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Porto: O ponto de partida do Caminho Português da Costa

A Sé do Porto é o ponto de partida de muitos peregrinos a caminho de Santiago. (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

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Helene e Margot saem a passo firme da catedral. De mochila azul às costas e bastão em punho, roupa desportiva e a vieira, qual divisa do peregrino, pendurada à ré. Chegaram no dia anterior, vindas de Colónia, na Alemanha, e estão a começar ali a peregrinação até Compostela, esperançosas de que o Caminho Português da Costa não seja tão difícil quanto outros que já percorreram. É uma estreia em Portugal e um regresso ao caminho, depois de um longo intervalo imposto pela pandemia.

“O Porto é um local de passagem, mas sempre foi muito escolhido como ponto de partida”, nota Manuel Araújo, técnico superior do Arquivo Histórico Municipal e um apaixonado pelos Caminhos de Santiago, que estuda há quase 30 anos. “Desta cidade saíam três caminhos. Um via Braga, para aqueles peregrinos mais religiosos. Os que queriam fazer o trajeto mais recto, escolheriam aquele que hoje é conhecido pelo caminho central, que passa por Barcelos e Ponte de Lima. E depois havia outros que fariam pela costa”, explica.

Peregrinas Helene e Margot (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

Para muitos peregrinos, o périplo inicia-se aqui, na Sé. No antigo claustro românico da catedral existiu uma capela dedicada a Santiago, cuja imagem pode agora ser admirada numa visita ao MUSEU DO TESOURO DA SÉ. O espólio em exposição permanente reúne uma centena de peças de ourivesaria, paramentaria, livros litúrgicos, gravuras e relicários. A visita vale ainda pelas obras de Nasoni que adornam as paredes da capela-mor e da sacristia.

 

Nas traseiras do santuário, os caminhantes encontram na CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS VERDADES um novo CENTRO DE ACOLHIMENTO DE PEREGRINOS do Caminho de Santiago, onde podem pedir informações sobre o trajeto ou alojamento, e ainda adquirir o mapa e o carimbo na credencial do peregrino (que dá acesso a albergues e pode ir sendo carimbada ao longo do caminho, em restaurantes, igrejas e outros locais).

Terreiro da Sé (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

A vieira e a seta amarela no Terreiro da Sé indicam a direção a tomar a partir dali. O caminho oficial atravessa o miolo da cidade, mas há muitos que optam por um percurso alternativo, que apesar de não estar assinalado é cada vez mais popular. E para quem procura o Caminho Português da Costa pela proximidade com o mar, é também mais aprazível. Segue os contornos do rio Douro, da Ribeira até à Foz, e daí segue pelo litoral até Matosinhos.

Optando pelo caminho histórico, espera ao peregrino um percurso de 5,6 quilómetros que cruza a cidade, por caminhos que foram já antigas vias romanas, como a rua de Cedofeita e a Praça Carlos Alberto.

Nutrir o corpo
Qualquer que seja o percurso, não faltarão boas mesas para recarregar energias. Da cozinha tradicional ou contemporânea, internacional ou de autor, até aos snacks e petiscos há opções para todos os gostos e carteiras. Logo à saída da Sé, na rua Mouzinho da Silveira, acaba de reabrir a CERVEJARIA FININHO – inaugurada em 2020 -, a primeira fora de Angola, onde já existem sete espaços, criados por uma portuense. Na cervejaria inspirada na cidade, a estrela é a francesinha, mas também há espaço para bifes, arroz de marisco, bacalhau na brasa, salgadinhos e também alguns pratos angolanos, como a moamba de galinha (só ao sábado).

 

Mais acima, na rua dos Caldeireiros, por onde passa o caminho oficial, A SANDEIRA tem propostas mais leves, à base de sandes e saladas com nomes de marcos da cidade e combinações mediterrânicas de pasta de azeitona, mozarela e manjericão, ou sabores bem portugueses, como a sardinha e o pimento grelhado. Há ainda um menu de almoço em conta (7,5 euros dá direito a sopa, sandes à escolha e bebida do dia). O espaço é pequeno, pelo que o melhor será pousar as mochilas no alojamento de eleição, antes de confortar o estômago. Foi o que fez Louise, ao chegar ao ALBERGUE DE PEREGRINOS DO PORTO do Porto, para logo depois sair em busca de uma cerveja fresquinha. “De manhã deixam as mochilas e vão dar uma volta pela cidade, e depois fazem o check-in a partir das 14h30”, conta Miguel Andrade. O portuense teve a ideia de criar o albergue enquanto fazia o caminho francês de bicicleta, em 2012. Passados quatro anos abriu portas e desde então já acolheu 20 mil peregrinos de mais de 100 países.

Albergue de Peregrinos do Porto (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

 

O albergue possui 48 camas, distribuídas por camaratas e dois quartos privados – os hóspedes deixam os seus pertences em cacifos à entrada e levam apenas o essencial para o quarto – , muitos deles pintados com bonitos murais por peregrinos com veia artística que por ali passaram. Miguel conta ainda com o apoio logístico de peregrinos voluntários que, sentindo a necessidade de retribuir o auxílio que vão encontrando pelo caminho, acabam por ficar ou até voltar mais tarde. Tem ainda um agradável jardim nas traseiras, com horta e espaço de convívio, uma cozinha partilhada e uma mascote felina, a Peregrina.

 

# Louise | Reino Unido
Encontramos Louise a caminhar a custo na rua de Cedofeita. No ano passado, enquanto fazia o caminho a partir de Madrid, caiu e rompeu um músculo. E apesar de ainda não estar completamente recuperada, a vontade de voltar à estrada falou mais alto. “Tenho de fazer isto outra vez”, pensou, e lançou-se de novo ao percurso iniciado um ano antes, munida de “cerveja e Ibuprofeno”, brinca. O caminho está-lhe gravado no corpo. A vieira tatuada no braço direito e o pendente ao pescoço dizem que não é novata nestas andanças. “Em 2012 fiz o meu primeiro caminho, depois de um momento muito difícil. Agora faz parte da minha vida”, conta. Já foi a Compostela a pé uma dezena de vezes. “Fazer caminhadas de longa distância com um propósito é o que me alimenta”, partilha. No balanço dos últimos dias contabiliza já mil quilómetros, e tece largos elogios aos Bombeiros Voluntários de Lourosa, que a acolheram. Na última noite acampou no meio das árvores. Esta há-de ficar no Albergue de Peregrinos do Porto.

Peregrina Louise (Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)

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