeira, que faz a ligação entre a zona ribeirinha e o centro da localidade, percorre-se devagar. Possui lugares para paragem, descanso e contemplação. São os “Passadiços A Galiza mail’o Minho”, em alusão a João Verde, antigo poeta e jornalista de Monção, que escreveu:

“Vendo-os assim tão pertinho,
A Galiza mail’o Minho
São como dois namorados
Que o rio traz separados
Quasi desde o nascimento.
Deixalos, pois, namorar
Já que os pais para casar
Lhes não dão consentimento.”

Vista do cimo da Torre de Lapela para o Rio Minho, que separa Galiza e o Portugal. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

O namoro à distância entre as duas terras, banhadas pelas mesmas águas, entra pelos olhos dentro de quem percorre a vila de Monção. E se há muito sítio por onde caminhar, a caminhada pede descanso e boa comida. Uma das mais recentes apostas do Hotel Bienestar Termas de Monção é a gastronomia. O seu restaurante está nas mão do chef Paulo Zinsly e da sua ajudante Raquel Cerqueira. Da aveludada sopa de legumes, a uma entrada de tomate recheado com pasta e bróculos e rúcula selvagem, do bacalhau com broa com batata a murro e cama de grelos ao naco com arroz selvagem, a carta é variada. De sobremesa, duas sugestões: arroz doce (da Raquel) e ananás com gelado de natas (de Paulo).

Em alternativa a hotel, para ficar estão disponíveis as novas Casinhas da Vila, um projeto de Maria José Palhares. O alojamento, situado em plena zona histórica de Monção, inclui dois apartamentos completos, com capacidade de até seis pessoas.

Pratos regionais e de época
Para lampreia, um clássico: o restaurante 7 à 7 de Guilherme e Helena Tavares. Cozinheiro da casa desde 1997, Guilherme tornou-se seu proprietário em 2015. Helena gere a sala e acolhe os clientes, que nesta época chegam de todo o lado, Portugal e Espanha. “Fazemos os possíveis para sermos os melhores. Fazêmo-la com todo o carinho”, refere o cozinheiro, que confeciona a lampreia de arroz, à Bordalesa e de escabeche (entrada). Deixa-a de um dia para o outro, num alguidar em vinho tinto, vinagre, alho, cebola, salsa, pimenta e no próprio sangue, e estufa-a em tacho de ferro, num refogado com cebola, alho, azeite e toucinho. Para a mesa, vai servida em pote de barro.

Os anfitriões, que ao fim de semana também contam com a ajuda na cozinha e na sala das filhas gémeas, Eva e Joana, sugerem como entradas fumeiro, pataniscas e queijo de cabra com redução de Alvarinho e pimenta rosa. E à sobremesa, um doce conventual, a Barriga de Freira (pão de ló banhado com calda de açúcar, ovos moles, amêndoa e canela) ou leite creme queimado.Também são especialidades do 7 à 7, o anho no forno e a Foda à moda de Monção.

Faça-se uma pausa para explicar o nome rústico do famoso prato. A lenda associa-o à astúcia dos antigos criadores que misturavam sal na forragem para os animais encherem a barriga de água e, no dia da feira, os venderem como gordos. Quem comprava e depois descobria o engano, exclamava: “Que grande foda!”.

Na vila de Monção, o restaurante Dona Maria, é um dos mais recomendados por ser dos poucos que ainda assa o cordeiro em forno a lenha. E, para acompanhar o prato, a escolha recai no incontornável vinho Alvarinho, que nos dias de hoje pesa na economia da região. Não só pelo crescimento da sua produção, mas também pelo enoturismo. O Palácio da Brejoeira, situado a cerca de cinco quilómetros da sede de concelho e onde surgiu um dos primeiros Alvarinho, é um local de visita obrigatória, tanto para comprar o vinho como para apreciar o património.

O Museu do Alvarinho, no centro da vila, entra no roteiro dos visitáveis para, não só conhecer a história da casta, como provar o vinho. O espaço proporciona provas, a pedido, basta para isso comprar o copo alusivo (2,5 euros) na Loja de Turismo ao lado, que serve para levar depois como recordação.

Museu do Vinho Alvarinho. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Há outras compras possíveis, caso se queiram guardar memórias físicas de Monção. A loja Saudáveis & Companhia, das amigas Jaqueline e Cristina Ferreira, tem nas prateleiras várias delícias da região. Nesta mercearia especializada, encontra cerca de 20 marcas de vinho Alvarinho e vinagre do mesmo, assim como roscas, rosquilhos e papudos, doces tradicionais das romarias do Minho, mas reinventados pela “A Rosqueira”. Para quem aprecia, é provar um daqueles doces regionais (0,55 euros) acompanhado de café ou copo de vinho. Encontra também a figura da Coca recriada em lápis e figura de artesanato.

Uma pizaria e um bar na vila
A pizaria Don Genaro de Fernando Pereira é um destino certo em Monção. Pela comida e pelo ambiente alegre e acolhedor. Quinze funcionários latinos (da Colômbia, Venezuela, Brasil, S. Tomé e Portugal) são “família”. De um forno (o ‘Ferrari’ dos fornos, garante Fernando) a lenha que é usada para decorar o próprio espaço (gastam um trator por mês), saem 40 tipos de piza, 12 calzone e lasanha. À escolha há ainda nove pastas (a mais recente é a Amicci), seis saladas e um prato de bife para quem não aprecie comida italiana.

De entrada, quem prova a Batata Cheddar (frita com queijo cheddar e mozzarela), nunca mais a esquece. E as sobremesas também ficam na memória. Ao fim de semana há 15 para escolher. A mousse de chocolate branco com Oreo e o cheese cake, vendem como pão quente. Sangrias, cervejas artesanais e vinho Alvarinho, são as bebidas da casa que está sempre cheia. Se houver fila à porta, Fernando costuma servir “entretém de boca”.

Vitor Gonçalves com um combinado de tapas. (Fotografia: Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

E se apetecer juntar à tarde com a noite e ficar até mais tarde, há no centro da vila há vários espaços com esse conceito. Destaque para o Baluarte de Vitor Gonçalves. Bebe-se, come-se e dança-se até às 2 horas nos dias de semana, e até às 4 horas ao fim de semana. Tudo no mesmo espaço, que tem duas salas e uma esplanada com cem mesas. Serve combinados em tábua (salgados e doces de babar), hambúrgueres, carne mexicana, ameijoas à bulhão pato, bacalhau escondido, bife ou ovos rotos. Sangrias (a de maracujá é rainha) e cocktails (o rei é o mojito), e vinhos (também a copo) Alvarinho. Vitor garante que ali os jantares, depressa se transformam em festa e dança.




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