Publicidade Continue a leitura a seguir

As artes de Lisboa: em cada esquina há uma oficina

Percorra a fotogaleria para conhecer algumas das oficinas que estão a dar que falar em Lisboa. (Fotografias: João Nauman)
TRAÇA POMBALINA (artes gráficas) Vasco Antunes conserva e restaura documentos, desde simples manuscritos a livros com cinco séculos de existência, como aconteceu recentemente com os forais manuelinos de Portel. O trabalho com estes objetos antigos pode envolver a reparação do próprio papel mas também a encadernação, ambos exercícios de minucia revelada pelo conjunto de ferramentas que utiliza, quase saídas de uma sala operatória. O silêncio impera na sua loja no coração do Bairro Alto, um espaço discreto mas que já conta com doze anos de existência. Para além da conservação Vasco também se dedica à construção de objetos, uma tendência recente muito praticada por artistas, especialmente fotógrafos que a ele recorrem para realizar livros de autor ou caixas para fotografias.
ANTÓNIO REIS NEONS (luminária e vidro) Quando António Reis fecha os olhos ainda consegue vislumbrar uma Baixa da Lisboa repleta de reclames luminosos e noites lisboetas cheias de vida e cor. Hoje, porém, e como se sabe, todo esse apogeu cintilante não existe mais, levando ao encerramento de praticamente todas as oficinas e artesãos dedicadas a esta arte. Todas, com exceção da sua, como orgulhosamente declara. Com oficina aberta há 25 anos, próxima de Santa Apolónia, não há provavelmente ninguém que melhor conte a história da utilização do néon na publicidade, e é por isso de acreditar quando nos diz que a utilização deste gás é hoje requisito de estetas e saudosistas, como são exemplos os artistas Vhils e Wasted Rita.
HOSPITAL DOS CANDEEIROS (conservação e restauro, luminária) O nome não deixa duvidas quanto ao universo que nos espera, é um mundo de candeeiros que se encontra nesta loja a dois passos da Avenida Almirante Reis. Nada parece ter mudado nesta casa inaugurada há precisamente 50 anos, com um amontoado de centenas de candeeiros para venda, de todas as formas, cores e feitios. O enorme interesse é que muitos deles são oriundos do acervo da loja, um gigantesca coleção reunida ao longo de décadas pelo pai de Eugénia e Messias Rola, que nem os próprios sabe bem onde acaba. Por isso esta verdadeira gruta do Ali Bábá é tão frequentada por decoradores, arquitetos e designers. Para além de candeeiros antigos, a família é também conhecida pela conservação e restauro de lustres, qualidade que levou Christian Louboutin a escolhê-los para trabalhar consigo na sua nova casa em Lisboa.
CASA ACHILLES (artes decorativas, fabrico de utilidades, metal) A loja/oficina está no coração do Príncipe Real, um rés-do-chão e respetiva cave que nos traz imediatamente à memória as oficinas da antiga Lisboa. Aí nascida há mais de um século, é hoje também uma espécie de museu vivo a merecer visita, ainda que o seu «objecto de estudo» seja muito específico: moldes utilizados para a fundição de metais. Ao todo são mais de 50 mil que «vagueiam» pela oficina, embora António Lucas, o proprietário, saiba precisamente onde para cada um. A sua empresa é procurada sobretudo por arquitetos e decoradores que, devido à qualidade do serviço mas também ao facto de ser a única no ramo, a tem levado para lugares tão exóticos como Tailândia e Austrália.
THIBAUT DUMAS (instrumentos musicais) A profissão de luthier está confinada a cerca de uma dezena em todo o país, sendo o francês Thibaut Dumas um dos seus poucos «mensageiros». O seu ateliê de restauro de instrumentos de arco – violinos, violas e violoncelos – nasceu logo após vir viver para Portugal, já lá vai mais de uma década. Escolheu o Bairro Alto, pela proximidade com o Conservatório de Música, embora a clientela se estenda a profissionais das orquestras de Lisboa. Ultimamente, também se tem dedicado à construção de instrumentos de raiz, tarefa obviamente difícil mas que levanta interessantes questões de processo. Para Thibaut, todo esse conhecimento deve ser partilhado, razão pela qual tem aceite jovens com interesse por esta arte.
ANA HENRIQUES (joalheria) Embora trabalhe como joalheira há 15 anos, o ateliê de Ana inaugurou apenas em 2016, sendo por isso um dos mais recentes desta Rede. O espaço é reduzido, duas secretárias e um sofá apenas, mas pouco tem que ver com a maioridade das peças saídas das suas mãos. A comprová-lo estão as diversas exposições realizadas quer em Portugal quer no estrangeiro, sempre sob o desígnio conceptual, domínio a que a joalheira gosta de pertencer. O seu trabalho pode ser visto e comprado em lojas e diversas galerias da especialidade em Lisboa, mas também recebe encomendas, como as tradicionais alianças, brincos e colares.
ATELIER16B (cerâmica, olaria) Quando há quatro anos Joana Simão criou o seu ateliê de cerâmica, o Largo dos Trigueiros era uma pálida imagem do movimento que nele hoje habita. Vieram turistas, e com eles restaurantes, outros ateliês e uma simpática esplanada no coração do largo. Mesmo assim a sua loja continua a ser a mais bonita das redondezas, pela intervenção arquitectónica mas obviamente pelo trabalho de autor de Joana. Ali podemos encontrar as suas peças de cerâmica utilitária e decorativa, como potes, garrafas, copos e pratos, mas também peças de outros ceramistas seus conhecidos. No meio da produção, Joana ainda encontra tempo para partilhar o seu conhecimento – os workshops são geralmente individuais e têm, no mínimo, a duração de um mês.
MEEL PRESS (artes gráficas) A Meel é o one man show de Hugo Amorim, artista plástico lisboeta que se tem dedicado às diversas possibilidades da gravura. Este seu ateliê na fronteira ente Arroios e a Graça nasceu há meia dúzia de anos como uma evolução natural dos anos de professor na escola ArCo. Já por essa altura colaborava com artistas importantes da cena portuguesa, caso de Francisco Tropa e Ana Hatherly, uma relação que se manteve neste novo espaço, como são exemplo as mais recentes exposições de Ana Jotta e João Queiroz, no espaço Gabinete e MAAT. A sua proximidade com o meio artístico faz deste a sua principal clientela, assim como colecionadores e hotéis que procuram este tipo de reprodução. Mas de tempos a tempos, abre espaço a workshops sobre a disciplina.

Publicidade Continue a leitura a seguir

O projeto não caiu propriamente do céu. A Artéria, o gabinete de arquitetura donde ele saiu, já tinha proposto há quatro anos uma nova forma de observar a cidade através da Rede de Carpintarias. As trinta oficinas escolhidas nessa altura, espalhadas pelo centro de Lisboa, pretendiam ser, em primeiro lugar, uma ferramenta para a classe de arquitetos, mas representavam também uma espécie de resistência aos primeiros sinais de gentrificação e ao PDM que por lei afastam as pequenas oficinas do centro da cidade, pelo barulho e pela sujidade que potencialmente criam.

Em outubro passado, nasceu o segundo filho da Artéria, a Rede de Artes e Ofícios. Para a dupla Ana Jara e Lucinda Correia, mentoras do projeto, é a consequência do primeiro «rebento», na medida em que se tratou de aplicar a mesma lógica de mapeamento a atividades com características próximas às carpintarias: espaços orientados para a conservação, reparação e restauro do património, assim como para a reabilitação e regeneração urbana de Lisboa, todos eles abertos aos público.

Lado-a-lado temos agora exemplos de oficinas de artes gráficas, joalheria, vidro, relojoaria, cerâmica e têxtil, uma diversidade que não olha a idades: há gente jovem, mas também artífices com mais experiência, como é o exemplo da Casa Achilles, uma empresa de moldes que completa mais de um século de existência.

Por certo que continua a ser feito e dirigido para a classe de arquitetos, mas trata-se, desta feita, de uma rede que permite tocar a vida de um conjunto mais vasto de lisboetas e, porque não?, de quem chega para visitar a cidade. É, na verdade, e sob esse ponto de vista, uma forma muito recomendável de o fazer, e talvez num momento em aparentemente se tenta reduzir o centro de Lisboa a uma fachada e a replicar ideias e negócios, embarcar nesta viagem representa a razão que nos leva a todos a partir à aventura. A possibilidade de encontrar e descobrir todo um mundo novo e irrepetível, seja ele numa cidade, num bairro ou, como neste caso, numa simples esquina de rua.

Web: redearteseoficios.pt

 

Partilhar
Morada
Rua da Rosa, 179 (Bairro Alto)
Telefone
936668522
Horário
Das 09h30 às 18h00. Encerra ao fim de semana.


GPS
Latitude : 38.7133753
Longitude : -9.145516600000064
Partilhar
Morada
Rua Diogo do Couto, 6 B (Santa Apolónia)
Telefone
965009856
Horário
Das 09h00 às 17h00. Encerra ao fim de semana.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.224500000000035
Partilhar
Morada
Rua Palmira, 35 C (Anjos)
Telefone
218146989
Horário
Das 09h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00. Encerra sábado à tarde e ao domingo


GPS
Latitude : 38.7255437
Longitude : -9.134016900000006
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua de São Marçal, 194
Horário
Segunda a sábado, com marcação. Terça a quinta, das 10h00 às 16h30. Sexta, das 10h00 às 13h00.


GPS
Latitude : 38.7170953
Longitude : -9.150038799999948
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua da Bombarda, 12 (Intendente)
Telefone
913619010
Horário
Das 09h00 às 18h00. Encerra ao fim de semana.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.224500000000035
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua Nova do Loureiro, 8 r/c (Bairro Alto)
Telefone
213940111
Horário
Das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h30; sábado, das 10h00 às 13h00. Encerra ao domingo e à segunda.


GPS
Latitude : 38.7127637
Longitude : -9.146819700000037
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua da Bombarda, 12 (Intendente)
Telefone
919600410
Horário
Das 09h00 às 18h00. Encerra ao fim de semana.

Website

GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.224500000000035
Partilhar
Partilhar
Morada
Largo dos Trigueiros, 16B (Mouraria)
Telefone
916532611
Horário
Das 10h00 às 18h30. Encerra ao fim de semana.


GPS
Latitude : 38.713919
Longitude : -9.13561279999999
Partilhar

 

Leia também:

Porto recebe jantar com quatro chefs emergentes
Onde comer bom leitão assado em Lisboa e no Porto
8 restaurantes para comer à grande e à alentejana em Lisboa