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Crítica de vinhos: Três vinhos da transição duriense xisto-granito

Valle de Passos DOC Trás-os-Montes branco 2015 Vinho direto, a partir de vinhas velhas de Viosinho, Códega do Larinho e Malvasia fina, vibrante na boca, sempre em festa até ao final de prova. Apto para a boa mesa, grande latitude de pratos. Classificação: 16,5 Preço: 8,5 euros
Quinta dos Avidagos Reserva DOC Douro branco 2016 Bem demonstrado o enriquecimento de um vinho pelo estágio em barrica quando feito de forma respeitadora. Entrada equilibrada na boca, depois copioso na boca, para terminar fino e longo. Belo vinho. Classificação: 17 Preço: 11 euros
Valle de Passos Reserva DOC Trás-os-Montes branco 2015 | Quinta Valle de Passos A alma está presente neste vinho como no de entrada de gama, mas tem a aura dos encepamentos clássicos a abrilhantá-lo. Terá vida longa e dará muito prazer por alguns anos. Classificação: 17 Preço: 14 euros
Bons Ares regional duriense branco 2016 | Adriano Ramos Pinto Estamos a 600 metros de altitude, afloramentos graníticos típicos da transição xisto-granito que dá um perfil único a este vinho. Fresco e mineral, grande complexidade e prazer de beber. Classificação: 16,5 Preço: 9 euros
Avidagos DOC Douro branco 2016 | Quinta dos Avidagos Malvasia Fina, Gouveio, Vital, Arinto e Viosinho é o leque de castas deste vinho, orientado para o convívio e para a cascaria típica da época. Classificação: 15,5 Preço: 5,5 euros
Duas Quintas DOC Douro branco 2016 | Adriano Ramos Pinto A impressão de estabilidade, sentir o perfil do grande vinho branco. A marca merece estar no olimpo dos brancos durienses, aspeto vastamente demonstrado aqui. Longevidade e presença em boca. Classificação: 17,5 Preço: 12,5 euros

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Conhecemos o grande vale vinhateiro do Douro como a ilha de xisto e é verdade que grosso modo se trata quase do território dourado de proveniência dos vinhos do Porto, tal como os conhecemos ainda hoje. São conhecidas as diatribes e oposições entre o Barão de Forrester e a poderosa Dona Antónia Adelaide Ferreira, em relação a este assunto. O primeiro nutria um interesse científico e purista na definição dos melhores terroirs durienses, enquanto a segunda tinha um mais que justificado interesse comercial e empresarial na região, aproveitando o carácter único do vinho do Porto.

A história tem vindo a dar razão a ambos, mas tem isolado pela positiva o carácter visionário de Forrester. O valor do Douro estaria, mais tarde ou mais cedo na qualidade e na exclusividade do vinho de mesa, mais do que no fortificado. Temos hoje casas produtoras na região para quem os proveitos do vinho do Porto há já algum tempo deixaram de ser muito superiores aos dos DOC Douro. Os tintos do Douro estão nos quatro cantos do mundo por mérito próprio e também pela senda gloriosa criada pelos vinhos do Porto.

Estamos agora a aquilatar o valor e o potencial dos vinhos brancos do Douro, para o que não espanta que as vinhas fossem implantadas na imensa bacia de transição xisto-granito que define a fronteira da ilha de xisto que é o Douro vinhateiro. Afloramentos graníticos, solos únicos e exposições solares que potenciam a excelência do imenso corredor circundante para a produção de grandes vinhos brancos. Há que incluir, como é evidente, a região de Trás-os-Montes, pelos seus granitos velhos e vinhas de grande talante, quase intocadas ao longo de mais de cem anos, assim como há que confirmar a excelência do trabalho da “gente do xisto” ao procurar altitude e frescura para as suas uvas brancas. Um caso notável de adaptação e leitura de terroir, que sondámos e provámos. Os vinhos menos manipulados, mais diretos, colhem a preferência num primeiro contacto, mas o trabalho de interpretação e introdução de técnicas enológicas não invasivas mostra-se vantajoso. Sinal de que o talento ainda é aposta segura. Muito por descobrir.

Os duetos do desafio
A Quinta de Valle de Passos, perto de Valpaços, tem neste momento dois brancos de grande nível no seu portefólio, um deles sem madeira, o outro com estágio de barrica. Enologia de luxo, com Manuel Vieira e Carlos Magalhães na linha da frente. O projeto da Quinta dos Avidagos acaba de lançar um reserva branco de bom talante, é pedagógica a comparação entre o vinho básico e este, mais sofisticado. E a Casa Ramos Pinto, emblema patrimonial de todo o Douro, mostra-nos um vinho Bons Ares simples, de altitude que se revelou tudo menos simples, e o clássico Duas Quintas permanece o valor seguro. Compre pelo menos um dos duetos que propomos e tire as suas conclusões. Boas provas!