Publicidade Continue a leitura a seguir

Um passeio pelos magníficos faróis de Portugal

1. FARÓIS MAIS VISITADOS (Foto: Farol de Leça - João Manuel Ribero/GI)
Farol de Leça, Matosinhos Houve uma época em que a costa norte era apelidada de «costa negra», tão fraca era a visibilidade e tão grande o número de naufrágios. Foi para contrariar esta realidade que, em 1927, se construiu o Farol de Leça, substituindo o farolins da Boa Nova e da Foz. É o segundo maior português: 46 metros de altura, 213 degraus em caracol, uma luz com alcance de 28 milhas (cerca de 52 quilómetros), e um sinal sonoro que, em dias de nevoeiro, não só avisava os barcos como embalava as crianças da terra. Siza Vieira chegou mesmo a dizer que, quando deixou de viver junto ao mar, não conseguia dormir com a falta do barulho da «ronca». Foi desativada nos anos 1980. O Prémio Pritzker 1992 confessou ainda (ao jornal Público) que aceitaria de bom grado o desafio de projetar um farol. Possui um pequeno polo museológico, na antiga central de motores. A vista? Vai até à serra de Valongo, costa de Espinho, Vila Nova de Gaia e Póvoa de Varzim. Lugar da Boa Nova, Leça da Palmeira Tel.: 229951835 (Foto João Manuel Ribeiro/GI)
Farol da Barra, Ílhavo Falar no concelho de Ílhavo (e no distrito de Aveiro) é falar na Praia da Costa Nova – quem nunca fotografou as suas castiças e coloridas casas em madeira? –, mas também do Farol da Barra. O mais alto do país, 62 metros de altura, 66 acima do nível do mar. O segundo maior da península Ibérica. «Uma peça de arquitetura e engenharia fantástica», diz Joaquim Boiças [ver entrevista na pág. xxx] sobre este maciço de betão com seis metros de espessura construído em 1893. Fraco é o farol que não tem uma grande vista, mas a deste é especialmente atrativa. As dunas de São Jacinto, a ria de Aveiro, as embarcações de grande porte que entram e saem no porto; os barcos de pescadores, os veleiros, as pranchas de kitesurf e windsurf... Não admira que seja o mais visitado do país. Largo do Farol, Praia da Barra Tel.: 214461660 (Foto Adelino Meireles/GI)
2. FARÓIS MAIS ISOLADOS (Foto: Farol do Cabo de São Vicente, Sagres - Getty Images)
Cabo da Roca, Sintra «Vemos aqui coisas que só existem nos filmes ou nos documentários. Como um grupo de golfinhos a fazer um cerco a um cardume de peixe. Ou as senhoras, já idosas, que mesmo no inverno continuam a descer a encosta para pescar e regressam a casa com douradas com mais de quatro quilos. Não se ganha muito, mas ganha-se muita coisa. Estamos a 140 metros de altura, 165 se estivermos no topo do farol. Há dias agrestes, mas nos dias bons é um privilégio poder acordar, trabalhar e dormir com este enquadramento.» Por mais que mundo pule e a tecnologia avance, nada como ter um par de olhos de faroleiro para nos guiar. Como os Medeiros Migueis, 42 anos, um dos três homens (já foram nove) que tomam conta do farol mais ocidental do continente europeu. E dos mais antigos, a funcionar desde 1772. Tem casa em Cascais, mas sempre que está de serviço a mulher e os três filhos acompanham-no. Antigamente, dormia-se na torre, agora não é preciso. Ainda assim, estão sempre alerta. «Costumo dizer que nesses dias não dormimos, marinamos.» São verdadeiros homens dos sete instrumentos. Sabem de eletromecânica, mecânica, carpintaria, pintam, limpam, tratam do material antigo – entre o material exposto está um rádio-farol, o primeiro do país, instalado em 1937 e desativado no final da década de 1990 – e... contam histórias aos visitantes. (Foto Carlos Manuel Martins/GI)
Cabo de São Vicente, Sagres É o terceiro mais visitado do país, a seguir ao Farol de Leça e da Barra. E o mais potente dos portugueses no que ao alcance de luz diz respeito – 32 milhas, cerca de 59 quilómetros. Quem diria que, nos primeiros tempos (foi construído em 1846) era iluminado a azeite? Ainda antes da construção eram os monges do convento de São Francisco que acendiam fogueiras no alto da torre para assinalar os perigos. Tem, tal como o cabo da Roca, a geografia a seu favor. Fica topo de um promontório com 70 metros de elevação. No fim (da costa oeste) de Portugal. É por isso mesmo um local privilegiado para a observação de aves em migração, especialmente nesta época. Tem café, um pequeno espaço museológico, loja de recordações e esplanada. EN268, Sagres Tel.: 282624606 Das 10h00 às 18h00. Não encerra.
3. FARÓIS-MUSEU (Foto Carlos Manuel Martins/GI)
Santa Marta, Cascais Foi o primeiro (e verdadeiro) farol-museu do país. Tem apenas 20 metros de altura, mas depois da remodelação levada a cabo há cerca de uma década, transformou-se numa das mais bonitas sentinelas da nossa costa. Um projeto arquitetónico com assinatura da conceituada dupla de irmãos Francisco e Manuel Aires de Mateus. Na torre quadrangular, que começou a funcionar em março de 1868 – ainda hoje ativa, se bem que sem faroleiro permanente – sobressaem os painéis de azulejos com faixas azuis e brancas, já as antigas casas do faroleiros foram todas pintadas de branco e são agora utilizadas como espaços de exposição. O programa museológico ficou a cargo de Joaquim Boiça. Há lentes de Fresnel, um documentário de 15 minutos e uma excelente (e nada enfadonha) contextualização histórica. Rua do Farol de Santa Marta Tel.: 214815328 Das 10h00 às 15h00; fim de semana, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00. Encerra à segunda. Entrada: 3 euros. A subida ao farol é grátis (Foto Carlos Manuel Martins/GI)
Capelinhos, Faial Quando se chega ao Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, não se vê qualquer museu. Só o mar, a terra preta e o farol. O museu, nomeado para o prémio europeu do European Museum Forum em 2012, fica no subsolo, soterrado, de modo a não interferir com a paisagem. Não é um museu temático, como o de Santa Marta – é sobretudo dedicado à erupção do vulcão e à formação do arquipélago dos Açores – mas tem também uma parte reservada à história dos açorianos. Foi inaugurado em agosto de 1903 e desativado em setembro de 1957, precisamente aquando da erupção. Mas continua a ser um dos postais maiores do Faial e ponto de observação privilegiado. Todas as visitas ao centro terminam com uma subida ao à torre, como não poderia deixar de ser. Farol dos Capelinhos, Capelo (Horta) Tel.: 292200470 Das 10h00 às 17h00; fim de semana, das 14h00 às 17h30. Encerra à segunda. Entrada: 10 euros (Foto Fernando Marques)

Publicidade Continue a leitura a seguir

«Sou na noite um diamante que gira a avisar os homens, Por quem vivo, mesmo quando os não vejo». A frase é do poeta espanhol Luis Cernuda (1902-1963) e pode ser lida no Farol-Museu de Santa Marta, em Cascais. É difícil encontrar melhor frase para definir a função maior dos faróis: iluminar a orla marítima. Ou, como dizem os faroleiros, o alumiamento do mar.

«O farol nunca se apaga. Se tudo o resto falhar nós estamos aqui.» Palavras de Medeiros Migueis, faroleiro do Cabo da Roca, um dos 145 faroleiros no ativo. Desenganem-se por isso aqueles que pensam que estas estruturas cilíndricas estão votadas ao esquecimento. Bem pelo contrário. Há mais de cinquenta espalhadas pelo país, a maioria deles geridos pela Direção de Faróis – trinta no Continente, dezasseis nos Açores e sete na Madeira.

Locais como o referido Museu de Santa Marta ou o Farol dos Capelinhos, no Faial, têm gestões autónomas. Desde outubro de 2011, as suas portas abriram-se ao público, sendo possível fazer visitas todas as quartas-feiras. A adesão tem vindo a crescer. Em 2012 não chegou aos 30 mil visitantes, em 2015 foi ultrapassada a barreira dos 50 mil e só nos primeiros nove meses deste ano já tinham recebido 54 508 ; pessoas. Na próxima quarta-feira (entre as 13h30 às 16h30), não só é o dia da visita semanal, como se comemora o dia Nacional do Mar. O casamento perfeito.