Crónica de Manuel Molinos: Uma praia para amar em todas as estações

S. Paio, Labruge, Vila do Conde (Fotografia: Artur Machado/Global Imagens)
São Paio dá-nos uma herança arqueológica e geológica mas sobretudo um confronto natural, de simplicidade e emoções de viagens nunca antes vividas mas sempre sonhadas.

É um lugar mágico. Não apenas porque me reporta para um tempo de plena felicidade. Não apenas porque, ainda hoje, todas as vezes que piso aquela areia abrigada, conspiram a meu favor milhares de memórias e de sensações incríveis que me roubam sorrisos que já não me lembro de ter.
É por ser tão arrebatador. É por ser um lugar para amar, onde ninguém consegue ficar indiferente aos longos e imponentes milheirais, que, verdes e dourados, nos cortam o fôlego ao longo das rústicas ruas estreitas que nos conduzem ao areal. Uma beleza campestre que rivaliza apenas com a imensidão de um mar que se torna translúcido de cristais de sol, quando a maré baixa.

A praia de São Paio, em Labruge, Vila do Conde, é um daqueles lugares que chegamos a desejar que permaneçam por descobrir, por pisar, por sentir, para que não estraguem nada. É uma praia a que vale a pena voltar vezes sem conta e onde o sol nem sempre é a principal razão para passar umas horas à beira-mar. É uma praia onde se está bem de calções, fato de banho ou com agasalhos, onde a beleza da neblina, tão característica do litoral Norte, pode competir com o prazer de dias ensolarados e de céu azul. É pequena e aconchegada, muito intimista, mas ao mesmo tempo agreste e imponente. Um confronto natural que não deixa ninguém indiferente quando a visita pela primeira vez. Quase todos temos uma praia da nossa vida. Atrever-me-ia a dizer que a praia de São Paio será a praia de parte de uma geração que cresceu sem a dependência da tecnologia, do telemóvel e da Internet. Que saía de casa e fazia da descoberta dos locais vizinhos do Porto um dos seus principais passatempos.

São Paio, onde existem vestígios de uma aldeia que data da idade do ferro, tem hoje um passadiço de madeira. Um caminho que representa sobretudo a valorização de um património, que passa pelo castro e pela igreja com o mesmo nome. O local assume também um valor arqueológico sem igual. Foi ali que se fixou uma comunidade de pescadores até à chegada dos romanos, sendo até hoje o único povoado marítimo proto-histórico conhecido em Portugal. Foi descoberto em 1959 pelo arquiteto e pintor Fernando Lanhas e pelo bispo e arqueólogo D. Domingos de Pinto Brandão.
Mas esta herança arqueológica e geológica entrega-se todos os dias aos herdeiros que por lá passam, quer sejam habitantes locais, turistas ou caminheiros com destino a Santiago de Compostela.
E neste lugar mágico, há ainda outra herança imaterial e tão preciosa: o silêncio. Esse continua pleno, sem a corrupção da poluição sonora das urbes. Um silêncio poeticamente embalado pelo som das ondas a bater nas rochas e que projetam viagens nunca antes vividas mas sempre sonhadas.




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