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1 de abril: mitos urbanos de Lisboa e Porto

Percorra a fotogaleria para conhecer as lendas das cidades.
1. D. Pedro IV ou Maximiliano do México? Desde que a estátua de D. Pedro IV ocupou lugar no Rossio, em 1870, que uma história curiosa foi sendo disseminada pelos lisboetas. A estátua não seria do «rei soldado» mas sim de Maximiliano, Imperador do México, que fora executado 1867. Há duas versões deste mito urbano: uma diz que tudo se tratou de uma troca de encomendas, a estátua do rei português teria ido para o México e a do imperador Maximiliano tinha ficado cá. A outra versão diz que a estátua seria originalmente de Maximiliano, mas como este foi fuzilado, foi reaproveitada e posta no Rossio, como estátua do rei português, que tinha falecido já em 1834. A verdade é que a estátua foi mesmo planeada para homenagear D. Pedro IV, como comprovam os escudos nos botões, a Carta Constitucional e o colar da Torre e Espada. Além disso, durante as obras de restauro em 2001 foram descobertos dois frascos de vinte centímetros cada, contendo documentos e uma fotografia revelada em albumina, que revelam que a estátua de bronze projetada pelo escultor francês Èlias Robert, é mesmo do rei português.
Estátua de D. Pedro IV
2. Lisboa foi erguida em sete colinas? Quando se pensa em Lisboa, pensa-se na «cidade das sete colinas». Na verdade, Lisboa não tem sete colinas. Este mito foi criado pelo Frei Nicolau no século XVII, no seu livro «Livro das Grandezas de Lisboa», querendo forçar um paralelo com a cidade de Roma, designada na antiguidade com o mesmo ‘título’. Tal como aquela, Lisboa teria sido erguida em sete colinas. Que seriam: «São Jorge, São Vicente, São Roque,Santo André, Santa Catarina, Chagas e Sant'Ana». Na verdade, esqueceu-se da Graça. Outro facto é que as Colinas de Santa Catarina e de Chagas, até finais do século XVI, eram apenas um monte - o Pico de Belveder. No ano de 1597, houve uma derrocada de terras devido a um terramoto, que cavou a depressão onde hoje é a Bica, criando-se assim as duas colinas atuais.
Miradouro da Graça
3. Quem é o padroeiro de Lisboa: Santo António ou São Vicente? Ao contrário do que muitos portugueses pensam, Santo António não é o padroeiro da Diocese de Lisboa, mas sim São Vicente (na fotografia). Conta a lenda que este terá sido um mártir cristão de início do século IV. Nascido em Huesca (na altura parte do Império Romano, atualmente Espanha), Vicente seria contemporâneo do Imperador Diocleciano. Quando este ordenou a proibição do culto cristão e a destruição das igrejas, incentivando os rituais pagãos, o cristianíssimo Vicente, já a viver em Valência, recusou-se a fazer sacrifícios aos deuses. Por causa disso, teria sido martirizado até a morte e o seu corpo entregue a animais para ser devorado. Diz o mito que os seus restos foram protegidos por um corvo. Os cristãos disseram «milagre!» e ergueram-lhe uma igreja, passando a venerar Vicente como santo. Séculos mais tarde, a Península Ibérica foi invadida pelos muçulmanos. Em 713, estes teriam posto o corpo do santo num barco deixando-o à deriva. O barco, sempre acompanhado por dois corvos, acabaria por aparecer Cabo de Sagres, que se passou a chamar Cabo de São Vicente. Os cristãos que aí viviam sob domínio mouro, recolheram o corpo, transportando-o para uma ermida erguida em sua homenagem. Ao longo dos séculos, o culto alastrou-se por todo o território que seria Portugal. Até que o primeiro rei português D. Afonso Henriques decidiu resgatar o corpo de São Vicente aos mouros, que dominavam Sagres. As relíquias foram transferidas para uma igreja fora das muralhas de Lisboa - a atual S. Vicente de Fora). Em 1173, foi proclamado o santo padroeiro de Lisboa.
Santo António
4. Porque se chamam de tripeiros os portuenses? Os portuenses têm a firme convicção que são chamados de ‘tripeiros’ devido a um acontecimento muito específico: a Conquista de Ceuta. Melhor dizendo, os habitantes da cidade terão inventado o famoso prato Tripas à moda do Porto depois de terem salgado e enviado toda a carne da cidade para abastecer a frota que iria conquistar Ceuta em 1415. Teriam, então, ficado só com as ‘tripas’ dos animais, o que os terá levado a criar o prato. O historiador Joel Cleto defende, no seu livro «Lendas do Porto», que, muito provavelmente, a tradição de comer tripas já existia na cidade muito antes deste acontecimento. No século I a.C, as tribos suevas (que viviam no sul da atual Alemanha) cozinhavam tripas - na verdade, o estômago da vaca. Depois da queda do Império Romano do Ocidente, os suevos atravessaram a Europa até ao noroeste da Península Ibérica onde se instalaram, sendo o Porto uma das suas principais cidades. A tradição de comer tripas pode, assim, remontar ao século VI. Ainda hoje, pratos com a mesma base fazem parte da gastronomia das regiões por onde andaram os suevos. Por exemplo, na república checa come-se drzky, e nas Astúrias callos asturianos.
Monumento aos Tripeiro, escultura de Lagoa Henriques, de 1960.
5. Zé do Telhado assaltou a Casa de Ramalde numa noite de baile? Muitos habitantes do Porto - principalmente na freguesia de Ramalde - acreditam que o famoso salteador Zé do Telhado - conhecido pelas suas investidas na região Entre Douro e Minho durante as décadas de 40 e 50 do século XIX - foi o autor de um memorável assalto à Casa de Ramalde, uma casa senhorial nos arrabaldes do Porto. Numa noite de verão em 1852, a casa estava toda engalanada para receber o morgado André de Cerveira Leite, sobrinho do falecido Senhor de Ramalde que regressava de Coimbra, onde estudava, para passar as férias de verão. Durante o baile, os muitos aristocratas que lá se encontravam foram surpreendidos pelo bando do Zé do Telhado, que levou todas as joias que conseguiu. A história não é de todo inverossímil. Mas, na verdade, este assalto não aconteceu. O historiador Joel Cleto afirma no seu livro «Lendas do Porto» que nesse ano a Casa de Ramalde era apenas uma ruína. Tinha sido incendiada em 1809 pelas tropas napoleónicas. A família proprietária Cerveira Leite só a mandou reconstruir 70 anos depois. É só fazer as contas.
Casa de Ramalde
3. Afinal, quem foi Pedro Sem? «Dê uma esmola ao Pedro Sem, que já tudo teve e agora nada tem» pedia o mendigo que se arrastava pelas ruas do Porto no século XVI. Este mendigo tinha sido em tempos um mercador rico, mas também um homem mau e usurário, que fez fortuna com a desgraça alheia. Possuía uma frota de 100 navios de onde trazia especiarias, pedras preciosas e sedas da Índia, sendo por isso conhecido como Pedro Cem. Para conseguir um título aristocrático, fez chantagem a um nobre e casou-se com a sua filha. Na festa de casamento, levou os convidados para a Torre para lhes mostrar a sua frota que regressava da Índia. Num momento de excesso de confiança diz: «Agora, mesmo Deus querendo, eu não posso ficar pobre». Logo uma grande tempestade se abateu sobre o mar e a cidade, fazendo naufragar todos os seus navios e incendiando o seu palácio. O odiado burguês ficou pobre em poucos minutos e fugiu. Reapareceu já velho a mendigar pelas ruas e a população castigou-o dando-lhe apenas o necessário para uma sobrevivência sofrida. A Torre Medieval de Pedro Sem, na rua da Boa Nova, em frente ao Palácio é há muito tempo associada a esta história. Na verdade, ela foi mandada edificar por Pero Docem, chanceler-mor do rei Afonso IV, no século XIV. Mas este Pero não é o da lenda, isto porque este era mesmo nobre de nascença e viveu antes da Expansão Marítima. A lenda pode estar associada ao mercador Pedro Pedrossem da Silva, que viveu no século XVI. Mas torre não seria esta, que também é conhecida por Torre da Marca. No entanto, a Torre da Marca era noutro sítio, onde agora é a capela dedicada ao rei de Piemonte Sardenha Carlos Alberto, nos jardins do Palácio de Cristal.
A Torre da Marca ficava onde está actualmente a Capela dedicada ao rei Carlos Alberto da Sardenha e Piemonte, nos jardins do Palácio

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