O senhor do afamado Vila Lisa, na Mexilhoeira Grande, Portimão, morreu esta terça-feira. O nome de José Vila – alcunha que se deve à sua paixão pelos poemas de Vargas Vila – é um símbolo da gastronomia algarvia, a que dedicou quase 40 anos da sua vida, na cozinha do restaurante que abriu em 1981 com o amigo José Lisa, na sua terra natal. Ali, dava a conhecer a autêntica comida do Algarve, contrariando a tendência que na época de fazia sentir na restauração da zona, dominada pela nouvelle cuisine dos hotéis de cinco estrelas.
No restaurante, que acabou por se tornar uma referência nacional, José Vila recuperava a tradição e os sabores que vinham de longe. Dividindo o seu tempo entre a cozinha e o atelier de pintura, misturava nas mesas e bancos corridos, somente ao jantar, amigos e clientes habituais, que sabendo os trâmites da casa, haviam apenas de esperar que chegassem os pratos fixos do menu, que alteravam em feição da época. O mais emblemático dos quais seria a sopa de grão com rabo de boi, mas também havia lugar para a canja de conquilhas ou ameijoa, xerém de lingueirão, ensopado de cação, ou até pernil de porco no forno. Cerveja e refrigerantes eram proibidos. Apenas era servida água ou vinho e a refeição terminava sempre com café de saco, doces e digestivos.
A fórmula fez sucesso tal, que se foi formando fila à porta debruada de azul da Adega, lugar de convívio e boa conversa, por onde passaram celebridades, políticos, artistas… António Pedro Vasconcelos, José Júdice, Miguel Sousa Tavares, Mário Soares, Carlos do Carmo, Zita Seabra, Eduardo Barroso, Robert de Niro e James Gandolfini, o Tony Soprano da série Os Sopranos, foram algumas das figuras mais conhecidas que José Vila serviu.
Gradualmente, devido a motivos de saúde, o cozinheiro-pintor foi-se afastando da cozinha do Vila Lisa, e a sua história terminou esta terça-feira, 30 de março.
