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Lisboa: bacalhau para lá do óbvio, na Bacalhoaria Moderna, de Ana Moura

As mesas são espaçadas, para maior conforto e melhor serviço. Nas paredes, um cardume de bacalhaus Bordallo Pinheiro deixa em evidência qual é o produto estrela da casa. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
A chef Ana Moura, de 34 anos, lidera a cozinha da Bacalhoaria Moderna. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
O tártaro de bacalhau com vinagrete de mostarda, agrião e picles de cebola-roxa faz parte do capítulo das entradas. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
Língua de bacalhau panada, coentros e um molho de mostarda e gema de ovo que faz lembrar o pil-pil espanhol. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
Para quem não é fã do fiel amigo, também há esperança – quer no capítulo carnívoro, quer no vegetariano, que inclui esta entrada de alcachofra, espargos brancos, couve-de-bruxelas e molho romesco. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
Se Ana Moura se propõe a refazer um bacalhau com grão, não se perde em virtuosismos: a leguminosa em duas texturas, inteira e puré, textura acrescida num crumble de broa e um troço de lombo a lascar. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
Lombo de bacalhau com couve-de-bruxelas, chalotas e molho de galinha assada. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
O cachaço do bacalhau tem lugar num dos momentos mais gulosos da carta, tenro, untuoso, rodeado de couve branca salteada em manteiga e um molho de estragão e tomate que é uma pena deixar no prato. (Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

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Comecemos pelo óbvio, que o nome não levará ninguém ao engano: quando Susana Almeida e Sousa, arquiteta convertida ao mundo da restauração, convidou Ana Moura para chefiar o restaurante que tinha em mente, o bacalhau já estava no centro de tudo. E a chef, que entretanto já tinha deixado o Cave 23 – onde se chegou a vaticinar que poderia ascender à estrela Michelin –, não se deixou espantar pela abordagem monoproduto. Encarou-a antes como um desafio criativo. Afinal, se há ingrediente-emblema de versatilidade na cozinha portuguesa é este.

«Aqui só entra o bacalhau de cura tradicional, e proveniente da Islândia», Susana faz as apresentações. Quer isto dizer, o fiel amigo tal como os portugueses o conhecem, porém trabalhado de uma forma que os surpreenda. E que, de caminho, consiga também aliciar os estrangeiros menos habituados à intensidade de sal e azeite que por vezes envolve (ou mascara) as preparações tradicionais.

Susana e Ana encontraram o sítio certo para montar uma Bacalhoaria Moderna numa rua secundária do centro da cidade, antiga morada do templo do sushi Assuka. Uma sala com espaço q.b. para colocar um balcão de bar em mármore à entrada, uma garrafeira de vinhos pensados para bacalhau a fazer de divisória e, adiante, duas fileiras de mesas, suficientemente apartadas entre si para manter o aconchego e facilitar o serviço de mesa. E com uma ampla janela ao fundo, a cozinha a ver-se sem se impor. Tal como nos pratos.

Se Ana Moura se propõe a refazer um bacalhau com grão, por exemplo, não se perde em virtuosismos: a leguminosa em duas texturas, inteira e puré, textura acrescida num crumble de broa e um troço de lombo a lascar. Aliás, o bacalhau é tratado com nobreza tal que na carta, junto ao nome de cada prato, é identificada a parte implicada. As línguas surgem panadas no capítulo de entradas, num molho de gema de ovo reminiscente do pil-pil espanhol – reflexo, talvez, da passagem da chef pelo triestrela basco Arzak. O cachaço, esse tem lugar num dos momentos mais gulosos da carta, tenro, untuoso, rodeado de couve branca salteada em manteiga e um molho de estragão e tomate que é uma pena deixar no prato – mas há bom pão na mesa para solucionar o desperdício. E o arroz de bacalhau merece também uma linha, caldoso, grão intacto, rico em sabor e ligeiramente picante (mas vale a pena mandar vir uma taça de picante da casa).

Para quem não é fã do fiel amigo, também há esperança: um capítulo de carnes, com um entrecôte e um leitão confitado, e outro vegetariano, onde há fideua de legumes e migas de espargos, de grelos e brocolini. E duas entradas, uma polvo assado e um prato de legumes de época que, por enquanto, traz alcachofra, espargos brancos e molho romesco, belíssima introdução à cozinha de Ana Moura – elegante, depurada, aconchegante. É boa ideia começar por aí, para fugir ao óbvio.

Vinhos e BYOB

A carta de vinhos é enxuta mas suficientemente abrangente, e pensada para harmonizar com bacalhau sem cair nas referências óbvias. Está também disponível a modalidade BYOB («bring your own bottle», isto é: se o cliente quiser levar o seu vinho, ninguém fará cara feia), com a raridade de não ser cobrada taxa de rolha.

 

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Morada
Rua de São Sebastião, 150 (Picoas), Lisboa
Telefone
216053208
Horário
Das 12h30 às 15h00 e das 19h30 às 23h30. Encerra ao domingo e à segunda.
Custo
(€€) Preço médio: 35 euros


GPS
Latitude : 38.7308447
Longitude : -9.150042299999996

 

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