Convento das Bernardas, em Lisboa, ganha novo sabor volvidos 360 anos

O claustro visitável do Convento das Bernardas. (Fotografia de Nuno Silva)
Encaixado em plena Madragoa e classificado como Imóvel de Interesse Público, o Convento das Bernardas ganhou nova vida com um restaurante que lhe faz vénia, trazendo o passado para a atualidade.

Entre o Museu da Marioneta e o restaurante No Convento há mais em comum do que se julga. A teatralidade e dramatismo que reveste as centenas de máscaras e marionetas de Portugal e da Europa, África, Ásia e Brasil – as quais habitam num espaço gerido pela EGEAC desde 2001 – estende-se ao interior do novo restaurante do bairro da Madragoa, desenvolvido pela equipa do Reia Collective (que gere o Black Trumpet, neste bairro, e o Casa Reîa, na Costa da Caparica). Tudo no Convento das Bernardas, um encontro entre a história e as artes cénicas e culinárias.

Fundado no antigo bairro do Mocambo em 1654, o convento começou por acolher religiosas recoletas da Ordem de Cister, ou São Bernardo, sob invocação de Nossa Senhora da Nazaré. Após o grande terramoto, que aqui não provocou vítimas, o arquiteto Giacomo Azzolini reconstrui-o. Em 1850, já depois da extinção das ordens religiosas, as últimas três monjas pediram para ser realojadas e o imóvel foi comprado por um privado para dar lugar a um colégio. Seguiram-se outros usos – liceu, cinema e até sede de uma filarmónica -, até ser recuperado pela autarquia.

(Fotografia de Nuno Silva)

As famílias que ali moram têm vista para o claustro do convento, que era muito cobiçado pelos clientes de topo do restaurante clássico A Travessa. É João de Oliveira que o conta, pois já ali trabalhava como chef quando os fundadores do coletivo Reia, Sacha Gielbaum e Emil Stefkov, assumiram o espaço. “A ideia foi mantê-lo o mais próximo possível do que era no século XVII”, refere Sacha sobre o trabalho da decoradora Juliana Cavalcanti. Na verdade, rebocaram só as paredes. Mantiveram o teto original, o piso em tijoleira, o lambril de azulejo e o aspeto austero.

Criado pelos chefs Pedro Henrique Lima, Alexis Gielbaum e Maxime Kien com a bússola virada para a portugalidade que João de Oliveira domina, o menu traduz-se na aplicação das técnicas de cozinha francesas à carne, peixe, marisco e vegetais nacionais. Sopa de cebola, espuma de queijo emmental e tuile artesanal torrado; vieiras seladas, molho de coral, açafrão e pérolas de lima; filet de cordeiro com chutney de beringela e tâmara, batatas fondant e jus; e tarte tatin de maçã Fuji, molho de caramelo salgado, crumble de sablé e lavanda são algumas das criações.

Antes ou depois do jantar vale a pena visitar o bar, separado da sala por uma cortina de veludo escuro. É lá que o bartender executivo Maurício Leal prepara nove cocktails de autor (três sem álcool), como o cilantro sour (mezcal, absinto, cordial e óleo de coentros, limão e aquafaba). O ambiente, discreto, ganha maior dramatismo com a iluminação do antigo refeitório do convento, que tal como outrora tem mesas de madeira iluminadas por velas – mas comida do século XXI.

(Fotografia de Henrique Isidoro


No Convento
Travessa do Convento das Bernardas, 12
Tel.: 915389532
Web: noconvento.com
De terça a domingo, das 19h às 23h.
Preço médio: 50 euros


Museu da Marioneta
Rua da Esperança, 146
Tel.: 213942810/916294128
Web: museudamarioneta.pt
De terça a domingo, das 10h às 18h. Encerra à segunda.
Preço: 5 euros (normal); 2,50 euros (13 aos 25 anos); 4,50 euros (maiores de 65); gratuito para
residentes em Lisboa ao domingo e feriados até às 14h




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