Um mergulho pela Serra da Lousã

Quem disse que férias no campo não podem ser também sinónimo de praia? Nas serranias da Lousã, por entre as típicas aldeias de xisto, são várias as propostas fluviais para ir a banhos. À beira do rio Ceira ou no sopé das ribeiras de montanha, há-as para todos os gostos, não faltando sequer uma praia selvagem.

Na esplanada, sob a sombra das árvores, duas jovens tentam disfarçar o entusiasmo, enquanto observam os mergulhos de um grupo de rapazes, desde a prancha mais alta. Com cerca de trinta graus na serra, as frescas águas da Ribeira de São João são o melhor bálsamo para este final de verão, que teima em manter-se quente e, pouco tempo depois, também elas estão de molho.

Nascida a apenas algumas centenas de metros acima, no topo da serra, esta ribeira, afluente do Ceira, cai aqui sob a forma de uma pequena cascata, formando uma piscina natural que é desde há muito um principais cartões-de-visita do concelho da Lousã.

Encontra-se equipada com todas as mordomias balneares, é vigiada e recentemente foi construída uma rampa de acesso à água, que a torna também uma praia acessível a todos. Mas se a piscina, propriamente dita, está por vezes quase lotada, especialmente ao fim de semana, basta apenas caminhar alguns metros para montante, ao longo das ruínas das velhas azenhas, para se conseguir um quinhão de paraíso – nem que seja só por algumas horas. E o paraíso é algo que, por aqui, se manifesta sob as mais variadas formas.

Como naquele enorme rochedo, sobranceiro à piscina, onde o restaurante o Burgo eleva ao céu os mais tradicionais sabores da gastronomia serrana sob a forma de chanfana, cabrito no forno, veado estufado ou javali com castanhas. Claro que quem optar pelo pecado da gula terá de esperar mais um pouco antes de ir a banhos. O melhor, nesse caso, é dar um passeio pelas redondezas, para ajudar à digestão e ficar a conhecer melhor toda esta zona, habitada desde o tempo dos romanos.

Ali bem perto, no cimo da estrada para as piscinas, fica o Castelo de Arouce, uma fortificação do século XII, pertencente à primeira linha defensiva do Mondego, que à época permitiu a fixação das populações cristãs. O povo, porém, atribui-lhe outra origem. Teria sido mandado construir pelo rei mouro Arunce, para proteger a filha Peralta das hostes cristãs, lideradas pelo cavaleiro Lausus, por quem a princesa se apaixonou. Segundo esta lenda, tanto o amado como o pai de Peralta acabariam mortos em batalha, acabando a donzela trancada para sempre no castelo.

No sentido contrário, os degraus que conduzem às Ermidas da Senhora da Piedade, situado no morro em frente ao Castelo, são também um bom exercício. Mas vale bem o esforço, para visitar o conjunto de três capelas que compõem este importante santuário Mariano. A mais próxima (e antiga) é a capela de S. João, construída entre os séculos XIII e XIV. Em seguida surge à capela da Agonia, edificada no século XVIII, chegando-se por fim, através de uma íngreme escadaria em xisto, à capela de Nossa Senhora da Piedade, mesmo no topo do morro, onde as paredes caídas de um branco imaculado contrastam com o exuberante verde do horizonte serrano, que aqui se abre em todo o seu esplendor, numa vista panorâmica sobre o vale.

Praia azul e dourada

Com o objetivo de facilitar o acesso a estas zonas balneares, a câmara da Lousã criou este ano dois circuitos especiais de autocarro, que até 13 de setembro irão ligar diariamente, das nove às 19h, o centro da vila às principais praias fluviais do concelho.
A aposta, por parte da autarquia, em transformar a Lousã num destino balnear alternativo ao litoral não se fica no entanto por aqui.

Veja-se o caso da praia fluvial da Bogueira, em Casal do Ermio, que para além de ter hasteada a bandeira azul, foi este ano classificada pela associação ambientalista Quercus com Qualidade de Ouro.

Atribuído no início de cada época balnear, este selo tem como objetivo reconhecer as zonas balneares de maior qualidade ambiental. Para isso acontecer, as praias têm de apresentar uma qualidade da água excelente, durante seis anos consecutivos.
Mas mesmo sem o brilho do ouro se percebe que esta praia é uma verdadeira jóia. Protegida do sol pela sombra de árvores centenárias, a esplanada suspensa sobre o rio é um dos locais mais concorridos desta praia, situada junto a um pequeno açude, que aqui alarga o curso do Ceira, desenhando um bucólico cenário, onde nem faltam canoas a deslizar pelas águas.Um passadiço madeira, paralelo ao açude, liga à outra margem, onde existe um relvado e uma piscina para crianças. Dispõe de bar, casa de banho, zona relvada e uma rampa permite o acesso ao rio a pessoas com mobilidade reduzida.

Com tanta facilidade, não portanto de admirar que o cenário à volta da praia da Senhora da Graça, em Serpins, faça por momentos lembrar o mais concorrido areal do verão algarvio, tal a quantidade de gente. Mas só por momentos, é que apesar de também haver areia, poucas praias podem ser atravessadas de um lado ao outro, por uma ponte suspensa a fazer lembrar os filmes de Indiana Jones.

E muito menos têm um luxuoso deck em madeira, para mergulhar na parte mais funda, ainda assim com apenas dois metros de profundidade. Se a isto acrescentarmos o facto de ser vigiada e acessível, dispor de balneários, piscina infantil, esplanada junto à água e de um parque desportivo relvado, percebe-se o porquê de ser uma das mais concorridas do concelho. Quem tocavia preferir locais mais naturais (leia-se sossegados) também tem uma alternativa ali bem perto, nesta mesma freguesia. Apesar do acesso fácil, o melhor é perguntar a alguém conhecedor da zona, pois não existe qualquer indicação.

O acesso faz-se pela estrada que liga Serpins a Vila Nova do Ceira. Depois de Serpins, cruza-se a ponte de Maria Mendes e em seguida vira-se na segunda estrada de terra à direita. Cerca de um quilómetro depois, já no limite entre os concelhos da Lousã e de Góis, chega-se finalmente a um dos mais preciosos e desconhecidos tesouros da região, o Cabril do Ceira. Com dezenas de metros de altura, este magnífico desfiladeiro rasgado na rocha pela confluência do rio Sotam com o Ceira, faz lembrar uma «espécie de mini-fiorde», como alguém ao lado o descrevia, enquanto registava o momento numa fotografia.

No seu sopé, forma-se um pequeno lago, onde também se vai a banhos. Aqui não há esplanadas, relvados ou sequer nadador-salvador. Apenas estas cristalinas águas correntes e algumas árvores, que servem de balanço aos mais afoitos, na hora de saltar para a água. À exceção de um ou outro grupo de amigos e daquele casal de namorados, a apanhar sol na outra margem, o local está quase vazio. São bem amplos, afinal, os quinhões de paraíso ainda existentes por aqui.

 

DORMIR

Hotel Palácio da Lousã
Palácio da Lousã – Boutique Hotel
Rua Viscondessa do Espinhal, Lousã
Tel.: 239 990 800
Quarto duplo a partir de €85 (com pequeno-almoço)
Web: www.palaciodalousa.com

 

COMER

O Burgo
Ermida da Senhora da Piedade, Lousã
Tel.: 239 991 162 / 912 784 692
Aberto de segunda a sábado, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h, e domingo, das 12h30 às 15h
Preço médio por refeição: 20 euros
Web: www.facebook.com/Oburgodalousa

Ti Lena
Talasnal, Lousã
Tel.: 933 832 624 / 911 932 948 (reserva obrigatória)
Aberto todos os dias de julho a setembro, das 12h30 às 15h e das 19h às 23h. Nos restantes meses abre apenas ao fim-de-semana
Preço médio por refeição: 15 euros
Web: www.rtilena.wix.com/tilena

A Viscondessa
Palácio da Lousã, Rua Viscondessa do Espinhal, Lousã
Tel.: 239 990 800
Aberto todos os dias, das 13h às 15h e das 20h às 23h
Preço médio por refeição: 25 euros
Web: www.palaciodalousa.com

Aviz
Rua Viscondessa do Espinhal, 10, Lousã
Tel.: 239 047 943 / 924 412 038
Aberto de segunda a sábado, das 10h às 23h30
Preço médio por refeição: 10 euros

Sabores da Aldeia
Candal, Lousã
Tel.: 239 991 393
Aberto de sexta a domingo das 12h às 22h
Preço médio por refeição: 15 euros
Web: www.facebook.com/Sabores-da-Aldeia




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