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A banca histórica de frescos da Dona Ilda no Mercado do Bolhão

Dona Ilda na sua banca no Mercado do Bolhão (Fotografia de Pedro Correia/GI)

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“É Ilda! Botaram-me o ‘Dona’ quando fui para o La Vie, e aqui continua. Mas não sou dona. Dona de quê?”. Ilda Araújo Magalhães pode não ser dona de nada, mas é ela que manda na sua banca de legumes frescos. Apesar da língua afiada e discurso rápido, é avessa a vedetismos. Mas com um pouco de insistência, vai contando a sua história. “Não venho para aqui desde pequenina! Não sou do Porto. Sou de Vila do Conde, freguesia de Labruge”, diz com orgulho.

Uma vez por outra, aos sábados, vinha ao mercado ajudar a “falecida mãe”, Ana. “A minha mãe vendia grelos e hortaliças. Há 50 ou 70 anos, andávamos a apanhar grelos nos campos. Comecei aos 12. Fazíamos aquele molhe fiandeiro. Aos domingos, passávamos a tarde a fazer mesilhos de palha, às 50 dúzias”, para atar os molhos.

Todos os dias, lembra, havia uma camioneta que trazia cinco ou seis mulheres para o mercado. “Naquele tempo, vinham as senhoras da Ribeira, as das mercearias e dos supermercados comprar os molhos fiandeiros, que eram aqueles pequeninos. Colhiam-se mais curtinhos e amarrava-se com palha. Só queriam daquilo. Agora nem temos, só se vendem dos grandes”, conta.

Quando a mãe faleceu, há 32 anos, Ilda decidiu largar a fábrica onde trabalhava e ficar com a banca. “Comecei a vender de tudo, grelos, pencas, pimentos…”, diz. No centro da banca, uma preciosidade: uma máquina de cegar caldo verde, à manivela. Isto no São João não dá vazão. Tenho de cegar em casa, à noite. O ano passado nunca parei”, recorda. Com pouca couve para cegar, mas com muito trabalho, Ilda foi incansável no dia de inauguração. “Estou satisfeita, nunca vi tanta gente como hoje”, remata.