A primeira vez os australiano Andy Mayer e Travis Cunningham visitaram o Porto ficaram encantados com a cidade e decidiram que era na Invicta que queriam viver e criar os dois filhos. Aqui, Travis iria concretizar o seu projeto de abrir uma destilaria de rum e Andy, que não bebe rum, de criar gins e abrir uma escola para ensinar a destilá-los.
Nasceu assim no verão passado a Scoundrels Distilling e Escola de Gin Invicta. Instalada na Praça da Corujeira, a destilaria não passa despercebida. Um balcão separa a rua da sala de provas, onde se podem degustar os três gins da marca com receitas originais de Andy: o International Dry, o Strength Navy e o Portuguese Citrus. Todos eles são destilados num alambique de 150 litros, o mesmo onde Travis destila o rum. Este está em processo de envelhecimento, não tendo sido ainda engarrafado. O gin é mais rápido. Em 14 horas está destilado, até porque o álcool neutro base (de arroz e trigo) que lhe vai dar origem não é destilado por eles.
É no centro da destilaria, à volta de uma mesa preenchida com muitos frasquinhos de botânicos que começa a aula, não sem antes Andy ensinar aos seus formandos todas as regras de segurança. Depois, explica passo a passo como fazer um gin, desde a obrigatoriedade do zimbro a todas as combinações possíveis de botânicos para se criar os aromas e os paladares que se pretende. Há cascas de citrinos desidratadas, as mais variadas ervas aromáticas, bagas e sementes. Quase tudo oriundo de pequenos produtores. “As tangerinas fomos nós que andámos a colher em Melres”, conta. Receitas preparadas, a próxima etapa é a destilação que se faz em sala própria em pequenos alambiques de cobre. Cada aluno rapidamente destila o seu meio litro de gin, que depois engarrafa, rotula com um nome original e leva para casa.
É notório o gosto pelo gin de Andy, que fez já muitas receitas até chegar às que agora são comercializadas sob a marca Invicta. Mas o gosto de criar bebidas alcoólicas vem de longe. Por questões profissionais, o casal já viveu no Irão, na Mongólia, Nigéria ou Arábia Saudita. E foi aqui – num país onde as bebidas alcoólicas são proibidas – e começou a produzir o seu próprio vinho e cerveja. “Fiz vinho péssimo, sou melhor a fazer gin”, brinca.
Toda a destilaria foi construída por Travis durante os dois anos de pandemia. Para montar tudo, foi necessário comprar o destilador principal e os mais pequenos para as experiências e as aulas, arranjar as barricas de carvalho americano com tosta de porto onde agora o rum está a envelhecer, experimentar várias receitas de gin e conseguir todas as autorizações necessárias para o negócio.
Mas desde que chegaram, em 2017, que se sentiram em casa e rapidamente conheceram produtores de cerveja artesanal, chefs, artistas e artesãos da cidade, bem como a vizinhança da Corujeira, que com curiosidade os recebeu bem. Com alguma frequência abrem as portas da destilaria para pequenas feiras, onde não faltam pop ups de cozinha, bancas de produtos artesanais e, claro, muito gin.
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