Cláudia Costa: Quando o Natal dura um mês inteiro

Cláudia Costa (Fotorgafia: Nuno Brites/GI)
Primeiro as filhas trouxeram netas, as netas trouxeram novas famílias, e hoje são 21 pessoas. O avô de Cláudia mandou fazer uma mesa de madeira gigante, para acolher todos. É em São Simão de Litém, onde o Natal dura na verdade um mês inteiro.

Na aldeia de São Simão de Litém, perto de Pombal, dezembro vai mais triste este ano. Nem o presépio construído pelos escuteiros junto ao salão paroquial parece enganar a quietude trazida pela pandemia. Há um vírus que reveste de incerteza os dias da família de Cláudia Costa, investigadora na Universidade de Coimbra. Na verdade, não é só uma família que tradicionalmente se junta ao redor da mesa que o avô Armando mandou fazer – propositadamente para as noites e dias de Natal.

Porque ali se encontram várias famílias e gerações: “Neste momento, junta cinco famílias na noite de Natal. Ao todo, somos 21 pessoas, com quatro crianças e dois adolescentes”. Os filhos, Carolina e Hugo, de sete e 10 anos, estão tão (in)conformados como a avó Armanda ou a bisavó Carminda, quanto a uma realidade que desconheciam: um Natal sem os almoços em cada domingo de dezembro, para combinar quem faz o quê.

Cláudia Costa e os filhos (Fotorgafia: Nuno Brites/GI)

 

“Habitualmente, o nosso Natal não dura só uma noite, mas sim o mês quase todo: no primeiro domingo de dezembro juntamo-nos em casa dos meus avós, ao almoço, para escolher os doces que vamos fazer na noite de Natal, e verificamos os ingredientes necessários. Fazemos sempre um doce por pessoa e todos os anos são diferentes; no segundo domingo de dezembro juntamo-nos novamente para escolher o vinho e os licores e decorar a casa dos meus avós. No terceiro decoramos a mesa gigante que o meu avô mandou fazer especificamente para o Natal e onde cabemos todos. Todos os anos a decoração da mesa é diferente”, conta Cláudia Costa, à porta da Igreja de São Simão de Litém, onde a família se reúne na missa do Dia de Natal.

Ela e a irmã Ana Patrícia agregaram mais duas famílias àquela onde nasceram, e por isso no Natal costumam matar saudades da casa dos pais, onde dormem todos. “É a parte alta das festividades, que começa três dias antes”, recorda Cláudia, saudosa das três cozinhas com três fornos de lenha entre as casas dos pais e dos avós, paredes-meias. Ali, todos dão prendas a todos. “Normalmente a noite de Natal é cheia de pessoas, alegria, comida e bebida! O meu avô adora ver a casa assim e veste um fato de acordo com a decoração da mesa de Natal”. Armando, 84 anos, estava em isolamento profilático no dia em que a Evasões percorreu com parte da família esse rosário de memórias. Que é, afinal, o maior património a passar de geração em geração.

UMA HISTÓRIA DE NATAL
A casa de porta aberta
Cláudia Costa e as duas irmãs (Ana Patrícia e Raquel) desde cedo habituaram pais e avós ao intercâmbio cultural. Armanda, a mãe, sublinha esse espírito de uma casa de portas abertas aos colegas das filhas, vindos de diversos países, que por cá se encontravam a estudar. Como daquela vez que Ana apareceu com a amiga da Letónia que conheceu em Taizé, e que não tinha dinheiro para ir passar o Natal ao país de origem. Acabou por ser “adotada” pela família toda, pela vida fora.




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