Da longa relação do chef Vítor Sobral com os Açores e, em particular, com a ilha Terceira, nasceu um novo restaurante, o primeiro que abre no arquipélago. A Oficina da Esquina, na cidade de Angra do Heroísmo, classificada como Património da Humanidade pela UNESCO, entrou em funcionamento em setembro, integrada no aparthotel The Shipyard, do empresário terceirense Raimundo Borges. O projeto, erguido no lugar das antigas oficinas da Câmara Municipal, vai buscar inspiração ao mar, ali tão próximo.
O peixe pescado no dia surge em destaque na carta desta Esquina – que, como as demais, em Portugal continental e no Brasil, investe numa “cozinha regional, tradicional e lusófona”, abrilhantada pelos saberes e técnicas adquiridos por Vítor Sobral em mais de três décadas de carreira. Em Angra, o chef serve tártaros, marinados, moquecas e arrozes de peixe, entre outras propostas confecionadas, essencialmente, com produtos açorianos e, em concreto, da Terceira: cherne, lírio, lapas, batatas, laticínios, mas não só.
A carne também tem espaço naquela mesa – do animal no seu todo, sem desperdícios. Daí que haja na ementa língua de vaca e bochechas de porco, por exemplo. Os grelhados são uma aposta forte desta casa, com serviço de takeaway, que, de segunda a sexta, ao almoço, apresenta uma sugestão do dia por 14 euros (inclui entrada, prato e sobremesa). Aquando da nossa primeira visita, a proposta era sandes de peixe-espada frito em pão brioche, mas os pratos vão mudando consoante os ingredientes disponíveis, tendo em conta, também, a sua sazonalidade. E são complementados com uma carta de vinhos que privilegia os rótulos portugueses de topo – em especial, os dos Açores -, sem perder de vista referências de outros países.
Entre os fornecedores de Vítor Sobral na Terceira está a Peixaria Silveira, junto ao porto de São Mateus. Um negócio familiar, com quase 40 anos, que aposta em peixe fresco e marisco vivo (da abrótea às cracas açorianas, saboreadas com ajuda de um palito) e também vende pescado congelado – o processo de transformação é feito ali mesmo.
Aquela peixaria também tem uma loja no Mercado Duque de Bragança, em Angra do Heroísmo, outro lugar onde o chef se abastece de matérias-primas da terra. Ele bem dizia, para começo de conversa, que a Terceira tem “produtos maravilhosos”, entre outros atrativos. Das piscinas naturais à serra, passando pela arquitetura, não faltam razões para visitar essa ilha que faz a festa, desde logo, à mesa.
Os fornecedores locais
BIOFONTINHAS Avelino Ormonde dedica-se à agricultura biológica há 30 anos (“antes da moda”), na freguesia de Fontinhas. Hoje, além de trabalhar como agricultor, é consultor e dá formação em todo o arquipélago dos Açores, procurando deixar uma semente em cada ilha. Já a panóplia de vegetais que produz destina-se à Terceira, onde tem alguns clientes na restauração – entre eles, o chef Vítor Sobral. “Produzir local, consumir local, mas pensar global” é um lema de Avelino, que abdicou das máquinas e atribuiu a todos, ali, uma função. Produzir fertilizante é a função de Popota, uma porca do Vietname que partilha casa com galináceos.
MERCADO DUQUE DE BRAGANÇA Vítor Sobral defende o aproveitamento por inteiro dos animais para consumo, e um dos sítios onde compra carne de porco e enchidos (como a tradicional chouriça de peles) é o Talho Garcia, no Mercado Duque de Bragança, em Angra do Heroísmo. Aquando da nossa visita, o chef aproveita ainda para comprar araçás na banca de Manuel Orlando Machado. Esse fruto da família da goiaba há-de ser integrado num prato de espadarte servido, pouco depois, na Oficina da Esquina – com cebolinho da BioFontinhas.
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