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Crítica Fernando Melo: O último Bastardinho de Azeitão 40 Anos

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Vai já para dez anos a prova que sagrou campeão europeu um escanção sueco, no troféu Ruinart. Andreas Larsson identificou às cegas o moscatel de Setúbal que os outros concorrentes atribuíram a outras denominações de origem. A edição de 2007 do cobiçado palmarés recentrou as atenções mundiais na grande bebida que pode ser o moscatel da zona da pacata vila de Azeitão e suas famosas vinhas de transição areia-argila. Era da José Maria da Fonseca (JMF) o néctar, como são a esmagadora maioria dos moscatéis de antologia do nosso país.

Surpreenderá talvez muitos o facto de um vinho com o qual vimos convivendo desde há muito de repente atingir a glória de ser identificado univocamente às cegas por um provador internacional. A resposta contudo é simples: trata-se de um vinho único, em que o balanço entre frescura, intensidade e complexidade atinge muitas vezes nível supremo, portanto fácil de fixar.

Vergonha para nós, que o deixamos passar tantas vezes despercebido e no qual tantas outras mais não vemos que o regular vinho de sobremesa docinho, servido em copinhos pequenos ao lado de pastéis de nata ou mini-tortas de Azeitão.

Pois há décadas que a JMF produz vinhos licorosos de grande gabarito e antes que alguém ganhe mais um grande troféu com um outro, há pelo menos que provar o Bastardinho de Azeitão 40 Anos que a casa acaba de lançar. Com uma agravante: é o último. Produzido a partir da casta Trousseau, conheceu diversas produções de 20 Anos, depois 25 Anos, mais tarde, face já à exiguidade de stocks, o 30 Anos e finalmente o 40 Anos.

Os vinhos componentes deste lote que por 250 euros (500 ml) a JMF disponibiliza numa bonita garrafa têm idades compreendidas entre 40 e 80 anos. E como se não bastasse a selva aromática de amêndoas, figos secos e nougat, entra na boca para ficar, vai buscar forças ao grupo de amargos que o torna único, conspira com os quase 200 gramas por litro de açúcar que contém e levanta voo na incrível acidez de mais de 9 g/L (tartárico). Os felizardos que dentro de 100 anos abrirem uma destas garrafinhas vão dizer uns para os outros “mas por que bebiam eles outros vinhos?”. Pois…