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Crónica de Nuno Cardoso: Soluções para as resoluções de ano novo

(Igor Martins/Gl)

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Deixar de fumar. Abraçar um estilo de vida mais saudável. Estreitar laços perdidos. Aprender uma nova língua. Praticar mais desporto. Adotar um animal. Perder peso. Poupar dinheiro. Diminuir o tempo e energia gastos em redes sociais e companhia. Dormir mais. Fazer aquela viagem de sonho que estava em lista de espera. Mudar de casa e de emprego. Ou até de ambos. E sei lá mais o quê. Os anos vão passando, as coisas vão mudando mas a lengalenga é a de sempre. Nos últimos segundos da noite de 31 de dezembro, são muitos os que seguram uma dúzia de passas na mão, um copo com espumante na outra, e uma lista de resoluções para o Ano Novo decorada na cabeça – ou escrita num papel, que a memória já não vai sendo o que era.

Na teoria, a lista de desejos que estruturamos com a viragem de mais um ano, e que queremos cumprir ao longo do mesmo, pode ser um bom exercício de traçar objetivos e medir ambições. Na prática, pode revelar-se ser algo frustrante, potenciador de ansiedade e, acima de tudo, um grande cliché que acaba por dar poucos frutos. Por estes dias, enquanto pensava sobre esta prática, pus-me a pesquisar sobre o tema na Web. O primeiro estudo que surgiu sobre as resoluções de ano novo, realizado por uma universidade norte-americana na Pensilvânia, concluía que, sem grandes surpresas, apenas 8% consegue cumprir as respetivas listas de desejos, naquilo a que chamam de «síndrome da falsa esperança». Um outro artigo da prestigiada revista “Forbes” indicava uma outra conclusão pouco otimista: cerca de 80% das resoluções são abandonadas ou esquecidas logo no mês de fevereiro.

“Este ano, opto por um desafio mais realista e saudável. Fazer resoluções mensais. Ou trimestrais, ao ritmo das estações. O que interessa é fazê-las apenas quando e se fizer sentido”

De seguida, dei por mim a fazer contas de calendário. Deixei de fumar repentinamente, no pico do verão. A última mudança de casa fez-se colada a um Carnaval. O regresso à prática do exercício físico a um ritmo fixo e intenso, depois de muitos – demasiados, até – anos de desleixo, fez-se recentemente, por alturas de São Martinho. E por isso, este ano, quando estiver com a meia dúzia de passas na mão e um copo de espumante na outra [esta crónica está a ser escrita antes da noite de réveillon], vou despedir-me de 2019 e dar as boas-vindas a 2020 sem pensar em listas de desejos.

A minha resolução de ano novo é não fazer nenhuma resolução de ano novo. Não só para não elevar fasquias demasiado altas como para evitar entrar no ritmo mecânico do “fazer listas de desejos só porque sim e porque todos fazem”. Este ano, opto por um desafio mais realista e saudável, parece-me. O de fazer resoluções mensais. Uma por mês, por exemplo. Ou trimestrais, se for preciso ao ritmo das estações. O que interessa, verdadeiramente, é fazê-las apenas quando e se fizer sentido. Afinal, doze meses é muito tempo e muita coisa pode mudar num ano. Inclusive aquilo que mais desejamos no início e no final do mesmo ano. E o resto é conversa.