Os vários bacalhaus do restaurante Julinha

Restaurante Julinha, na Trofa. (Fotografias de Pedro Correia/Global Imagens)
Está mais que assegurada a continuidade desta casa, na Trofa, que nasceu com o despertar de uma vocação para a cozinha que depressa se tornou ponto obrigatório para a comunidade gourmet nacional.

O ano de 1940, estava o Mundo em guerra, marca sem querer o início de uma autêntica epopeia e por tabela de um dos grandes momentos históricos da restauração portuguesa. Com apenas oito anos, a pequenina Júlia dá os primeiros passos na cozinha da tasca e mercearia – chamava-se venda a este tipo de estabelecimento – da sua mãe, para nunca mais abandonar o gosto nem o posto. Para a mãe e para toda a gente, era a Julinha.

Num dia feliz, e por convite do tio materno mais velho, que era o diretor do Celeiro de Braga, a Julinha foi ao restaurante onde oficiava a mítica Eusébia (restaurante Narcisa), deixando uma semente funda na vontade e dedicação que lhe ficou para o resto da vida. Volvidos vinte anos, por volta de 1960, a casa muda o nome para Julinha, servindo principalmente o bacalhau à moda de Braga que aprendera no Narcisa. Frito, com cebola e batata fritas. E bom, muito bom, por ratificação universal, deixou memórias inefáveis no coração de todos os que o provaram. A posta da Julinha é de antologia.

Mulher inteligente e acordada, logo que pressente no filho Fernando Moreira de Sá a vontade de aprofundar os seus conhecimentos e artes culinárias, apoia-o na inscrição na exigente Escola de Hotelaria de Santiago de Compostela. Aí teve contacto com a vanguarda culinária espanhola e ganhou tarimba internacional. Trocou contudo os altos voos pelo reforço da equipa do Julinha, o que naturalmente fez as alegrias da mãe.

Em 1990, o chef Fernando Sá assume o comando dos fogões, com o respeito integral pela história da casa e com a inovação que entendeu imprimir ao projeto. Vinte anos depois, passa o testemunho à sua mulher, Elisabete Cerqueira de Sá e até 2014, quando morre a Julinha, conviveram em harmonia.

Entre as maravilhas entretanto criadas, o bacalhau na panela, autêntica fusão de técnicas e receitas, é a menina dos olhos de Fernando, mas sempre foi o bacalhau à Julinha que com total justiça marcou o topo das preferências. O bacalhau das ilhas de Faroé, de dimensão, peso e sabor sem precedentes, é a base da posta do Julinha e os processamentos que a ciência culinária de Fernando lhe acrescenta são de grande fôlego. Ainda a procissão vai no adro.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 




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