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Pedalar, comer e dormir ao longo da Ecopista do Dão

Percorra a fotogaleria para conhecer todos os locais para visitar ao longo da Ecopista do Dão.
Ecopista do Dão
Ecopista do Dão
Ecopista do Dão
Ecopista do Dão
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Ecopista do Dão
Ecopista do Dão
No'Clock Country House
No'Clock Country House Antigo letreiro junto à estação de Tonda (Tondela).
No'Clock Country House
No'Clock Country House
No'Clock Country House
Restaurante 3 Pipos, em Tonda (Tondela). Travessa de entradas: salada de polvo, minipataniscas de bacalhau, favas com chouriço, moelas, enchidos fritos.
3 Pipos
Restaurante 3 Pipos, em Tonda (Tondela). Cabrito no forno.
Restaurante 3 Pipos, em Tonda (Tondela). Cabrito no forno.

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A cancela há muito que foi retirada. A guardar a passagem de nível está apenas uma lomba, a lembrar aos automobilistas que a velha linha férrea continua a ter movimento, agora mais ligeiro e movido a pedais. Se bem que quem se lembra do comboio da Linha do Dão fala, não de velocidade, mas da sua lentidão, de como certos troços permitiam acompanhá-lo a passo. «Costumávamos descer com ele ainda em movimento e íamos roubar uvas», recorda António Miranda, chefe de sala e co-proprietário do restaurante 3 Pipos, em Tonda.

A mesa farta do 3 Pipos deve ficar para o final da jornada, em jeito de recompensa, mas é ali, em Tonda – ou melhor, na antiga estação que servia a aldeia –, que esta viagem começa. Não porque tenha de ser, apenas por opção: é ali ao lado que fica a NO’CLOCK COUNTRY HOUSE, uma antiga casa de um trabalhador ferroviário transformada em dois apartamentos acolhedores com quarto, sala, kitchenette e salamandra para o tempo frio. Para estes dias, o que apetece mesmo é ficar no quintal em redor, onde há oliveiras (e, pendurado de uma delas, um baloiço debruçado sobre a velha linha), sombra e uma mesa a pedir piqueniques, uma casinha de madeira que fará as delícias dos mais novos. Apetece ficar. Porém, há o apelo de uma aventura a pedal, e bicicletas à disposição para satisfazê-lo.

Entregue a 23 anos de abandono ficou um trilho panorâmico que em 2011, em boa hora, foi convertido em ecopista

A linha do Dão, inaugurada em 1890, ligava Viseu à linha da Beira Alta, em Santa Comba Dão, ao longo de 49,1 quilómetros de carril de bitola estreita. Até que, em 1988, o comboio deixou de circular. Entregue a 23 anos de abandono ficou um trilho panorâmico que em 2011, em boa hora, foi convertido em ecopista.

À partida de Tonda, e da No’Clock, duas opções: seguir para a direita, na direção de Viseu, cerca de 35 quilómetros a norte, ou ir no sentido inverso, 14 quilómetros até Santa Comba. É para aí que ficam as paisagens, com o Dão por companhia. Mas é na direção oposta que está a viagem. Campos de centeio, vinhas, tojos em flor amarelo vivaz. A espaços, o cheiro a terra, e o som de uma enxada a cavá-la, são muitas as hortas junto às bermas. E há sombra, muita sombra: túneis de bosque de carvalho, de azinheiras centenárias, que a espaços dão lugar a eucaliptos e mimosas, numa paisagem que vai pintando de cores diferentes.

Corridos cinco quilómetros, o rio Dinha, que vai acompanhando a ecopista à distância, cruza-se com ela, por debaixo da ponte da Tinhela, cem metros de tabuleiro metálico crivado. Vê-se o rio lá no fundo, emoção acrescida para quem tem vertigens, uma delícia para quem não tem medo de alturas e gosta de fingir que está a voar. Passa-se a estação de Tondela (agora sede de um clube de caça e da Casa do Povo) depois os apeadeiros de Naia e Casal do Rei e, 500 metros adiante, a igreja velha de Canas de Santa Maria, um tesouro românico erguido no século XII. Da original, resta a fachada, listada como monumento nacional.

No Tempêros Nómadas, que ocupa a antiga casa da estação, há petiscos animadores, coisas como petingas de escabeche e bolos de bacalhau fritos a pedido

Chega-se a Parada de Gonta com 15 quilómetros nas pernas. Sem pressas, com o devido tempo para saborear o caminho e admirar as paisagens, dando bom uso aos bancos de granito que vão surgindo pela berma, leva-se um par de horas. Em perspetiva: quem começou a pedalar de manhã, já aqui passa a pensar em almoço. Se houver farnel na mochila, há à disposição mesas de piquenique. Se não, no TEMPÊROS NÓMADAS, que ocupa a antiga casa da estação, há petiscos animadores, coisas como petingas de escabeche, redenho, bolos de bacalhau fritos a pedido, e uma reconfortante sopa de couve e cenoura ao lume. Além do prato do dia, sempre qualquer coisa de tacho ou tabuleiro, para quem encomendar de véspera Vítor Costa faz pratos especiais – cabrito assado no forno, arroz de cabidela, o que lhe pedirem. De volta à estrada, pedala-se com outra coragem.

Dali por quilómetro e meio, um dos troços mais emblemáticos: um túnel de 183 metros de comprimento, iluminado a energia solar. Durante um par de minutos, o som do vento, do restolhar das folhas, do cantar dos pássaros some-se, fica apenas o silêncio, o rolar dos pneus no piso, o matraquear da corrente da bicicleta. Quando se alcança a luz lá ao fundo, já o chão muda de cor – de verde, passa a vermelho, indicação de entrada no município de Viseu.

Num instante se chega a Farminhão, um par de quilómetros adiante, onde a estação foi transformada em bar. No STATION ALIVE, há mesas e bancos feitos de paletes no cais de passageiros, e no cais de mercadorias está Jorge Simão, de berbequim em punho, a finalizar uma segunda esplanada. Para de trabalhar para contar os seus projetos, que não são coisa pouca: além de um restaurante, que já funciona no armazém da estação, e do bar, que aos fins de semana tem música ao vivo noite fora, pensa instalar bungalows no terreno em frente, criar um espaço de manutenção e lavagem de bicicletas e criar um miniparque de aventuras. Uma estação bike-friendly.

Em Torredeita há ainda um comboio, o único da linha, mantido para a posteridade: uma magnífica locomotiva a vapor comprada em 1890 à alemã Maschinenfabrik

Próxima paragem: Torredeita. Aqui já não se passa nada. Mas há ainda um comboio, o único da linha, mantido para a posteridade: uma magnífica locomotiva a vapor comprada em 1890 à alemã Maschinenfabrik, uma carruagem de mercadorias, outra de passageiros e um vagão de carga. Tudo isto recuperado e visitável, sem horários nem restrições, o que traz a sua desvantagem, já que o vandalismo também não tem horários. É de aproveitar para ver, apetece fotografar cada pormenor, com receio de que não dure para sempre.

Em melhor estado está o apeadeiro de Mosteirinho, um airoso abrigo de madeira, pintado de cinzento, ao lado o velhinho letreiro em cimento com o nome do sítio. Nova ponte, nova perspetiva Google Earth sobre o vale, novo túnel, este mais curto, e alcança-se a estação de Figueiró, impecavelmente cuidada. O edifício principal é agora sede da junta de freguesia, o armazém tem um café com esplanada, o cais foi transformado num canteiro relvado, e há máquinas de ginásio ao ar livre. Faltam oito quilómetros para Viseu, e daqui será quase sempre a subir, mas a inclinação é suave e a paisagem continua a surpreender, com a ocasional mancha de bosque, o castiço apeadeiro de Travassós de Orgens e a estação de Tondelinha, agora feita tela para um mural em padrão de zebra, a esplanada panorâmica da Vicicleta, empresa de aluguer de bicicletas, e o perfil da cidade, coroado pelas torres da Sé, que a espaços vai espreitando. O último troço de caminho tem também mais movimentação, está já em cima de Viseu, e muitos viseenses aproveitam para caminhar, correr e passear ao longo desta convidativa passadeira vermelha.

A linha de meta, ao cabo de 35 quilómetros, é a Avenida da Europa. Da antiga estação, resta a torre de água, mantida em jeito de evocação. É tempo de regressar ao início. À hora combinada, já Prazeres Rebelo, proprietária da No’Clock, está a postos para o transporte de volta ao ponto de partida. Ao contrário da utilização das bicicletas, este serviço não está incluído no preço, mas é questão de se combinar e acertar o valor de antemão.

Regressa-se, portanto, ao início. A Tonda. E à mesa do 3 PIPOS. Corpo cansado, pernas doridas, fome de leão: não se podia ter escolhido melhor. Convém reservar com antecedência. Embora escondido numa insuspeita aldeia e com lugar para sentar mais de cem pessoas, não é raro chegar-se e já não sobrarem mesas. É que o 3 Pipos ganhou já estatuto de instituição, com lugar cativo no topo da lista de recomendações de quem conhece a região. A fama não é imerecida. Mal se toma lugar numa das quatro salas decoradas em estilo rústico cuidado (nas quais, apesar de sentarem muita gente, nunca se perde o aconchego nem o ambiente propício a conversar) logo aterra na mesa uma travessa com pratinhos de petiscos: minipataniscas, favas com chouriço, salada de polvo, moelas. De imediato se percebe que se está em boas mãos.

O restaurante 3 Pipos, em Tonda, ganhou já estatuto de instituição, com lugar cativo no topo da lista de recomendações de quem conhece a região. A fama não é imerecida

A carta não é extensa em demasia, mas é variada, dentro do capítulo da comida beirã: bacalhau com broa, rojões, arroz de costelas em vinha d’alho, um prato de migas com arroz de feijão para reconfortar também os vegetarianos, isto apenas como exemplo. António Miranda e João Cavaleiro, sócios e fundadores da casa, que completa esta semana 25 anos, sabem bem a causa deste sucesso. «Comida, espaço acolhedor e relação com o cliente», resume João. E o gosto por aquilo que é da região, acrescentamos nós: pelos vinhos do Dão, com uma garrafeira extensa que aposta sobretudo nos pequenos produtores; pelos produtos criados em redor, como o cabrito do Caramulo e os legumes bio da Ecoseiva, em Lobão da Beira; pelo barro preto de Molelos, cujas qualidades exaltam, fazendo questão tanto de usá-lo no serviço de cozinha e à mesa, como de vender peças na loja-garrafeira que têm à entrada.

Regressa-se à casa de barriga e alma cheias. Junto à estação de Tonda e à No’Clock, ao cruzar a passagem de nível, está, se se olhar com atenção, um velho letreiro em cimento: «Atenção aos comboios. Pare, escute, olhe. Proibido o trânsito pela linha.» Hoje é o inverso: circular pela linha não só é permitido como altamente recomendável. O slogan de prevenção de acidentes, esse mantém-se, e ganhou novo sentido: é o melhor conselho que se pode dar a quem faz a velha linha do Dão. Parar, escutar, olhar. Sem pressas. Afinal, ninguém terá um comboio para apanhar.

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Morada
Rua da Estação, 1238, Couço, Tonda (Tondela)
Telefone
964591215
Horário
Casa T1 a partir de 40 euros por noite (inclui pequeno-almoço)


GPS
Latitude : 40.4831428
Longitude : -8.0557546
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Morada
Rua da Estação, Póvoa da Catarina, Parada de Gonta (Tondela)
Telefone
917532603
Horário
Das 09h00 às 20h00 (até às 02h00, «se houver gente»). Encerra à segunda.
Custo
(€) 10 euros


GPS
Latitude : 40.5819076
Longitude : -7.995954999999981
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Morada
Rua da Estação, Farminhão (Viseu)
Telefone
962246827
Custo
() 10 euros


GPS
Latitude : 40.613103
Longitude : -8.012533899999994
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Morada
Rua de Santo Amaro, 966, Tonda (Tondela)
Telefone
232816851
Horário
Das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 22h00. Encerra domingo ao jantar e à segunda.
Custo
(€€) 22 euros


GPS
Latitude : 40.4971887
Longitude : -8.071788200000015