Crítica de Fernando Melo ao restaurante Casta 85, em Alenquer

Casta 85 (Fotografia: DR)
Tranquilamente instalado na muito sua Alenquer, o chef João Simões fez a opção que poucos ousam assumir. Trocou há nove anos a ribalta culinária pela simplicidade da cozinha de raízes e proximidade. Foi pioneiro e valeu a pena: o Casta 85 merece bem a visita e é uma inspiração para muitos da sua arte.

O título da peça é inspirado numa obra central de Teixeira de Pascoaes, em que defende uma espécie de secessão espiritual e postula o sentido de missão que caracteriza o português. “Artes de ser cristão em Portugal”, assim se chama o livro, e assim ilustro a moção da diferença a que o chef João Simões decidiu em boa hora atender. Portugal tem dificuldade em acreditar e apoiar com longanimidade os seus heróis, especialmente quando não gozam da tutela financeira de grupos económicos que os libertam da maioria das vicissitudes da atividade. Um restaurante é barco frágil, difícil de levar.

Casta 85 (Fotografia: DR)

Casta 85 (Fotografia: DR)

Casta 85 (Fotografia: DR)

 

Sentados à mesa, vão-se os problemas. A canja de codorniz com o seu escabeche, torricado e ovo escalfado é delicada e pouco extrativa, além de que se trata de uma ave que aqui tem a sua bandeira; proximidade assumida, portanto. As vieiras coradas, espuma de batata raíz-de-cana e creme de trufa (16 euros) é delicada, uma entrada deliciosa que urge conferir. Igualmente fascinante é o carabineiro, o seu jus e couve-flor (23,50 euros). Por mim ficava por aqui, repetia estas três obras até à exaustão, mas há muito a desbravar. Espera-nos no capítulo peixeiro por exemplo a genial lula grelhada e a manteiga de limão e coentros, na melhor tradição estival; a brilhante garoupa corada com sabores de caldeirada (18 euros), que miúdos e graúdos devoram com avidez; e o “simples” cachaço de bacalhau grelhado com couve, batata e broa (18 euros), canónico e celestial de ADN bem português. As carnes reservam muitas e boas surpresas e uma delas é o bife da vazia com ovo e batata frita (19,50 euros), inspiração cervejeira assumida, tratamento de luxo. Original e bem declinado o Wellington de borrego (17 euros), a evocar a receita clássica. As bochechas de vitela naquele molho com texturas de batata (18 euros) são de antologia. E recomendo o hambúrguer de alheira a lembrar a alheira na chapa (12,50 euros), prato inteligente a oferecer as texturas que o enchido fumado mais popular apresenta, com elevação de alta cozinha. Há sobremesas que vêm como proposta no final da refeição a que devemos atender porque é para o nosso bem. O chef João Simões é ainda jovem, mas já decano nas artes da mesa e sabe organizar a refeição. É mestre do ofício que com tanta paixão abraça. E… Alenquer é já ali!

A refeição ideal
Queijo castiço na chapa (5 euros)
Ceviche à nossa maneira (15 euros)
Canja de codorniz com o seu escabeche, torricado e ovo escalfado (7,50 euros)
Lula grelhada com manteiga de limão e coentros (15,50 euros)
Bife tártaro de wagyu (24 euros)

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Mapa da ficha ténica
Morada
Largo do Espírito Santo, 31, Alenquer
Telefone
915 761 911
Horário
Das 12h às 15h e das 19h30 às 23h.Encerra ao domingo
Custo
() Preço médio: 27 euros


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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