Publicidade Continue a leitura a seguir

Cabrito assado: um prato para além da Páscoa

Percorrer a fotogaleria para conhecer alguns restaurantes. (Fotografia de Artur Machado/GI)
Adega do Saraiva (Sintra) O senhor Saraiva já não está mais entre nós, mas a sua presença, e as suas histórias deliciosas, continuam a ser recordadas, sem tristezas, nesta casa de Nafarros pela mulher, a filha e o genro. São eles, mais alguns empregados, que mantêm quase inalterado um negócio familiar – são todos desta zona de Colares – muito assente em pratos que não saem da carta, como o cozido ou o cabrito assado. A receita é da matriarca, a D. Emília, que não arreda pé da cozinha e junta ao assado não só as batatas de forno (quando estas acabam, no seu lugar vêm batatas fritas caseiras) mas também arroz branco e picles. Os cabritos são fornecidos por gente de confiança do Alentejo, mas a região está bem representada com o pão e o vinho da adega de Colares.
Adega do Saraiva (Sintra)
Adega Vasco (Felgueiras) Mais um projeto familiar, desta vez perto de Felgueiras, entregue a um casal que se divide entre a cozinha e a sala. A sua pièce de resistance, fundamental quando o propósito é servir cozinha regional, são três potentes fornos a lenha que dão vazão aos cabritos de pequeno porte. Manda a tradição e o saber-fazer dos proprietários que os mesmos sejam assados sem pressas. Chegam à mesa rodeados de batatas, arroz de miúdos e grelos salteados. (Fotografia de Artur Machado/GI)
Adega Vasco (Felgueiras) (Fotografia de Artur Machado/GI)
Museu da Cerveja (Lisboa) Não é fácil encontrar cabrito estonado em Lisboa, mas o Museu da Cerveja, que a grande maioria conhece devido à sua grande variedade de cervejas lusófonas, faz questão de servir esta especialidade da Beira Interior. Para isso, além de um forno a lenha, essencial, eles optam por cabritos um pouco maiores (entre os cinco e sete quilos) para os estonar – o resultado deste processo faz que a sua pele fique mais crocante, a lembrar a dos leitões. Faz-se acompanhar de batatas assadas, arroz de forno com os miúdos e grelos salteados com mel e castanhas.
Museu da Cerveja (Lisboa)
A Cozinha do Manel (Porto) Manuel Mendes é quem dá o nome a este restaurante do Porto, mas o seu genro, José António, também já lhe segue as pisadas e conhece todos truques para assar um bom cabrito no forno – fazem gala na sua carne macia. Conhecido pelas suas várias especialidades com gosto caseiro, A Cozinha do Manel tem pratos de forno todos os dias, mas para comer o seu cabrito é preciso esperar pelo sábado e, ainda assim, só mediante reserva prévia. (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)
A Cozinha do Manel (Porto) (Fotografia de Pedro Granadeiro/GI)
Curral dos Caprinos (Sintra) Está de portas abertas há mais de quarenta anos, em Cabriz, perto de Sintra, o que não é fruto do acaso ou da sorte. Entre os sócios, o senhor Pacheco mostra particular apreço pelos vários chocalhos que vai colecionando e juntando à decoração das três salas. Natural de uma aldeia perto de Odemira, ele faz questão de que os seus cabritos venham da zona de Castelo Branco e só na Páscoa chega a servir 200 a 300 quilos. Depois de trinchados, os animais vão a assar por cerca de duas horas e meia no forno, sendo depois servidos com batatas assadas, arroz de miúdos e esparregado. Durante todo o ano, não há outro prato da casa que o destrone.
Curral dos Caprinos (Sintra)
Manuel Caçador (Lisboa) A cabeça de garoupa, muito fresca, cozida ou grelhada, é o que salta logo em evidência quando se fala do Manuel Caçador, um restaurante à moda antiga para os lados do Areeiro. Isso vale-lhe uma clientela fiel que também não se faz rogada à quinta-feira. E porquê à quinta? É o dia escolhido para servir o cabrito assado no forno com batatas assadas, arroz branco e brócolos ou feijão-verde. Uma dose chega e sobra para dois, vale o aviso. (Fotografia de Jorge Amaral/GI)
Manuel Caçador (Lisboa) (Fotografia de Jorge Amaral/GI)
Adega do Sabino (Melgaço) Faz parte do roteiro afetivo de quem visita Melgaço, pelo que só muito dificilmente se passa por aqui sem fazer uma visita a este restaurante acolhedor e familiar. E qual é o seu maior chamariz? O cabrito assado em forno a lenha, pois claro. Aliás, eles fazem questão de chamá-lo de cabritinho, para que não haja dúvidas de que tem o tamanho adequado para, depois de devidamente temperado e assado por horas, chegar à mesa tostado por fora e húmido por dentro. (Fotografia de Artur Machado/GI)
Adega do Sabino (Melgaço) (Fotografia de Artur Machado/GI)
Salsa & Coentros (Lisboa) A cozinha tradicional portuguesa no seu melhor. O Salsa & Coentros é praticamente uma unanimidade, por isso, fica o aviso, convém marcar mesa com antecedência. Muito do sucesso desta casa deve-se à dupla Belmiro de Jesus e José Duarte, os anfitriões, grandes conhecedores dos produtos e terroirs nacionais. O tipo de simplicidade que só se atinge com muito trabalho. Não se encontra o cabrito assado na ementa do dia a dia, pelas simples razão que não há data marcada para o servir, mas atendem pedidos e quem já provou garante que vale a pena ir perguntando por esta versão com batata assada e grelos.
Salsa & Coentros (Lisboa)

Publicidade Continue a leitura a seguir

Com ou sem jejum na Quaresma, o cabrito assado parece reunir consenso e ser preferência nacional. Não sem alguma controvérsia à mistura, pois há quem aponte como mais saborosa a versão grelhada praticada, por exemplo, em algumas partes da Beira Alta, do Minho e de Trás-os-Montes.

Talvez faça, contudo, mais sentido para esta equação falar da origem – sobretudo numa época em que a maioria de nós os adquire já abatidos, limpos e embalados nas grandes superfícies. Por alguma razão, os mais antigos faziam questão de cozinhar apenas cabritos de leite (ou seja, abatidos até um mês e meio de vida e com um peso entre os três e os cinco quilos no máximo), por serem estes que apresentam uma carne mais tenra e rosada.

Garantida a boa matéria-prima, e variando de região para região, é possível achá-lo assado de diferentes maneiras.

Na impossibilidade de consegui-los tão jovens (a média mais comum nos dias de hoje são os cinco a sete quilos), importa pelo menos não abrir mão da qualidade – trocado em miúdos (que por acaso são um dos acompanhamentos mais usados com o cabrito assado, mas já lá vamos), privilegiar o cabrito da Beira IGP (Indicação Geográfica Protegida), cabrito da Gralheira IGP, cabrito das Terras do Alto Minho IGP, cabrito de Barroso IGP, cabrito do Alentejo IG (Indicação Geográfica) e cabrito Transmontano DOP (Denominação de Origem Protegida).

Garantida a boa matéria-prima, e variando de região para região, é possível achá-lo assado de diferentes maneiras – até à moda do leitão, perto de Coimbra, ou estonado [ver em baixo], como é da praxe no concelho de Oleiros, na Beira Baixa –, frito como em certos pontos do Ribatejo, ensopado como em Fornos de Algodres, ou em caldeirada como na Serra d’Arga.

Há receitas para todos os gostos, embora, e foi isso mesmo que a pesquisa para este roteiro permitiu concluir, os restaurantes acabem quase todos por reproduzir, com mais ou menos rigor, a versão assada no forno à moda da Beira Interior, que manda a tradição acompanhar de batatas assadas e de arroz com os miúdos do bicho. Na dúvida, e porque a tradição também é para quebrar, é de escolher o que mais agrada ao gosto pessoal.


Cabrito, borrego e anho não são a mesma coisa

Poderá parece trivial para muitos, mas o facto é que, ainda hoje, há quem faça confusão entre os três. Nada como o pretexto da Páscoa, em que são servidos, para um tira-teimas. O cabrito é da raça caprina e tem como progenitores a cabra e o bode; menos robusto do que o cordeiro, a sua carne apresenta um baixo teor de gordura, é rica em ómega-3 e ómega-6 e concentra uma elevada quantidade de proteínas e ferro. Já o borrego é um cordeiro com menos de um ano, da raça ovina, com uma carne mais clara, mais macia e com maior teor de gordura do que a do cabrito. O anho, por sua vez, mais não é do que um cordeiro.

Para além da Páscoa

O nosso apetite pelo cabrito não se sacia só na Páscoa. Sobretudo nas Beiras. Entre os vários eventos que lhe são dedicados, destaque, já na primeira semana de maio, e durante dez dias, para Condeixa, onde vários restaurantes do município fazem dele cabeça de cartaz das suas ementas (o menu predefinido inclui cabrito assado à moda de Condeixa, bebida e um doce típico, a escarpiada, a preço promocional). No final, será atribuído o prémio Cabrito de Ouro, com base nos votos dos comensais.

Cabrito estonado — um bem nacional

Prato caraterístico do concelho de Oleiros, no distrito de Castelo Branco, o cabrito estonado – em que o animal é escaldado e o pelo retirado por raspagem, sendo mantida a pele durante a assadura para garantir maior suculência e sabor – é uma verdadeira relíquia nacional, o que já lhe valeu a candidatura, em 2011, às Sete Maravilhas Gastronómicas de Portugal na categoria de carnes e a criação, em 2015, de uma confraria. Dela faz parte a gastrónoma Maria de Lourdes Modesto, que, em 1982, incluiu a sua receita no best-seller ‘A cozinha tradicional portuguesa’ e, já em 2008, no âmbito do documentário ‘Os gestos dos sabores – das memórias ao futuro’, o apontou como um dos dez bens gastronómicos portugueses a preservar e incentivar.

Partilhar
Morada
Largo do Paquete, Lote 4, Nafarros, Colares
Telefone
219290106
Horário
Das 12h15 às 22h00; domingo, até às 15h30. Encerra à segunda.


GPS
Latitude : 38.81502990000001
Longitude : -9.424138500000026
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua do Entroncamento, Pinheiro
Telefone
255922483
Horário
Das 12h30 às 22h00. Encerra à terça.


GPS
Latitude : 41.28067480000001
Longitude : -8.085921999999982
Partilhar
Partilhar
Morada
Terreiro do Paço, Ala Nascente, 62-65, Lisboa (Baixa)
Telefone
210987656
Horário
Das 12h30 às 23h00. Não encerra.


GPS
Latitude : 38.7083217
Longitude : -9.13576820000003
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua do Heroísmo, 215, Porto (Bonfim)
Telefone
225363388 / 91978759
Horário
Das 12h30 às 15h e das 19h às 22h. Sexta só jantar; domingo só almoço. Encerra de segunda a quinta-feira.


GPS
Latitude : 41.1463719
Longitude : -8.593110499999966
Partilhar
Morada
Rua 28 de Setembro, 13, Cabriz, Sintra
Telefone
219233113
Horário
Das 12h30 às 22h30. Não encerra.


GPS
Latitude : 38.81505689999999
Longitude : -9.389724999999999
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua Agostinho Lourenço, 339-A (Areeiro)
Telefone
218486965
Horário
Das 07h00 às 22h00. Encerra ao domingo.


GPS
Latitude : 38.7451567
Longitude : -9.132343600000013
Partilhar
Partilhar
Morada
Largo Hermenegildo Solheiro, Melgaço
Telefone
251404576
Custo
(€) 15 euros
Horário
Das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 22h00. Encerra segunda ao jantar e terça todo o dia.


GPS
Latitude : 42.113196579253426
Longitude : -8.259262919049092
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua Coronel Marques Leitão, 12, Lisboa (Alvalade)
Telefone
218410990
Custo
(€€) Preço médio da refeição: 25 a 35 euros por pessoa
Horário
Das 12h30 às 23h00. Encerra ao domingo.


GPS
Latitude : 38.7569519
Longitude : -9.139010900000017
Partilhar