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Roteiro para redescobrir a cidade de Beja

Veja nesta fotogaleria o que há para conhecer em Beja.
Restaurante Os Infantes
José Dionísio e Júlio Roriz trouxeram de volta à vida uma lendária sala de concertos da cidade, agora feita restaurante.
Restaurante Os Infantes
Agroturismo Xistos
O minibosque é uma das grandes surpresas do Agroturismo Xistos.
Agroturismo Xistos
Além de artista plástico, Álvaro Torres é dono e chef do Portão de Sibaris. Em fevereiro vai abrir um restaurante que será também um museu do vinho.
Produto alentejano, criatividade sem fronteiras: a Mestre Cacau faz chocolate artesanal com sabores da região.

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Quem passa no cimo do cabeço, tal como Rui Conduto fez du­rante tanto tempo, pouco se importa com o que haverá ao fundo da encosta. Meia dúzia de azinheiras, mato rasteiro, uma linha de água. Não fosse a insistência do anfitrião, e possivelmente ninguém se aventuraria por ali abaixo – afinal, ele próprio (e, antes dele, o seu avô) ignorou este pedaço de terra, «era demasiado inclinado, não havia animal que o desse lavrado». Por força das circunstâncias, este recanto sobrou como sempre foi, abriga­do da mão humana, uma valiosa amostra de como o Alentejo em tempos terá sido. Já de véspera, Paula Conduto Mira, filha de Rui, havia insistido: «Amanhã têm de ver o mi­nibosque.» E encarregou o pai, na sua ausência, de se certificar que estes quarenta hectares de Alentejo primitivo não ficavam por ver.

Desce‑se a encosta, e, sem se dar por isso, a planície dá lugar a um bosque abrigado, com loendros enor­mes à beira de um ribeiro, arbustos de murta, azinheiras cobertas de musgo. A pequena man­cha de floresta pulula de vida, há pegadas fres­cas de javali, tocas de raposas, pássaros a chil­rear. E, à beira das azinheiras, uma planta cha­mada mariola, «é ela que combate as doenças da azinheira, funcionam em simbiose», expli­ca Rui, que desde miúdo percorre estes trilhos e ainda hoje se maravilha com tudo isto.

O minibosque cobre apenas um décimo da área da Herdade do Monte da Ponte. Nos restantes quatrocentos hectares, pastam vacas de raça alentejana e ovelhas merinas, o negó­cio principal da família Conduto. Há um par de anos, decidiram juntar‑lhe outra vocação, o agroturismo. Afinal, Paula, arquiteta de pro­fissão, já havia projetado várias casas de turis­mo rural para outros, porque não fazê‑lo ago­ra para si e para os seus? Num dos cocurutos da quinta, imaginou meia dúzia de villas em traços minimalistas e com abundância de luz natural. O AGROTURISMO XISTOS abriu por­tas em março, com a vocação de não ser apenas mais um sítio pa­ra dormir e tomar o pequeno‑almoço (com noites tranquilas e retemperadores inícios de dia, note‑se), antes um espaço para vi­ver a natureza, os ritmos da terra, saborear a re­gião. E isso inclui acompanhar Rui no trato do gado, workshops de cozinha e, claro, passeios guiados pelo minibosque, com identificação de plantas e apanha de túberas, murtas e outros in­gredientes silvestres.

Da Herdade do Monte da Ponte a Beja leva‑se coisa de 15 minutos. À entrada, sobressaem as rotundas, os supermercados, o McDonald’s, os sinais de modernidade que teimaram em se instalar. E, por detrás, bairros de prédios, mas não é preciso avançar muito para encontrar o coração da cidade. Um pedaço de Alentejo que, como o minibosque de Rui e Paula, não foi ain­da (muito) mexido. As casas são ainda brancas e as ruas estreitas e tortas, com nomes que só quem é de cá sabe entender – do Sa­rilho, do Sembrano, dos Açoutados. Alguns recantos precisam ainda de «carinho», mas nota‑se algum movi­mento de renovação e percebe‑se um potencial enorme – assim se consiga retirar os carros do centro histórico –, agora que o Alentejo está instalado como um dos grandes postais turísticos nacionais.

Álvaro Torres mostra‑se otimis­ta com as obras na Praça da República, on­de está para nascer o Centro de Arqueologia e Artes e as fachadas estão a ser recuperadas. Ele próprio encontra‑se em processo de mu­dança, com as obras do seu novo restaurante no número 9 da Rua Aresta Branco a andar a bom passo. Vai chamar‑lhe Museu do Vinho, com igual dose de atenção a ambas as componentes do no­me: tanto terá em exposição ar­tefactos relacionados com o vi­nho como uma carta desenhada com critério, assente na região. Até lá, «inícios de fevereiro», vaticina, mantém em laboração o PORTÃO DE SIBARIS, que abriu há dois anos, numa casinha pequena que populou de antiguidades e peças de arte.

Ou não fosse o próprio Álvaro artista, de olaria, de ferro, de vidro soprado – «artes do fogo», explica, «das quais a cozinha também faz parte». Não se estranha, portanto, o motivo que pôs um escultor diante do fogão. Também aí, usando os materiais da terra, ele exercita a sua criatividade. Pegando, por exemplo, nas migas e trabalhando‑as com vários ingredientes: co­gumelos, pimento, alho, e na ideia traz já migas de algas, de ovas, de mexilhão. Por outro lado, não abre mão da cozinha internacional, a pen­sar em quem é de fora e, ao fim de uma semana de Alentejo, anseia por ligeirezas como massas, saladas ou substanciais tostas.

Matéria alentejana, criatividade própria é também a receita que Célia e João Dias seguem, vai para uma dúzia de anos, na MESTRE CACAU. A pequena loja é montra para um negócio que junta chocolate artesanal e ingredientes como o licor de medronho, a azeitona, o poejo, a al­fazema. Para gostos mais conservadores, há também amendoins cobertos, creme de bar­rar com avelãs, duas dezenas de variedades de bombons avulso. Porém, se em Beja se fala de açúcar e tradição arreiga­da, há outra morada a reter, ao fun­do da rua. A confeitaria LUIZ DA RO­CHA está ali desde 1893 e, a avaliar pe­la fila que se instala diante do balcão por estes dias festivos, não acusa o passar dos anos. Além de bolos‑rei, filhós e afins, uma outra especialida­de desperta a cobiça – o porquinho doce, uma criação que se suspeita ter origem conventual e junta, sob a for­ma de bacorinho, ovos, gila, amêndoa e cacau.

Agora, um salto no tempo: de um dos esta­belecimentos mais antigos de Beja para aquele que é, provavelmente, o mais recente vão nem 400 metros. Júlio Roriz e José Dionísio abriram o restaurante OS INFANTES há um mês. Ou me­lhor, reabriram, que o sítio já tinha sido restau­rante. E, antes disso, um emblemático bar/sala de concertos por onde passaram esperanças da música nacional como António Variações, Xutos & Pontapés, Mler Ife Dada. Talvez anteci­pando já os saudosismos do género «ah, se es­tas paredes falassem», Júlio e José fizeram‑nas «falar»: sobre as paredes caiadas, afixaram os pósteres originais dos concertos que ali aconte­ceram. Nada disto, contudo, serve de distração ao que se passa na mesa. A carta, traçada por Júlio, dá seguimento ao trabalho iniciado no Vovó Joaquina, de onde saiu para se lançar por conta própria, com pratos de gosto caseiro co­mo fraca em vinho tinto, bacalhau à lagareiro, cachaço de porco com batata hasselback. Em querendo‑se, a noite não tem de terminar após o jantar.

No piso de cima, com entrada pela porta ao lado, fica o ESPAÇO OS INFANTES, que não só serve de bar como é também uma ca­sa de cultura, com programação de concertos, workshops, teatro. «Não somos empresários da noite, somos uma companhia de teatro», ex­plica Ana Ademar, atriz e gerente do Espaço, a meias com António Revês, também ator e di­retor artístico da Lendias d’Encantar, uma das duas companhias profissionais da cidade. Se o sítio faz lembrar uma discoteca kitsch dos anos 1990, é porque de facto o foi, e quando pegaram nele há coisa de cinco anos foram mantidos al­guns desses elementos, que, no fundo, são tam­bém parte da história. Quem passa lá fora po­de nem dar conta do que há cá dentro. Chega‑se ao cimo das escadas e é como se se tivesse achado um pequeno tesouro. Tal como no mi­nibos que da família Conduto.

 

EVASÕES RECOMENDA

COMER

PORTÃO DE SIBARIS
Travessa da Audiência, 1
Tel.: 925290571
Web: facebook.com/portaodesibaris
Das 12h00 às 15h00 e das 19h00 às 23h00. Encerra segunda ao jantar.
Preço médio: 20 euros

OS INFANTES
Rua dos Infantes, 16
Tel.: 936171317
Web: facebook.com/osinfantesrestaurante
Das 19h30 às 23h00. Encerra à terça e à quarta.
Preço médio: 20 eurosCOMPRAR

MESTRE CACAU
Rua Capitão João Francisco Sousa, 33. Tel.: 284326168
Web: mestrecacau.pt
Das 10h00 às 19h00. Encerra ao domingo.

LUIZ DA ROCHA
Rua Capitão João Francisco Sousa, 61. Tel.: 284323179
Web:luisdarocha.pt
Das 08h00 às 23h00; domingo, até às 20h00. Não encerra.

SAIR

ESPAÇO OS INFANTES
Rua dos Infantes, 14
Tel.: 284324172
Web: facebook.com/espacoosinfanteslde
Sexta e sábado, das 22h00 às 04h00; quinta, até às 02h00.FICAR

AGROTURISMO XISTOS
Herdade Monte da Ponte, EN122, km 18
Tel.: 284010202
Web: xistos.pt
Quarto duplo a partir de
85 euros por noite (inclui pequeno‑almoço)