Tóxico ou comestível? Oito cogumelos dos bosques transmontanos (e uma receita)

Chegou a época dos cogumelos. (Fotografia: DR)
Apesar da pouca chuva, estamos a entrar na época de excelência dos cogumelos, sobretudo em Trás-os-Montes e Alto Douro, com restaurantes que vão reforçar a sua presença na carta.

Em Portugal, há cogumelos durante quase todo o ano, mas o outono revela-se a época mais fértil, ao reunir humidade e uma temperatura amena. Basta alguma precipitação para que espécies como a boletus aestivalis, boletus edulis e amanita pantherina comecem a espreitar em lameiros, árvores e outros terrenos, mas a atual escassez de dias chuvosos está a atrasar o seu aparecimento. Ainda assim, isso não demove a organização de iniciativas ligadas à micologia já agendadas para o final deste mês.

Os fungos são abundantes na região de Trás-os-Montes e a explicação está relacionada com a vegetação. Segundo Manuel Moredo, presidente da associação micológica A Pantorra, os cogumelos dão-se em solos de boa qualidade e nas raízes de árvores como carvalhos, castanheiros, freixos e olmos, de preferência envelhecidos.

A apanha de cogumelos é uma atividade com cada vez mais adeptos, até como um escape que convida a sair da cidade. No entanto, Manuel Moredo avisa que “se as pessoas querem apanhar cogumelos para consumo, têm que ter 100% de certeza daquilo que estão a apanhar”, dado o risco de envenenamento. Nem sempre é fácil distingui-los, principalmente quando ainda estão a crescer, pelo que as primeiras saídas de campo devem ser sempre acompanhadas por alguém conhecedor.

Apesar de pouco estudados, estes pequenos fungos, que podem assumir as mais variadas formas e cores, são um alimento nutricionalmente rico. Apresentam um baixo valor calórico, pouca gordura e “contêm um interessante valor proteico para uma fonte não animal”, segundo o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde. São destacados ainda o conteúdo de fibras, as quantidades de vitaminas, minerais, substâncias com características antioxidantes e os micronutrientes.

Guisoto à Transmontana
(4 pessoas)
Chef Eliseu Amaro | Restaurante A Lareira

INGREDIENTES
1 dl de azeite
1 dl de água
250 g de cebolas às rodelas
1 kg de batatas às rodelas
250 g de cogumelos lactarius deliciosus
15 g de sal
Ervas aromáticas frescas a gosto (salsa, alecrim e tomilho)
Pimenta a gosto

PREPARAÇÃO
Colocar o azeite e a cebola no fundo do tacho, fazer camadas alternadas de batatas e cogumelos. Cobrir com a água, colocar os condimentos e as ervas aromáticas. Depois de começar a ferver, deixar cozer durante meia hora.

 

# COGUMELOS COMUNS EM TRÁS-OS-MONTES
Na região transmontana há cogumelos durante praticamente o ano todo. Surgem em prados, florestas ou bosques e apresentam-se nas mais variadas colorações. Mas nem todos são comestíveis.

Boletus Aestivalis
CARNE: firme, de cor branca, imutável. Sabor doce aroma agradável
HABITAT: floresta de folhosas na primavera, verão e início de outono por vezes
COMESTIBILIDADE: excelente

Boletus Aestivalis (Fotografia: DR)

 

Boletus Edulis
CARNE: firme, de cor branca, imutável. Sabor doce, aroma agradável, entre a noz e avelã
HABITAT: bosques de folhosas e resinosas, sobretudo no outono; solos ácidos
COMESTIBILIDADE: excelente

Boletus Edulis (Fotografia: DR)

 

Amanita Rubescens
CARNE: branca, corando de vermelho vinoso ao corte nas partes feridas e difusamente nos exemplares mais velhos. Sabor adocicado, aroma leve a fungo
HABITAT: bosques de folhosas e resinosas, na primavera, verão, outono
COMESTIBILIDADE: razoável, apenas depois de cozido, rejeitando a água da cozedura. Tóxico quando cru ou mal cozinhado. Fácil de confundir com o Amanita Pantherina, que é tóxico.

Amanita Rubescens (Fotografia: DR)

 

Amanita Pantherina
CARNE: branca mole. Sabor doce, odor débil
HABITAT: sobretudo folhosas mas também resinosas. Mais no outono.
COMESTIBILIDADE: bastante tóxico

Amanita Pantherina (Fotografia: DR)

 

Amanita Muscaria
CARNE: carne branca, amarelo alaranjado sob a cutícula. Sabor doce e odor quase inaparente
HABITAT: folhosas e resinosas, primavera e outono. Solos ácidos
COMESTIBILIDADE: tóxico

Amanita Muscaria (Fotografia: DR)

 

Amanita Phalloides
CARNE: branca, aroma agradável
HABITAT: florestas de folhosas e resinosas, mais no outono. Solos preferencialmente não alcalinos
COMESTIBILIDADE: tóxico, mortal

Amanita Phalloides (Fotografia: DR)

 

Amanita Caesarea
CARNE: amarelada, pálida no interior.Sabor doce, agradável, aroma débil
HABITAT: espécie mediterrânica, termófila, aparece em bosques de folhosas e resinosas no verão e outono
COMESTIBILIDADE: excelente, pode consumir-se cru ou cozinhado

Amanita Caesarea (Fotografia: DR)

 

Agaricus Xanthodermus
CARNE: esbranquiçada, ficando amarela mais na base do pé. Sabor desagradável a iodo e aroma a fenol ou tinta
HABITAT: aparece em prados, no outono e na primavera
COMESTIBILIDADE: tóxico, provoca gastroenterites por vezes graves

Agaricus Xanthodermus (Fotografia: DR)




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend