Crítica de Fernando Melo: O Galito, em Lisboa

O Galito tem uma coleção de pratos-estrela que não se esgota nem numa semana de visitas. (Fotografia: DR)
A cozinha alentejana na forma mais depurada, liberta de todo o atavismo e concentrada apenas no pináculo de prazer de cada petisco, tempero ou caldo. O Galito mostra-nos o futuro de sempre e sossega-nos a alma, aqui está tudo certo. Mais simples é impossível, e é isso que o torna inimitável. Rendamo-nos então!

Henrique Galito é o obreiro e anfitrião da pequena-grande catedral em que se tornou O Galito. A saga lisboeta começa em 1992, inspirado na matriz original de Aldeia da Serra (Redondo), o Café Galito, fundado por Miguel Galito Jr., pai de Henrique, e Gertrudes, sua mãe. Estudou e especializou-se em Lisboa nas artes da gestão, e trabalhou na banca, quando não imaginava o que o destino lhe tinha reservado. Depois aconteceu o inevitável, deixou o banco e estabeleceu-se, transformando a papelaria de Carnide onde oficiou a casa original, para instalar um negócio.

Gertrudes começa a transmitir os seus muitos conhecimentos, e a genética triunfou junto do aprendiz Henrique receitas feitas de cabeça, tradição rapidamente herdada e declinada com total respeito pelos modos e jeitos de sempre O desaparecimento de Miguel exacerbou a correção da opção de Henrique em secundar de perto a sua mãe. Gertrudes deixou-nos em outubro de 2018, com a continuidade vastamente assegurada, o filho na cozinha, secundado pelos filhos Daniel, biónico como o pai, e Leonardo, que enveredou por uma carreira de cozinha evolutiva mas com a tradição incrustada.

Uma refeição no Galito começa sempre no petisco e termina sempre em pináculo feliz de satisfação. Empada de galinha (1,90 euros), salada de coelho (3,80 euros), torremos do rissol (6 euros), queijo (4,50 euros) e cabeça de xara (6,50 euros), entre outros, cumprem o desígnio nobre de nos preparar para o que aí vem. Todo um desfile de luxo, pratos primorosamente executados linha inefável de raízes e proximidade que é, afinal, o grande reduto da cozinha portuguesa mais autêntica.

Há uma tríade que me atrevo a sugerir: Açorda alentejana com bacalhau e ovo escalfado (14,50 euros), pezinhos de porco de coentrada (14,50 euros) e arroz de pombo bravo (17,50 euros). Soluções incrivelmente sápidas que nos põem a pairar pelo Alentejo mais profundo, numa coleção de pratos-estrela que não se esgota nem numa semana de visitas. A sopa de tomate com garoupa e ovo escalfado (18 euros), surge de vez em quando nos especiais do dia e a sopa de cação (16 euros) é de nível galáctico.

Na minha última investida, havia burras (mandíbulas de porco) assadas no forno com arroz de coentros (14,50), uma delícia incontornável na casa. Nesta altura do ano, sai também a irrecusável cabidela de galinha do campo (15,50 euros), de nível antológico. O quadro vínico é copioso, Daniel é exemplar no seu ofício, e a doçaria segue a lógica de viagem pelo paraíso. Felicidade é mesmo isto.

(Fotografia: DR)


A refeição ideal:

Empada de galinha (1,90 euros un.)
Torresmos do rissol (6 euros)
Sopa de cação (16 euros)
Arroz de pombo bravo (17,50 euros)


Avaliação (estrelas):

O serviço – 4,5
O lugar – 4,5
A comida – 5

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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