Quem ouve Américo Fernandes assobiar, enquanto fatia uma perna de presunto atrás do balcão, não adivinharia que tem a casa cheia. Afinal, tem sido assim todos os dias, aos almoços e jantares, há mais de três décadas, desde que comprou o restaurante ao grupo de galegos que o fundou, nos anos 30. Tinham passado poucas semanas desde o incêndio do Chiado, no final do verão de 88, quando Américo deixou um espaço ligado à ginja, também na Baixa, para se dedicar a esta casa, quase centenária.
Assim que se vira a esquina que liga a Rua das Portas de Santo Antão à Travessa do Forno, é normal ver-se fila de espera para entrar n’A Provinciana, que não aceita reservas. A receita para esta casa cheia não é secreta, nem revolucionária, mas é escassa na capital, muito mais nesta zona da cidade: doses generosas, preços simpáticos, cozinha típica portuguesa. Não há como enganar.
A juntar a toda esta equação está a pequena mas vencedora equipa que mantém as mesas d’A Provinciana sempre ocupadas. Uma dinâmica familiar, onde se domina o bem receber com simpatia e humor, protagonizada por Américo ao balcão, a filha Carla na sala e a mulher Judite na cozinha, “a melhor cozinheira que temos, até porque é a única”, brinca, entre risos, o dono do restaurante.
Da cozinha de Judite saem, a velocidade vertiginosa, os pratos do dia, bem servidos e sempre à volta dos cinco euros. À segunda aposta-se no bacalhau à minhota e galinha de cabidela, à terça numa chanfana de cabra e nos lagartinhos, à quarta num pernil de porco, à quinta num cozido à portuguesa e à sexta num bacalhau à lagareiro e num cozido de grão. Ao sábado, celebra-se o fim de semana com uma caldeirada de bacalhau.
Junta-se a estes outras propostas na grelha e na brasa, como os choquinhos, o salmão e as sardinhas, e é o suficiente para se ter um público fidelizado. “Até os turistas voltam todos os dias, enquanto cá estão”, atira o comunicativo Américo. “Gosto de falar. Toda a vida lidei com o público, aprendendo coisas novas todos os dias”, explica o beirão, natural de Castro Daire, que veio para Lisboa no rescaldo do 25 de Abril.
Já anterior à Revolução dos Cravos é a azulejaria que forra as paredes do restaurante, mantidos desde a sua fundação. Depois disso vieram os mais de 70 relógios em madeira, todos feitos por Américo Fernandes, que decoram A Provinciana, com as diferentes formas e feitios. O jeito, herdou-o do pai, que costumava fabricar pipas. Mas que não restem dúvidas: “Aprendi a fazê-los sozinho”, conta, entre risos.
A Refeição
Sopa do dia – 1,20€
Prato do dia (bacalhau à minhota, galinha de cabidela, chanfana de cabra, pernil de porco, cozido à portuguesa, bacalhau à lagareiro, caldeirada de bacalhau) – entre 4,50€ a 5,50€
Sobremesa (torta de laranja, bolo de bolacha, arroz doce, tarte de maçã ou bolo de profiteroles) – 2,35€
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