Os conceitos têm esse problema: há uma certa propensão para olhá-los apenas a preto e branco, sem margem para exceções. E é mesmo essa parte que interessa a Maria Gray – «O cinzento que fica entre o preto e o branco», explica esta mãe de cinco filhos, cozinheira autodidata e apaixonada confessa por comida saudável. Com uma ressalva: saudável e que saiba bem, porque o prazer de comer não se pode submeter ao cinzentismo dos imperativos concetuais.
Quer isto dizer que no Local, que entretanto abriu outro espaço no piso 0 do Palácio Chiado, há comida vegetariana. E sem glúten. E para quem é intolerante à lactose. Mas também para quem come de tudo, carne e peixe incluídos. Até porque Maria não está ali para «evangelizar» ninguém.
O sítio é acolhedor. Paredes forradas a pinho, plantas suspensas do teto, cadeiras confortáveis que indiciam não se tratar de um mero sítio para matar a fome. Os vegetais, já se espera, estão no centro das atenções. Legumes, cereais e frutos, trabalhados com cuidado pela textura, pelo sabor, pela experiência à mesa. Ponto assente é a exclusão de alimentos processados ou refinados. Pratos fixos não os há. Manda mais o espírito irrequieto de Maria, que gosta de criar e tem em vigor perto de 90 receitas.
Nessa sua coletânea estão sopas como a de abóbora, gengibre, maçã e leite de coco, exótica e reconfortante. E snacks terríveis de bons, caso dos viciantes chips de couve kale.
Depois, há as health bowls, saladas (frias e quentes) capazes de saciar quem não se alimenta de saladas, feitas com conta certa: 60 por cento de legumes, 20 de hidratos e outro tanto de proteína. Coisas como tajine de grão, beringela e caju com basmati, e salmão com sésamo sobre udon e curgete espiralizada. E há ainda a «proteína do dia», prato quente que pode ser vegetariano, carne ou peixe.
Por fim, há as sobremesas, e estas merecem parágrafo próprio. Por serem feitas sem trigo, lactose ou açúcar. E por, mesmo sabendo isso, custar a crer que não fazem tão mal como o seu bom gosto leva instintivamente a pensar. O cheesecake vegano de gengibre e alperce, por si só, merece o desvio até Cascais, mais não seja para um lanche sem remorsos calóricos. Dito isto: quantas vezes se sai de um sítio de comida saudável a pensar nas sobremesas?
Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.
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