Lisboa é um conjunto de aldeias. A Estrela é a minha

Entrada do Jardim da Estrela e basílica. (Fotografia de Diana Quintela/GI)
Os lisboetas são mais orgulhosos do seu bairro do que da própria cidade. Talvez daí venha a palavra «bairrismo». Apesar de ser um lisboeta nascido no bairro do Chiado, tornei-me um orgulhoso habitante da Estrela.

Saio de casa. Na minha rua viro em direção à Basílica da Estrela e depois à direita. É aí que fica a pastelaria Saudade, onde entro para comer a habitual tosta mista. E para ali ficar algum tempo a ver as notícias do dia, a ler, a observar as interações de moradores e visitantes. É uma rotina que tenho aos sábados, que, como todas as rotinas voluntárias, nos dá aquele conforto das certezas, que achamos que nunca mudam. Noutros sábados vou ao Chef. A clientela é outra, da Estrela que é mais Lapa. Antes da mudança das fronteiras e nomes da freguesias, a Estrela era um bairro da freguesia da Lapa, agora a freguesia chama-se Estrela e a Lapa é um dos seus bairros. No Chef é onde por vezes encontro o Pedro Granger e o Joaquim Monchique, dois atores que me dão a honra da amizade. Também com o Pedro costumo votar, ali na Escola Bartolomeu de Gusmão. Presumo que votamos sempre em partidos diferentes.

A Estrela é também, e muito, o seu jardim. Foi mandado construir por iniciativa do Marquês de Tomar, em meados do século XIX, e chegou a ter um leão numa jaula. Hoje é um belo espaço verde com uma cafetaria em formato redondo e um quiosque. No verão estas duas esplanadas são perfeitas para levar um tablet ou um livro e ficar horas naquele sossego. Isto se não for num domingo de agosto, quando se realiza ali o Out Jazz. Nesse caso a música e a atitude é outra. Este jardim é ponto de encontro de amigos e famílias. O parque infantil convida a ocupar o tempo livre com filhos e netos, juntamente, ainda que de forma involuntária, com os patos que vivem no lago ao lado. A verdade é que todos convivem em harmonia. Talvez neste espaço seja fácil perceber o verdadeiro significado de qualidade de vida.

Esta calma contrasta com o rebuliço da Calçada da Estrela, que liga o jardim – do lado da basílica – ao final da Rua de São Bento, passando ao lado da Assembleia da República. Mas é nesta rua que está o meu barbeiro, a minha papelaria, a minha farmácia, a caixa multibanco mais próxima (raridade na Estrela) e alguns bons locais para comer – uma churrascaria, uma tapiocaria, uma tasquinha e o famoso XL, mais lá em baixo.

A Estrela é o meu bairro. Os lisboetas são mais orgulhosos do seu bairro do que da própria cidade. Talvez daí venha a palavra «bairrismo». Apesar de ser um lisboeta nascido no bairro do Chiado, tornei-me um orgulhoso habitante da Estrela, nesta Lisboa que é uma cidade composta por várias aldeias e vilas, com orgânicas, vivências e hábitos próprios. É essa também a enorme riqueza desta cidade. Por isso estranho quando me dizem que Lisboa é uma confusão, muito trânsito, barulho. Esses não conhecem Lisboa ou só conhecem uma ínfima parte dela. É que Lisboa consegue ser tão tranquila como a mais tranquila das aldeias do interior.

 

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