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Crónica de André Rosa: É o Natal a chegar

(Fotografia: DR)

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“Ferrero Rocher. Satisfaz o desejo de requinte”. Tinha eu pouco mais de um ano quando a voz elegante com que todos lemos esta frase – que assinava o mais popular anúncio de chocolates natalícios – foi gravada e começou a ouvir-se em milhares de televisões por esse Mundo fora, em 1995. Passados 24 anos, não há quem não se recorde da publicidade em que uma senhora aristocrata vestida de amarelo se aproximava de Ambrósio, o seu motorista, dizendo-lhe que lhe “apetecia tomar algo”. “Entendo, senhora”, respondia ele, e ao carregar discreto num botão abria–se, de repente, uma bandeja dourada no carro com uma pirâmide de chocolates de avelã.

O anúncio aos chocolates Ferrero Rocher – que ainda hoje se alinham nos topos dos corredores dos hipermercados – está para o Natal como a castanha está para o São Martinho. São sabores enraizados numa época, que só sabem bem em tempo frio, e que se tornaram ícones do respetivo momento festivo. Depois chegou o Mon Cherry. “Bom demais para ficar sem ele”, apregoava-se, mas longe de atingir a popularidade e memória dos bombons italianos.

Tristes as crianças que hoje vivem um Natal sem ver um mordomo conduzir uma limusina apetrechada de chocolates. (Provavelmente, até podem sonhar com uma limusina, mas cheia de gente a beber espumante e a ouvir música pop). Eu tive a sorte de crescer na companhia daquelas figuras, que apareciam nos eternos intervalos dos filmes de Natal; e de crescer também a ver e a cantar as músicas dos anúncios a brinquedos, com os quais sonhava um dia brincar no tapete da sala. Nos tempos livres encorajavam-nos a fazer “certinhos” nos catálogos de brinquedos para depois os entregar num marco do correio, com uma carta escrita ao Pai Natal.

“Bem-vindos ao Mundo encantado dos brinquedos onde há reis, princesas, dragões” era o verso que na altura mais cantarolava, embalado pela Leopoldina, que apareceu pela primeira vez em 1992. Depois chegaram os filmes The Grinch, em 2000, com a sua visão distorcida do Natal; The Polar Express, em 2004, que nos ensinou a “acreditar” na magia da época; e uma nova versão de Um conto de Natal, protagonizado pelo amargo Scrooge, em 2009. Era a época em que os canais generalistas estreavam filmes todos os fins de semana e em que ver Sozinho em casa era já um ritual de mantas no sofá.

À medida que se cresce, parece que toda esta magia do Natal se desvanece em pouco mais do que uma tarde de passeio no meio das luzes de Lisboa, no shopping e na consoada com a família. Os tempos também são outros: provavelmente o PAN impediria o anúncio da Leopoldina (e da Popota) por sequestro de animais e o Kevin já não se perderia da família por ter geolocalização do Facebook no telemóvel. Reconfortante é saber que guardamos todas estas referências, tal como as crianças de hoje estão a guardar as suas de amanhã. E o Natal, cada um vive-o e lembra-o como quiser.