Publicidade Continue a leitura a seguir

Um roteiro pela água que move Paredes de Coura

Percorra a fotogaleria para conhecer cada um dos locais destacados neste roteiro. (Fotografias de Rui Manuel Fonseca/GI)
Aos 87 anos, Manuel Barbosa é o último moleiro da terra e o guardião do último destes engenhos ainda em funcionamento, Um complexo de moinhos em Casaldate que pode ser visitado.
É desta estreita formação rochosa que brota a água de nascente que, depois de tratada, é engarrafada sob a marca Salutis.
A poucos quilómetros de distância da vila, encontra-se o restaurante Casa do Xisto. Um local especial, até porque dá aos visitantes a possibilidade de pescarem, nos vários lagos, o seu próprio almoço - as trutas que são uma das especialidades gastronómicas da terra.
Dona Cila é a cozinheira e proprietária deste espaço. É ela quem guarda a receita secreta do molho que envolve as trutas grelhadas.
O javali estufado servido com arroz das matanças, apropriadamente confecionado com sangue, é outra das especialidades na carta da Casa do Xisto.
Ao longo das estradas do concelho, esbarra-se naturalmente com muitas das vacas barrosãs que por ali pastam livremente.
A Paisagem Protegida de Corno de Bico é um dos locais selvagens da região, onde os animais continuam a viver em liberdade. Cavalos selvagens, lebres e até a famosa alcateia que habita a zona.
É na Lagoa da Salgueirinha que se forma o regato de Reiriz, um dos cursos de água que dá origem ao rio Coura.
A poucos metros, é possível visitar o CEIA, o Centro de Educação e Interpretação Ambiental da Paisagem Protegida de Corno de Bico. Um edifício de linhas arquitetónicas arrojadas, mas bem inserido no ambiente circundante.
A Praia Fluvial do Taboão é o palco principal deste curso de água pela vila. Todos os anos, recebe milhares de visitantes que por ali acampam e mergulham, antes de se dirigirem aos palcos do Vodafone Paredes de Coura, o festival de música que se tornou no evento cultural mais importante da região.
É preciso percorrer o trilho para descobrir a Cascata das Lages Altas, escondida entre o denso arvoredo de Infesta, e que tem origem no ribeiro das Poldras - local ideal para passeios na natureza ou atividades radicais como o canyoning.
Em 2014, a casa do caseiro da Quinta da Cruz foi renovada e assumiu o nome de Casa da Cal. Uma casa de turismo rural de decoração moderna e colorida que se replica nas duas divisões, habitáveis separadamente e com cozinha independente.
A Casa da Cal é refúgio com todo o conforto, no absoluto silêncio da aldeia, que ainda dispõe de piscina, que se enche graças à água de uma das muitas nascentes da região. (Rui Manuel Fonseca / Global Imagens)
Maria José Brandão, representante da quinta geração da família, é quem cuida deste casarão do século XVII, situado na beira da estrada da pequena localidade de Eiró.
Atrás do balcão do Leira de Cima, um dos novos espaços da vila, permanece um painel luminoso com um dos muitos nomes que passaram pelo famoso festival de música. A casa que já existia há dois anos reabriu com nova gerência, gente da terra com vontade de animar a vida noturna, entre pratos regionais como o pernil de porco e os cogumelos shiitake de produção local e servidos salteados com um pouco de alho. E, tal como em todo o concelho, aqui a cultura é abundante, entre livros, boa música e arte exposta nas paredes da casa rústica.
Menos modernizado mas igualmente concorrido, especialmente aos almoços, o restaurante Albergaria continua a ser uma das escolhas preferidas dos courenses. De prova obrigatória: a posta de vitela à moda da casa, tão tenra que quase dispensa faca.

Publicidade Continue a leitura a seguir

O caminho de terra batida segue o curso de água até um pequeno aglomerado de casas em granito. Um «bom dia!» enérgico irrompe o som da corrente. Quem recebe os visitantes é Manuel Barbosa, o moleiro da terra e dono do último moinho em atividade em Paredes de Coura. Há 40 anos, não lhe faltavam clientes, mas entretanto conformou-se à evolução tecnológica que tornou praticamente obsoletos os velhos e resistentes engenhos. Hoje, poucos trituram os seus cereais nesta mó que ainda roda com vigor e que Manuel, apesar dos 87 anos de idade, ainda manobra com destreza. «De vez em quando, ainda vem cá gente moer farinha, para fazerem o pão que é servido nas matanças das freguesias do lado.»

Das cinco mós que compõem o COMPLEXO DE MOINHOS DE CASALDATE, apenas uma permanece em funcionamento. Um ligeiro puxar de um cordel, dois punhados de milho atirados para a adelha e em poucos segundos o aroma invade a pequena casa granítica que ali se ergue há três séculos. Dessa farinha nasce a broa – normalmente de milho, cereal abundante nesta terra apelidada de «celeiro do Minho» – que pode ser feita por qualquer pessoa, com a experiência Sabores da Terra da COURA AVENTURA, que promove visitas guiadas a este marco do concelho.

A água é a força motriz de toda esta atividade. Já desativada, a serração onde Manuel trabalhou décadas na carpintaria e também ela movida pela força da corrente, está agora inerte. Não por culpa das águas do Coura, que continuam a correr. É ali que nasce o rio, a poucos metros de Casaldate, no encontro das águas da ribeira de Cavaleiros e do regato de Reiriz – o ponto de partida ideal para um percurso pelo ciclo da água que marca Paredes de Coura.

Em Casaldate mora o último moinho em atividade em Paredes de Coura, manobrado com destreza pelo moleiro da terra, Manuel Barbosa

A água é a alma do município minhoto de 10 mil habitantes. Os ribeiros brotam nas bermas e nos terrenos privados e irrigam a paisagem que se cobre de um verde intenso, de pastos povoados de vacas de raça barrosã. É das entranhas das formações graníticas que o povo se habituou a recolher a água de que necessitava, essencialmente para consumo. Uma das mais famosas nascentes pertence hoje à SALUTIS. Esta fonte centenária de Grichões, que os courenses procuravam pela extrema leveza da sua água, é comercializada pela empresa de água mineral que é hoje uma das marcas mais reconhecidas do concelho. A nascente que surge entre as formações rochosas é uma visão pouco comum e que pode ser observada no local, mediante marcação.

Manuel Barbosa ainda manobra com destreza o último moinho da terra (Rui Manuel Fonseca/GI)

Os cursos de água são também um viveiro natural para uma das especialidades gastronómicas de Paredes de Coura: a truta. Pode ser provada nos restaurantes locais, mas a cerca de dez quilómetros da vila a experiência é mais completa: na CASA DO XISTO, as canas de pesca artesanais estão ao dispor dos clientes, adultos e crianças, que podem apanhar trutas nos pequenos lagos do jardim. Maria Lucília, cozinheira e proprietária trata do resto. O peixe é preparado com perícia e chega à mesa grelhado e envolto num molho especial que é receita secreta da dona Cila. As couves caseiras e as carnes da criação própria de porco bísaro completam a ementa que serve ainda um leque de especialidades como o javali estufado com arroz das matanças e truta em escabeche.

Outra curiosidade: estamos em terra de chuva abundante e que tem uma das maiores taxas de pluviosidade do país. Um antídoto natural contra os fogos que raramente atingem proporções ameaçadoras nestes terrenos. É nos territórios adjacentes à vila, hoje um centro cultural vibrante, que se descobrem os segredos das riquezas da terra alimentada pelo Coura. Para ir ao encontro da génese deste rio que dá vida a Paredes de Coura é necessário percorrer a panorâmica Estrada Nacional 306 até ao coração da PAISAGEM PROTEGIDA DE CORNO DE BICO.

No restaurante Casa do Xisto, os clientes pescam as suas próprias trutas, que depois são preparadas segundo uma receita secreta da experiente cozinheira

Foi ali perto que o gado da região, de lampiões na cabeça durante a noite, afugentou as tropas espanholas durante a célebre batalha de Travanca, em 1662, julgando o invasor tratarem-se de soldados portugueses. Uma lenda, é certo, mas os bois e as vacas barrosãs continuam a percorrer as pastagens nas bermas do caminho que conduz ao ponto mais alto da paisagem, a 883 metros de altitude. Juntam-se a eles os cavalos selvagens, lebres fugidias atravessam a estrada e, longe da vista, escondidos nos arbustos que lhe servem de casa, uma alcateia de lobos ibéricos que as gentes da terra bem conhecem.

O amplo carvalhal de folhagem densa alonga-se pela paisagem pontilhada com enormes blocos graníticos, até ao curioso LAMEIRO DAS CEBOLAS, um terreno de turfa, algo pantanoso, que dá origem a um dos afluentes do Coura, o ribeiro dos Cavaleiros. Por ali, existem três pontos de observação da fauna local, que inclui o esquivo corço e a salamandra-lusitânica. Os troncos das árvores vestem-se com um musgo que aparenta pingar dos seus ramos – uma espécie que sobrevive apenas nos locais com ar puro.

Os cavalos selvagens passeiam livremente pela Paisagem Protegida do Corno de Bico (Rui Manuel Fonseca/GI)

Cerca de seis quilómetros a norte, o percurso conduz à antiga Colónia Agrícola de Chã de Lamas, criada pelo Estado Novo para fomentar a agricultura. É dali que através de um caminho de terra se acede à pequena LAGOA DA SALGUEIRINHA, a outra nascente do Coura, um charco de camada densa de nenúfares, vegetação farta e casa de inúmeras espécies. Entre elas, a víbora-de-seoane, uma das raras serpentes venenosas do país e espécie ameaçada.

Na estrada acidentada que percorre a paisagem protegida de Corno de Bico é comum encontrar cavalos selvagens, lebres e vacas barrosãs que pastam livremente na natureza

É daqui que parte o TRILHO DOS MOINHOS, percurso de oito quilómetros, um dos 17 trilhos municipais sinalizados, que termina precisamente nos moinhos de Manuel Barbosa. Um caminho adaptado a iniciantes e que se percorre em pouco mais de três horas. Completo o itinerário e o ciclo da água na génese do Coura, seguem-se as curvas e contracurvas do rio em direção à vila, onde a população e os milhares de visitantes mergulham nas águas frescas da PRAIA FLUVIAL DO TABOÃO, construída na década de 1990 e que é hoje uma das imagens de marca de Paredes de Coura, graças ao festival de música que ali acontece, sempre no mês de agosto.

Um pouco mais distante, perto de Infesta, descobre-se entre o denso arvoredo a CASCATA DAS LAGES ALTAS, onde o curso do ribeiro das Poldras, também ele afluente do Coura, se agita e finalmente cai sobre o enorme altar granítico por onde serpenteiam as águas. Um dos pontos altos do trilho de pouco mais de cinco quilómetros que recebe o nome da cascata. O adequado último capítulo do ciclo da água que dá vida a Paredes de Coura, das chuvas às nascentes naturais, para beber, cultivar, trabalhar. E, claro, mergulhar.

 

Partilhar
Partilhar
Morada
Lugar de Arestim, 371, Eiró, Paredes de Coura
Telefone
251783543


GPS
Latitude : 41.9195628
Longitude : -8.615803000000028
Partilhar
Partilhar
Morada
Casa do Xisto, Boalhosa-Insalde, Paredes de Coura
Telefone
939334565
Horário
Sábado e domingo, das 08h às 21h; restantes dias, por marcação (até junho).
Custo
(€) Preço médio: 18 euros. Pesca: trutas para levar, 10 euros/kg; para comer ali, 20 euros/kg.


GPS
Latitude : 41.9593677
Longitude : -8.509967299999971
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua Conselheiro Miguel Dantas, 33, Paredes de Coura
Telefone
251096258
Horário
Das 15h00 às 23h00; sexta e sábado, até às 04h00.
Custo
(€) 10 euros


GPS
Latitude : 41.9123835
Longitude : -8.561287499999935
Partilhar
Partilhar
Morada
Rua Dr. Narciso Alves da Cunha, 11, Paredes de Coura
Telefone
251782450
Horário
Das 12h00 às 23h00. Encerra domingo ao jantar
Custo
(€) 18 euros


GPS
Latitude : 41.91046458442621
Longitude : -8.559033638623077