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Roteiro urbano: Caminhar pelo lado mais negro do Porto

Percorra esta fotogaleria para conhecer os pontos de passagem destas Porto Dark Tours. (Fotografias: Ivan Del Val/GI)
1. Cadeia da Relação Este edifício de inícios do século XVII funcionou como cadeia até 1974. Lá, estiveram encarceradas várias figuras ilustres, como Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, cujo romance proibido terminou de forma trágica: superadas várias provações, casaram-se, mas dois anos depois o escritor suicidou-se, «porque a cegueira o impedia de escrever», conta a guia Ângela Mota. Em frente à antiga Cadeia da Relação houve, em tempos, execuções, e bem perto, no Jardim da Cordoaria, existiu um ulmeiro que ficou conhecido como «árvore da forca»: tinha forma de cadafalso, mas «nunca ninguém foi executado» nos seus ramos.
2. Hotel Teatro Poderia pensar-se que o Hotel Teatro tem este nome devido ao vizinho Teatro Sá da Bandeira, todavia, chama-se assim porque ali funcionou o Teatro Baquet, construído num terreno entre a Rua de Santo António (atual 31 de Janeiro) e a Sá da Bandeira. Em 1888, durante uma peça, deflagrou um incêndio que destruiu o edifício, matou 120 pessoas e feriu outras tantas, recorda a guia, para logo concluir: «Diz-se que ainda hoje há alguns barulhos estranhos».
3. Estação de São Bento No lugar daquela que é considerada uma das mais belas estações do mundo esteve, outrora, o convento das freiras beneditinas de São Bento da Avé-Maria, e diz a lenda que lá se mantém um fantasma tranquilo. Em 1834, saiu um decreto para extinguir as ordens religiosas do país: as masculinas no imediato e as femininas com a morte da última freira no convento. Ora, «o fantasma que supostamente habita a estação será o da última freira». Conta-se que, «nas horas mais calmas, se ouve rezas muito serenas».
4. Ribeira Aquando da segunda invasão francesa, em 1809, a população terá tentado escapar das tropas do marechal Soult por uma ponte constituída por barcas, que unia Porto e Gaia, acabando 4000 pessoas por morrer afogadas no rio. A tragédia da Ponte das Barcas ainda hoje é lembrada, tanto pelo memorial das Alminhas da Ponte, no cais da Ribeira, como pelo monumento evocativo, da autoria do arquiteto Souto de Moura, mostra a guia, que deixa cair o humor, aqui, e assume uma expressão séria. No memorial, continuam a arder velas.

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Na base do roteiro com que a Porto Dark Tours dá a conhecer o lado mais sombrio da cidade está um «trabalho intenso de pesquisa», envolvendo visitas a alfarrabistas e conversas com historiadores e moradores, conta Francisco Sequeira, um dos responsáveis do projeto. É que estas visitas guiadas noturnas, a pé, pela Baixa, com paragem em vários pontos marcados por acontecimentos obscuros, têm por base factos históricos e lendas que foi preciso desenterrar.

As visitas, que decorrem há mais de um mês, realizam-se, geralmente, às sextas e sábados, pelas 21h00, com marcação prévia, podendo decorrer noutros dias, a pedido, para um mínimo de três pessoas. Depois, basta comparecer no ponto de encontro – a Praça de Gomes Teixeira, junto à Fonte dos Leões – e aguardar a chegada do guia, identificado com uma t-shirt da Porto Dark Tours.

Os guias, que vão variando, tiveram contacto com o teatro, e cada um proporciona uma experiência diferente, de acordo com o seu estilo. Se for Ângela Mota, é de esperar um registo mais cómico. «O Walking Dead já acabou; mais vale vir aqui», diz ela, antes de iniciar o percurso, que se estende por 3,5 quilómetros e apresenta baixo grau de dificuldade.

Durante quase duas horas, ouve-se falar, por exemplo, de «mártires da pátria» enforcados e decapitados, e a esse pretexto fica-se a conhecer uma lenda «um bocado Sweeney Todd», porque mistura um executor, cadáveres e um negócio de empadas. Mas nem todos os temas são tão macabros: também se abordam paixões e curiosidades arquitetónicas. O objetivo não é pregar sustos, assegura Francisco Sequeira: «Não vai haver ninguém aos gritos. Quem tiver medo do escuro, pode vir na mesma».

 

Porto Dark Tours
Tel.: 914306226
Web: facebook.com/portodarktours
Sextas e sábados, às 21h00 (com marcação prévia em www.blueticket.pt)
Preço: 9 euros

 

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