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Comida Independente – Os pequenos e bons numa mercearia

Uma pequena amostra dos enchidos que é possível provar e comprar na Comida Independente. (fotografia: Tiago Pais)
A loja fica num prédio renovado com projeto do arquiteto Carrilho da Graça, entre Santos e o Cais do Sodré. (fotografia: DR)
A garrafeira junta 150 produtores, a grande maioria nacionais. Os vinhos naturais, com a mínima intervenção possível, têm todo o destaque. Há uma mesa com oito lugares onde é possível combinar os vinhos com tábuas de queijos e enchidos. (fotografia: Tiago Pais)
A garrafeira não é só vinho. Também há uma seleção simpática de cervejas artesanais e algumas espirituosas regionais, casos da Aguardente de figo algarvia ou da Aguardente DOC da Lourinhã. (fotografia: Tiago Pais)
Há um pequeno balcão onde se pode, também, beber um copo de vinho (todas as semanas há dois produtores em destaque) ou trocar dois dedos de conversa com os merceeiros. Olavo Silva Rosa, ex-cozinheiro/sommelier do restaurante Leopold, é um deles. (fotografia: Tiago Pais)
Em cada recanto da loja há produtos para descobrir. Arroz, conservas, ovos biológicos, cogumelos... (fotografia: Tiago Pais)

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Foram 22 anos a trabalhar em empresas multinacionais: Procter & Gamble, Vodafone e Microsoft. Mas um dia, fecha-se um ciclo. “Dás por ti a querer outra coisa”, explica Rita Santos. E se há quem largue tudo para viajar, cozinhar ou viver em retiro espiritual, esta alentejana de Santiago do Cacém optou por outra missão, igualmente nobre: partir em busca dos pequenos (grandes) produtores deste país, aqueles cujos excelentes produtos nem sempre chegam às grandes cidades, e trazê-los para uma mercearia lisboeta contemporânea, a sua Comida Independente.

Não foi uma epifania mas quase. “Estava com uns amigos no Alentejo, numa daquelas noites quentes, com o céu estrelado. Começámos a falar de património, identidade, origem. Tudo isto ligado à comida, porque é difícil estar no Alentejo e não falar de comida.” Dessa discussão nasceu a ideia. Mas o bichinho até já estava plantado, fruto de uma “infância muito ligada à mesa” e do hábito de “receber amigos e cozinhar”, reproduzindo as receitas da sua mãe.

A pesquisa demorou, até aqui, cerca de ano e meio. Ao mesmo tempo, o projeto foi evoluindo e o conceito foi-se consolidando. A Rita interessa-lhe que os produtos expressem “a riqueza da gastronomia de um país pequeno”. Que “tenham uma história”. Que exibam um “caráter de portugalidade”. Por isso é que não se pode dizer que o trabalho esteja feito. Longe disso. Esta será uma mercearia em constante construção. “Ainda temos algum espaço. Mas não o queremos preencher só porque sim”, adianta a responsável.

A Comida Independente é uma autêntica viagem pelo Portugal dos pequenos produtores. (fotografia: Tiago Pais)

Nos corredores, prateleiras, montras e zonas refrigeradas da Comida Independente estão reunidos quase uma centena de produtores diferentes, de todas as regiões nacionais, entre eles 25 DOPs e IGPs (selos de, respetivamente, Denominação de Origem Protegida e Indicação Geográfica Protegida). Enchidos, queijos, carne, leguminosas, pão, arroz, bacalhau, chá, café e mais, muito mais. Ou seja, é possível fazer um ou mais cabazes muitíssimo bem recheados, respeitando a sazonalidade e, se o freguês assim desejar, com direito a dicas sobre a melhor forma de os confecionar — a loja tem também uma seleção de livros de gastronomia para consulta.

E atenção: os vinhos não entram para esta contabilidade. Isto poque têm direito a uma área própria (e generosa) do espaço, onde se contabilizam cerca de 150 referências — 80% nacionais, 20% estrangeiras. Aqui, a regra da portugalidade foi quebrada, em prol de outra: dar a conhecer vinhos com perfis invulgares, também eles de pequenos produtores, e com uma filosofia natural associada. E que filosofia é essa? “São vinhos que expressam o seu terroir e que, quando usam leveduras, fazem-no com leveduras indígenas”, elucida Rita.

A loja fica entre Santos e o Cais do Sodré, num prédio renovado com projeto do arquiteto Carrilho da Graça. (fotografia: DR)

A garrafeira da casa — construída em colaboração com Os Goliardos — merece ser devidamente explorada, com a ajuda preciosa de Olavo Silva Rosa, ex-sommelier e cozinheiro do restaurante Leopold, de Tiago Feio. Todas as semanas há dois vinhos em destaque, possíveis de consumir a copo, e a taxa de rolha para os restantes é de apenas 4€. Para comer há tábuas de queijos e enchidos divididas por regiões, uma ideia inspirada nos famosos cozidos à portuguesa do chefe Nuno Diniz. “Queremos investir em equipamento de cozinha para poder começar a aceitar marcações de oito pessoas, que é a capacidade da nossa mesa”, revela Rita Santos. Ainda não será para já: por enquanto, eventos na Comida Independente só as provas de vinho mensais, sempre dedicadas a um conceito: a primeira debruçou-se sobre tintos velhos.

Com tantos bons produtos e boas ideias concentradas no mesmo espaço dá vontade de perguntar: Como é que isto ainda não tinha acontecido? Uma pergunta que, para Rita, é de resposta pronta: “Porque dá muito trabalho.”

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Morada
Rua do Cais do Tojo, 28 (Santos), Lisboa
Telefone
925404510
Horário
De terça a domingo, das 10h às 20h.
Custo
(€) Vinho a copo a 4€, tábuas de queijos e enchidos a 12€.


GPS
Latitude : 38.7082757
Longitude : -9.15192669999999

 

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