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Onde encontrar comida do Médio Oriente em Lisboa?

Percorra a fotogaleria para conhecer alguns dos restaurantes com cozinha do Médio Oriente, em Lisboa. (Fotografia Jorge Amaral/GI)
1. Za'atar, Cais do Sodré O nome vem de um dos temperos mais usados na região do Médio Oriente: uma combinação de sumagre, tomilho, sésamo e orégãos. (Fotografia DR)
1. Za'atar, Cais do Sodré O restaurante abriu este ano, na Rua de São Paulo, com a assinatura do chef José Avillez e o libanês Joe Barza. A equipa passou uma temporada em Beirut, para aprender algumas das técnicas e sabores tradicionais do Líbano, que agora reproduzem no Za'atar. (Fotografia DR)
2. Muito Bey, Cais do Sodré A dois passos do jardim D. Luís fica este moderno libanês, um dos primeiros da nova vaga a abrir na cidade. O nome resulta de uma brincadeira entre a expressão portuguesa «Muito Bem» e a sigla do aeroporto de Beirut, BEY. (Fotografia DR)
2. Muito Bey, Cais do Sodré Na carta há um menu de degustação pensado para dois, para facilitar as escolhas no restaurantes. A carta divide-se, claro, em mezzes frios e quentes; grelhados e saladas. Na secção da padaria está ainda o pão manuché (achatado e quente) que pode vir com diferentes condimentos e acompanhamentos. (Gerardo Santos / Global Imagens)
3. Mezze O projeto de integração de refugiados sírios Pão a Pão deu origem ao restaurante Mezze, em 2017. O espaço fica no Mercado de Arroios, é simples e está decorado com algumas imagens da Síria e livros nas prateleira. A mesa comprida lembra que esta gastronomia é feita de partilha. (Carlos Costa/Global Imagens)
3. Mezze Através do balcão é possível ver a equipa a preparar a massa frita recheada com carne, o kibe, a pasta de beringela conhecida por babaganoush e o recheio de tomilho do pão achatado saj. (Carlos Costa/Global Imagens)
4. Sumaya, Príncipe Real Do proprietário do Atalho Real, o restaurante especialiazado em carnes do Príncipe Real, abriu este Sumaya. Era o nome da avó de Tarek, que apesar de ter nascido no Líbano vive em Portugal desde criança. Já algum tempo que queria ter comida do seu país em Lisboa e aproveitou a oportunidade quando o Prego na Peixaria se mudou para Algés. (Jorge Amaral / Global Imagens)
4. Sumaya, Príncipe Real De Itália trouxe um chef libanês, que é fiel às receitas clássicas e dispensa reinvenções como húmus de beterraba. Também os vinhos são fiéis ao país de origem de Tarek: há uma boa diversidade de vinhos libaneses para experimentar. Na imagem está Mhamara, uma pasta de pimentos vermelhos e nozes. (Jorge Amaral / Global Imagens)
5. Tantura, Bairro Alto Elad Budensthteiin e Itamar conheceram-se em Tel Aviv, mas deixaram-se encantar por Lisboa na primeira visita, em Lua-de-Mel. Juraram voltar e assim foi. No Bairro Alto, nasceu algum tempo depois o Tantura, nome de uma pequena vila onde viveram durante algum tempo, em Israel. (PAULO SPRANGER/Global Imagens).
5. Tantura, Bairro Alto Na carta do restaurante, encontram-se pratos comuns a todo o Médio Oriente, como o húmus e o tabbouleh, mas também outros como shakshouka [ovos escalfados em molho de tomate e pimentos], que originalmente é da Tunísia, mas foi introduzido na cozinha israelita. (Paulo Spranger/Global Imagens).

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Grão-de-bico sempre casou bem com guisados e sopas portuguesas, além de fazer um par perfeito com o bacalhau. Mas nunca o moemos, juntámos pasta de sésamo, especiarias, limão e azeite. O húmus não nos pertence, mas nos últimos dois anos tomou conta das cartas de restaurantes, em Portugal e mundo fora. Seja como entrada ou parte do brunch, esta versátil pasta de grão tornou-se, subitamente, palavra internacional. «É o efeito de uma crescente preocupação com a cozinha saudável e o movimento vegetariano», diz Tarek Mabsout, nascido em Beirute, mas criado em Lisboa. É dono do Atalho Real e, recentemente, resolveu homenagear a avó libanesa ao abrir um segundo restaurante no Príncipe Real, o Sumaya.

A cozinha libanesa foi, talvez, a primeira a conquistar a capital a sério. Os Fenícios, aberto desde 2009, é uma referência na cidade, mas entre os mais recentes contam-se o restaurante-mercearia Casa dos Cedros que acaba de abrir no Marquês de Pombal (pertence à filha dos donos d‘Os Fenícios); e, no Cais do Sodré, o Muito Bey, a padaria Saj Bakery e o Za’atar, fruto da parceria entre José Avillez e o chef de Beirute Joe Barza. «Comecei a promover a cozinha libanesa há 20 anos e acho que agora está entre as cinco melhores do mundo. É talvez das mais saudáveis», diz Barza. «Somos quatro milhões a viver no Líbano, mas espalhados pelo mundo fazemos 20 milhões. A gastronomia libanesa é conhecida no Brasil e nos Estados Unidos. Na Europa está também a crescer», continua o chef.

O húmus do Sumaya, o novo restaurante da Rua da Escola Politécnica, no Príncipe Real.
(Jorge Amaral / Global Imagens)

 

Itamar Eliyahu, que abriu com o marido Elad Budensthteiin o restaurante israelita Tantura, no Bairro Alto, sublinha que a maioria das cozinhas do Médio Oriente em Lisboa são libanesas. Reforça, no entanto, que «há um movimento para abrir restaurantes de diferentes gastronomias do mundo na capital». «Antes parecia que só havia espaço para tascas, restaurantes, italianos e franceses, mas está a mudar. Fico contente por termos sido pioneiros com a comida israelita», diz Elad, que é de Tel Aviv.

É impossível não referir ainda o projeto de integração de refugiados sírios Pão a Pão, que deu origem ao restaurante Mezze, no Mercado de Arroios, e que inspirou um casal palestiniano, Serenah Sabbat e Hendi Mesleh, a abrir a sua mercearia no mesmo bairro, a Zaytouna. Vendem húmus em lata e babaganoush (pasta de beringela) para os mais preguiçosos, mas também produtos raros como cerveja com aroma de romã e o tradicional doce árabe de pinhões, o halawa. Com tantos pratos semelhantes, afinal o que separa e une a comida israelita, da libanesa, da palestiniana e da síria?

A cozinha que é um «caldeirão de culturas»

Levante é o termo geográfico dado à área que hoje conhecemos como Médio Oriente: Líbano, Síria, Jordânia, Israel e territórios palestinianos. Ou Grande Síria, como era conhecida a região até à queda do Império Otomano. Não é, por isso, de estranhar que grande parte das técnicas culinárias e forma de comer sejam comuns a todo o Levante. «Alimentos crus, o uso de ervas como ingredientes (e não apenas condimentos), sabores ácidos, temperos (como o za’atar), frutos secos (pinhões, pistácios), leguminosas, cereais, pão ázimo e azeite» são elementos comuns a todos estes países, refere Mina Holland no livro O Atlas Gastronómico: Uma Volta Ao Mundo Em 40 Cozinhas (ed. Lua de Papel, 2015). «Tratando-se de um local tão devastado por conflitos, a sua comida tem uma capacidade incrível de unir as pessoas, uma qualidade que se espelha na cultura da mezze da partilha de pratos, mas também no número de pratos que diferentes países ou comunidades religiosas desta área têm em comum». «O libanês gosta de ter muita comida à frente», confirma Tarek Mabsout, dono do Sumaya. «Mas há uma ordem à mesa. Começa-se pelas mezze (pequenos pratos) frias, depois as quentes e no fim os grelhados.»

Uma das discussões mais comuns prende-se com a origem de um destes petiscos, o húmus. «É quase como perguntar quem inventou a vida? É uma eterna questão», diz Elad Budensthteiin do israelita Tantura. A forma de fazer varia de país para país e até de religião. «Nós, judeus, comemos húmus a partir do almoço; já os muçulmanos comem ao pequeno-almoço», acrescenta o companheiro Itamar: «Um prato que não se vai ver no Líbano é a shakshouka [ovos escalfados em molho de tomate e pimentos], que originalmente é da Tunísia, mas foi introduzido na cozinha israelita».

Esta é, aliás, a gastronomia que mais se destaca dentro do Levante, merecendo um capítulo próprio da autora Mina Holland. Esta descreve-o como um «caleidoscópio evolutivo do antigo e do moderno», citando o chef Yotam Ottolenghi, natural de Jerusalém. Mina fala ainda de «uma cozinha em formação e a encontrar o seu lugar» desde que, no pós-guerra, os judeus asquenazes (com origem da Europa Central) e os sefarditas (estes já nos anos 1970-80, vindos de Norte de África e Leste do Mediterrâneo) se fixaram em massa no território, trazendo as suas tradições e adaptando-as aos ingredientes locais.

Nas sobremesas predominam os frutos secos, como pistácios e amêndoas.

A verdade é que estes produtos-base da cozinha do Levante estão facilmente disponíveis em vários pontos do mundo, fazendo que os pratos sejam mais fáceis de exportar, vinca Joe Barza: «Em termos de sabor, a receita acaba por resultar da mesma forma num país estrangeiro». Barza fala do húmus, mas até este tem técnica na hora de fazer. «Encomendo grão-de-bico mexicano, de 12 milímetros, o português é mais pequeno. Coze-se em água com bicarbonato, lava-se outra vez, antes de lhe juntar o tahini [pasta de sésamo], as especiarias, azeite e sumo de limão», explica o chef libanês do Sumaya. Tradicionalista que é, recusa-se a fazer húmus de beterraba e outras variações, só para mostrar algo diferente. «Posso fazer e já fiz, mas não é melhor do que o húmus normal.» Que o caldeirão de culturas que é o mundo também nunca o desvirtue.

Percorra a fotogaleria acima para conhecer os restaurantes que têm comida do Médio Oriente, em Lisboa.

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