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Passear à descoberta das lendas de Ponte de Lima

Percorra a fotogaleria para conhecer os locais de interesse histórico em Ponte de Lima. Na fotografia: vista para a Ponte Velha. (Fotografias de Pedro Rocha/GI)
Lenda do rio Lethes e a Ponte Velha Os sete arcos da ponte romana, que remontam ao século I, são evidência de presença de Roma em Ponte de Lima. O general Décimo Júnio Bruto que conquistou o que é hoje o Minho e a Galiza terá passado por lá e a ele está ligado uma das mais conhecidas lendas da vila. Cansados mas maravilhados com a paisagem envolvente do rio, os soldados pensavam ter encontrado o Lethes, que na mitologia clássica era um dos rios de Hades, conhecido como «rio do Esquecimento», pois quem tocasse a sua água esqueceria tudo.
Lenda do rio Lethes e a Ponte Velha O general decidiu enfrentar o medo atravessando o rio e, já do outro lado, chamou os soldados pelo nome. Não se tinha esquecido de nada. Em 2009, foi inaugurado um conjunto de esculturas dos artistas plásticos Salvador Vieira e Mário Rocha. Na margem direita está o general no seu cavalo e do outro lado os soldados. No muro do Mercado, apenas a uns metros, conta-se a história, num mural de azulejos adaptado de uma tapeçaria de Almada Negreiros.
Memórias populares Entre os soldados e o Mercado, a escultura «Alegoria às Feiras Novas e ao Folclore» – de Salvador Vieira - homenageia os limianos. Não falta aqui um tocador de concertina, um casal a dançar o vira e, no centro, um par de noivos. Todos vestidos a rigor. O centro histórico está cheio de homenagens aos usos e costumes da terra, como a estátua «Memórias do Campo», do mesmo autor, que exalta as lides rurais. Mais antigo é o mural da Torre de São Paulo, uma das duas torres da muralha, do século XIV, que chegaram até aos nossos dias.
Memórias populares O mural (de 1940) de Jorge Colaço - o mesmo autor das pinturas na Estação de S. Bento, no Porto - relembra uma história que remete para a reconquista cristã e a fundação da nacionalidade. Afonso Henriques teria confundido cabras por inimigos. Até que alguém disse «cabras são». Daí o nome da aldeia de Cabração.
A cadeia e a judiaria A outra torre que sobreviveu até hoje é a Torre da Cadeia, construída no início do século XVI no reinado de D. Manuel I, e onde está instalado o posto de turismo. Tanto esta como a casa ao lado, que serviu como cadeia de mulheres, só deixaram de funcionar como tal nos anos 1960. Por isso, ainda há quem se lembre dos prisioneiros atirarem caixas presas por um fio para pedir dinheiro em dias de feira. No seguimento da torre de São Paulo, a muralha continua a contar histórias.
A cadeia e a judiaria O Arco da Porta Nova foi a entrada da antiga judiaria. Vestígios desta ainda persistem. Apesar da zona ter sido muito alterada no século XVIII, é visível uma casa com o relevo de um ‘menorá’.
História Militar Pela sua importância estratégica, Ponte de Lima foi, ao longo da história de Portugal - e mesmo antes - palco de muitas lutas. Em setembro passado essa história começou a ser contada em casa própria. O Centro de Interpretação da História Militar de Ponte de Lima ocupou Paço do Marquês, edifício do século XV.
História Militar Está dividido por períodos essenciais - a ocupação romana, a fundação da nacionalidade, a guerra da Restauração e as Invasões Francesas. A cada piso corresponde uma das épocas e neles se fica a conhecer tanto um pouco do contexto da época como as fardas e as armas utilizadas.
Igreja de várias 'camadas' Duas ruas ao lado, no Largo da Misericórdia, a Igreja Matriz revela-se, a quem a olhar com atenção, como um elemento cheio de curiosidades. A grande rosácea com vitral na fachada principal parece, à primeira vista, tão antigo como o resto. Na verdade, o templo, que foi sendo construído e alterado desde o século XII não tinha qualquer rosácea até 1932.
Igreja de várias 'camadas' A varanda que existia foi deitada a baixo para dar lugar a uma rosácea com vitral neo-gótica inspirada na da Igreja de São Francisco do Porto. Na mesma fachada, mas à altura dos olhos e a par de várias marcas de canteiro, vê-se inscrições quase ilegíveis. O que está escrito é: Rei D. João. Foi este monarca que patrocinou a reconstrução da igreja no século XV.
Os torna-viagem e Ponte de Lima A mistura de estilos arquitetónicos e decorativos está presente em toda a vila. A importância dos portugueses que emigraram para o Brasil, onde fizeram fortuna, e voltaram, é visível. Um dos casos paradigmáticos é o do filantropo João Rodrigues de Morais, um torna-viagem que mudou a vila para sempre. «A emigração para o Brasil de muitos limianos enriqueceu a vila», conta à EVASÕES o historiador Adelino Tito de Morais. Muitos edifícios importantes nasceram da vontade de quem regressou à terra.
Os torna-viagem e Ponte de Lima Um deles é o Teatro Diogo Bernardes, que o ano passado festejou o seu 120º aniversário. Outro é a própria casa de João de Morais, a Villa Moraes. Aqui, junta-se o estilo neo-clássico e caraterísticas de arte nova. O jardim é de inspiração romântica. Com tanta diversidade de épocas e estilos, a vila minhota é uma descoberta constante para quem por lá se passeia de olhos bem abertos.
Museu dos Terceiros Com uma considerável coleção de arte sacra, o Museu dos Terceiros ocupa o extinto convento de Santo António dos Frades e a Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco. Ao convento está ligada a lenda das 'unhas do diabo': um escrivão desonesto, às portas da morte, acabou por ir parar ao convento, pois ninguém lhe queria dar a extrema-unção e enterrar. Por piedade, os franciscanos cumpriram esse papel. Durante a noite, um senhor magro vestido de preto bateu à porta dizendo que era amigo do defunto. Os frades levaram-no à campa e logo ele, com uma força sobre-humana, tirou a pesada lápide e levou consigo o morto para o inferno. A lápide ficou marcada com as suas garras. A pedra pode ser vista à entrada do museu, do lado direito, com as ditas marcas.

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Lendas, tradições, curiosidades históricas e homenagens a ilustres limianos, tudo isto se pode conhecer com um passeio atento pelo centro histórico de Ponte de Lima, a começar na Ponte Velha e a terminar no Museu dos Terceiros. Conheça-as, percorrendo com as setas a fotogaleria acima.

 

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