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Dulye: «A comida é essencial para a cerveja artesanal»

Percorra a fotogaleria para descobrir as dicas do chef norte-americano Adam Dulye.
1. Escolher a cerveja certa para um convívio Para Adam Dulye, há três passos importantes: a) Escolher produtos de qualidade, porque quando a experiência corre mal à primeira, a nossa reação tende a ser defensiva e a não dar uma segunda oportunidade. b) Ter algo que seja familiar para o nosso palato, ou seja, em vez de escolhermos apenas cervejas que nunca provámos antes, é bom trazer para a mesa e/ou convívio um prato, um vinho ou até mesmo uma cerveja que já conhecemos para nos dar confiança. Outra dica importante, porque muitas vezes as cervejas têm notas de prova similares aos vinhos, é, por exemplo, ter presente que quem gosta de vinhos mais intensos e encorpados gosta, por regra, de cervejas com mais ervas na sua composição. c) Não importa o lugar, importa desfrutar a cerveja e o momento.
2. Quebrar o mito da cerveja preta Existe uma ideia generalizada de que as cervejas pretas são mais alcoólicas. Para Duyle, não só é um falso pressuposto como ele incentiva até a que as mesmas sejam combinadas com pratos mais leves. O maior desafio, a seu ver, passa sobretudo por conseguir uma cozinha mais acidulada, pois é nessa gama de paladar que se consegue melhores harmonizações com a cerveja – e não ter medo de explorar o amargor. (Fotografia de Maria João Gala/GI)
3. E o chocolate? Curioso, ou não tanto, uma grande parte dos consumidores, segundo Duyle, quer saber que tipo de cerveja combina melhor com chocolates – isso mesmo, chocolate. Também neste quesito, há inúmeras possibilidades a explorar, dependendo se se gosta mais de chocolates de leite ou com uma maior percentagem de cacau, mas as cervejas pretas e torradas, de um modo geral, são ótimas combinações. (Fotografia de Fábio Poço/GI)
4. As tendências Sim, é possível falar de tendências nas cervejas artesanais, sendo que Dulye destaca sobretudo as American pale ales (APA) e as India pale ales (IPA). Em comum, uma cor âmbar e um gosto amargo bem intenso, resultado da utilização do lúpulo americano na sua composição. Já as APA apresentam notas mais cítricas – sobretudo quando comparadas às britânicas – e até uma certa doçura no final de boca, ao passo que as IPA mantêm notas secas até ao final.
Dulye passou por Lisboa, a convite da Embaixada dos Estados Unidos, numa visita-relâmpago. Mas teve tempo para saborear algumas cervejas nacionais, ir ao Mercado da Ribeira, trocar impressões com os donos do Groundburger (hamburgaria com uma excelente carta de cervejas artesanais) e preparar alguns pratos com ingredientes portugueses que tratou de harmonizar com cervejas americanas.
«Vai ser excitante acompanhar a evolução de França, Espanha e Portugal nos próximos anos, pois estão num momento muito interessante em termos de comida e de cerveja artesanal», diz o chef Adam Dulye.
«A cerveja artesanal está a reclamar o seu lugar à mesa», acredita o chef norte-americano.
«O bom da cerveja artesanal é que todas as pessoas podem encontrar a sua preferida. É comum pensar-se: não gosto desta, mas vou encontrar outra de que gosto». A comida ajuda nessa descoberta.

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«Vai ser excitante acompanhar a evolução de França, Espanha e Portugal nos próximos anos, pois estão num momento muito interessante em termos de comida e de cerveja artesanal.» Quem o diz é Adam Dulye e ele sabe do que fala – nos últimos anos, enquanto chef executivo da Brewers Association e do CraftBeer.com, uma associação não lucrativa que apoia e promove a cerveja artesanal produzida nos EUA, ele passa grande parte do seu tempo a viajar pelo mundo.

Dulye passou por Lisboa, a convite da Embaixada dos Estados Unidos, numa visita-relâmpago, entre Barcelona e Paris, mas teve tempo para saborear algumas cervejas nacionais, ir ao Mercado da Ribeira, trocar impressões com os donos do Groundburger (hamburgaria com uma excelente carta de cervejas artesanais) e preparar alguns pratos com ingredientes portugueses que tratou de harmonizar com cervejas americanas.

«A cerveja artesanal está a reclamar o seu lugar à mesa»

O seu interesse por esta área começou cedo, aos 18 anos, em grande parte por ter crescido numa cidade do Midwest, Kansas City, com tradição cervejeira. Depois de estudar culinária em França, trabalhou vários anos como consultor e chegou a ter restaurantes aclamados em São Francisco, como o The Abbot’s Cellar ou o The Monk’s Kettle, mas, desde o início de 2015, o seu desafio é provar que comida e cerveja artesanal têm tudo que ver: «A cerveja artesanal está a reclamar o seu lugar à mesa. A comida, por sua vez, é muito importante para levar as pessoas a provar cervejas, pois, por si só, muitas delas, sobretudo as IPA (india pale ale), podem causar estranheza, devido a serem amargas, a paladares menos habituados», esclarece.

O norte-americano vê com bons olhos, e nisso Portugal não é exceção, o aparecimento e o fortalecimento de uma cultura da cerveja artesanal graças às novas marcas, às novas lojas e aos novos bares especializados. Até ver, os EUA, o Reino Unido e o Japão são os países mais fortes deste movimento, mas importante mesmo é que «se criem relações de confiança, pois só assim será possível termos produtos de qualidade». Por outras palavras, Dulye é perentório ao afirmar que «ninguém nesta indústria tem interesse em que se produza má cerveja». «É importante para o negócio que se façam boas cervejas, do mesmo modo que é importante que os bares e os restaurantes entendam não bastar mais ter só uma boa carta de vinhos, é preciso também uma boa carta de cocktails e de cervejas. As pessoas querem experiências», defende.

«Ninguém nesta indústria tem interesse em que se produza má cerveja»

«O bom da cerveja artesanal é que todas as pessoas podem encontrar a sua preferida, porque há uma maior liberdade para falar de cerveja e para avaliar o que se gosta ou não, ao contrário do vinho. É mais comum pensar-se: não gosto desta, mas vou encontrar outra de que gosto», continua. A comida, lá está, ajuda nessa descoberta. Nos pratos que preparou em Lisboa, Dulye escolheu o cherne, o porco preto (que não conhecia), o polvo de OIhão e, com a ajuda dos cozinheiros da embaixada, até se arriscou a brincar com uma versão em croquete dos pastéis de bacalhau.

Para cada um deles escolheu não uma, mas duas a três cervejas artesanais americanas, para provar que elas nos ajudam a trazer os aromas certos na boca. Foi assim, por exemplo, que se deu a descobrir que o nosso alimentado a bolota vai muito bem com a Maui, uma cerveja produzida no Havai com notas tostadas e um toque de coco, ou ainda com uma Dragon’s Milk, cerveja stout com notas de baunilha e de Bourbon muito cremosa. Quem diria?