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Porto: um roteiro independente pelo Largo 1º de Dezembro

Percorrer a fotogaleria para ver imagens do roteiro pelo Largo 1º de Dezembro, no Porto, que se localiza entre a Sé e a Batalha. (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)
GUINDALENSE FUTEBOL CLUB O espaço do Guindalense parece um café, mas, como faz questão de dizer o presidente do Guindalense FC, isto é uma coletividade. Orgulhoso e carismático clube de bairro, o Guindalense tem uma das vistas mais privilegiadas da cidade. O clube fundado em 1976 tem sala de bilhar e uma biblioteca. Embora não seja um restaurante, serve cachorros, bifanas, francesinhas ou hambúrgueres para acompanhar finos ou sangria. (Fotografia: Pedro Correia/Global Imagens)
DISTRICT OFFICES AND LIFESTYLE Inserido num palacete do século XVIII, este centro empresarial acolhe cinquenta empresas dos mais variados setores, mas é também um espaço de lazer, com lojas, café, quiosque e restaurantes. O comércio que aqui se pode encontrar é tudo menos convencional, tendo-se privilegiado projetos que, em muitos casos, só tinham vida online. (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)
SHIKO - TASCA JAPONESA Mal abriu portas tornou-se um sucesso e até os críticos mais exigentes já lhe dedicaram loas. O espaço é pequeno mas confortável, inspirado nas izakaya. Neste restaurante japonês a oferta vai muito para além do sushi. Há uma forte componente de petiscos como marinadas de salmão, cavala e carapau, frango agridoce, tempura de caranguejo de casca mole, ceviche, entre outros. (Fotografia: Leonel de Castro/Global Imagens)
SNACK-BAR GAZELA Os famosos cachorrinhos do Gazela são já uma instituição portuense e nem o mediático chef e apresentador norte-americano Anthony Bourdain deixou de ir prová-los na sua passagem pelo Porto. Pequeninos e servidos às fatias, famosos pelo secreto pelo molho picante, exigem a acompanhar uma cerveja. (Pedro Correia/Global Imagens)
CANTINHO DA SÉ Comida tradicional portuguesa em modo petisco, é este o mote do Cantinho da Sé, que recentemente se instalou na Rua Saraiva de Carvalho. Pataniscas ou bolinhos de bacalhau, polvo e tripas à moda do Porto, francesinhas e picapau, mas também pratos do dia. Há bolos caseiros, queijadinhas e sobremesas várias. Uma das apostas é o pequeno-almoço, em versão simples ou brunch. (Fotografia: Cristiana Milhão/Global Imagens)
CHINÊS DA PONTE É o restaurante chinês mais antigo do Porto e há quem diga que até mesmo do país. Abriu portas em 1966 e mantém a especialização em cozinha tradicional chinesa. A sala predominantemente vermelha estende-se a um mezanino, de onde é possível apreciar a decoração com motivos chineses. (Fotografia: Cristiana Milhão / Global Imagens)
SÉ DO PORTO E PAÇO EPISCOPAL A sua construção remonta ao século XII, embora ao longo dos tempos tenha sido alvo de ampliações até à alteração final, já no século XX. É um ponto de atração turístico, estatuto conquistado também pela visão sobre a cidade que o acentuado declive permite aos visitantes. Aqui nasceu o Porto, e só por isso já mereceria visita. O bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, abriu as portas do Paço Episcopal à cidade e não tem faltado quem queira visitar este tesouro. (Fotografia: Cristiano Silva/Global Imagens)
CERCA VELHA Abriu portas há nem um mês e veio dar vida a um dos mais belos largos da cidade, que foi alvo de reabilitação mas ainda permanece um segredo para muitos portuenses. Liliana Abreu e o irmão abriram uma casa de petiscos e bebidas que tem no porco preto o produto de eleição. Há tábuas de enchidos, bifaninhas e produtos para levar. Há sempre um bolo do dia e a carta de vinhos é essencialmente da região do Douro. A esplanada no exterior é certamente uma mais-valia para dias soalheiros. (Fotografia: Cristiana Milhão/Global Imagens)
CASA-MUSEU GUERRA JUNQUEIRO Aqui são recriados os ambientes da casa onde viveu o poeta Guerra Junqueiro, através de uma importante coleção de artes decorativas. Após obras de reabilitação, o edifício do século XVIII, cuja construção é atribuída a Nicolau Nasoni, abriu portas em todo o seu esplendor. (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)
ARCO DAS VERDADES O antigo arco de um aqueduto transformou-se num wine bar onde se pode encontrar uma vasta seleção de vinhos e cerveja artesanal – e, de caminho, aproveitar para confortar o estômago com um dos petiscos da carta. (Fotografia: Artur Machado/Global Imagens)
ESTAÇÃO DE SÃO BENTO A estação ferroviária foi edificada no século XX, no preciso local onde existiu o convento de S. Bento de Avé-Maria. Da autoria do arquiteto Marques da Silva, o edifício de influência francesa, ostenta no átrio vinte mil azulejos historiados, da autoria do pintor Jorge Colaço, que ilustram a evolução dos transportes e cenas da história e vida portuguesas. (Fotografia: Cristiana Milhão/Global Imagens)
CONFEITARIA SERRANA Os mais desatentos podem não se aperceber dela, mas esta confeitaria de fabrico próprio – afamada pelas bolas de Berlim - tem um segredo. O teto da casa ostenta uma tela de Acácio Lino datada de 1912, com motivos alusivos a joias, figuras angelicais e um pavão. A arquitetura do espaço é de Francisco Oliveira Ferreira, e as esculturas do primeiro piso têm a assinatura do irmão, José de Oliveira Ferreira. (Fotografia: Fernando Timóteo/Global Imagens)

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A propósito da comemoração da Restauração da Independência, que em 1640 confirmou a libertação de Portugal de sessenta anos de domínio castelhano, pusemos um alfinete no mapa sobre o Largo de Primeiro de Dezembro, uma das marcas da toponímia portuense que evocam o fim da governação da dinastia filipina.

Seria uma praça discreta, que poderia passar despercebida, não fosse a sua função fundamental para a cidade de albergar o comando metropolitano da PSP do Porto. Tirando esse movimento formal, é um tranquilo largo cheio de magnólias com as suas variações de folhas e flores ao longo do ano. E se todos conhecem alguns dos seus imponentes arredores, como a soberba Sé Catedral e a estação de São Bento, a Praça da Batalha com o Teatro Nacional de São João, nem todos conhecerão o charme popular e sincero das escadas dos Guindais ali ao lado. Nem que dali, através de uma entrada da igreja de Santa Clara (o templo mesmo ao lado que será alvo de um grande restauro) se pode aceder ao único troço da muralha fernandina que dá para percorrer a pé – até alcançar uma das melhores vistas da cidade sobre o rio Douro e as ribeiras.

Ali em redor, há outros segredos: a tasca japonesa Shiko ou ainda um dos espaços mais contemporâneos do Porto, o District. Ou ainda uma das tascas de petiscos emblemáticas da cidade, a cervejaria Gazela e os seus famosos cachorrinhos, que seduziram o chef/apresentador televisivo/crítico de comida Anthony Bourdain. De hoje em diante, também a pista de gelo que assinala a quadra natalícia do Porto. Tudo isto podem ser pontos de chegada ou pontos de partida para dali explorar a Baixa ou a Ribeira, para um roteiro central porém afastado do óbvio. Independente, no verdadeiro sentido da palavra. Viva a Independência!

O convento escondido por Germano Silva

O Largo de Primeiro de Dezembro é relativamente pequeno, na forma de um quadrado e ligeiramente inclinado, povoado de magnólias que, na época da floração, transformam o local num quadro de rara beleza. O nome evoca o dia e o mês do ano de 1640, data da Restauração, de quando Portugal se libertou da tutela espanhola. Este largo ocupa o espaço que, em tempos muito distantes, era conhecido por Carvalhos do Monte. Repare naquele portal, no lado sul do largo, à esquerda. Vamos entrar.

O que se nos depara diante dos olhos é uma pequena maravilha digna de uma aguarela. Este espaço era o pátio que antecedia a entrada para a Igreja e o Convento de Santa Clara aqui fundado, no século XV, por iniciativa de D. João I e de sua mulher, a rainha D. Filipa de Lencastre, a pedido das freiras clarissas da Regra de S. Francisco. Queixavam-se elas de que viviam em condições muito precárias, em pequenos mosteiros dispersos por várias localidades, e que era seu desejo ocuparem um só convento que lhes oferecesse melhores condições de habitabilidade e a possibilidade de, mais recatadamente, se entregarem à vida religiosa que haviam professado. A desejada casa conventual foi criada aqui, no velho sítio dos Carvalhos do Monte. A primeira pedra foi lançada em março de 1416; e as primeiras freiras entraram na nova casa em 1427. A obra só ficaria concluída em 1457. Do edifício do século XV já quase nada resta.

Como era da praxe nos conventos femininos, a entrada principal para a igreja era aberta numa parede lateral, como é o caso. Isso acontecia para permitir a construção do coro alto em frente ao altar-mor. Era dele que as monjas assistiam às cerimónias religiosas. A primitiva entrada devia ser a que está mais à direita, rasgada em arco ogival. A outra porta, a que é agora a principal, é uma construção híbrida, uma mistura de gótico e manuelino que nada tem que ver com a primitiva construção.

Germano de Sousa foi jornalista no JN durante 40 anos. Hoje, embora reformado, continua a escrever crónicas sobre a cidade à qual conhece todos os cantos. (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)

No frontal, por cima da porta, há dois nichos onde figuram as imagens, de pedra pintada, de S. Francisco e de Santa Clara. Nos medalhões, junto à porta, estão representadas as figuras de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Da construção primitiva deve ser o algeroz gótico que subsiste no recanto superior ao lado direito – é a figura de um cão com coleira.

Mais à direita, fica o portal da entrada para o convento, obra barroca datada de 1697. Avultam nesta entrada as duas colunas salomónicas, capitéis coríntios, as armas de D. João I e, num nicho, a imagem de Nossa Senhora da Conceição, esculpida em calcário. No interior da igreja sobressai a beleza da rica talha dourada que reveste toda a capela-mor, obra da primeira metade do século XVII. No lado esquerdo da capela-mor figura o brasão dos Barretos, importante família do Porto. Num dos altares da direita a nossa atenção deve fixar-se na belíssima imagem de S. João, uma obra-prima do barroco. A Igreja do Mosteiro de Santa Clara funciona atualmente como matriz da paróquia da Sé.

De novo no largo, entre as magnólias, com tempo para mais uma vista de olhos ao redor. À direita do portão, de acesso ao pátio que antecede a entrada para a igreja, depara-se-nos um edifício onde agora funciona o comando distrital da PSP. Ali também esteve o aljube (prisão). E é por isso que, ao Largo de Primeiro de Dezembro, o povo ainda chama Largo do Aljube.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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