Crítica de Fernando Melo: Restaurante O Lado Bértolo, Lisboa

Há muito de «lado B» no trabalho continuado e invisível do chef Miguel Bértolo. Pode bem ter sido isso que o conduziu a chamar O Lado Bértolo a esta nova ventura étnica, após o feito de conseguir um brilhante segundo lugar no concurso mundial de sushi no Japão. Cabe-nos agora descobrir.

O apoio da Associação dos Cozinheiros Profissionais de Portugal (ACPP) foi determinante para o êxito a que Miguel Bértolo chegou, mas os louros, as mãos e o talento são indiscutivelmente seus. Ombreou na prova de sousaku no World Sushi Cup 2017 com os melhores, com um sushi set que para mais se chama Descobrimentos (14,90 euros) e que agora disponibiliza no restaurante Lado Bértolo, em São Domingos de Benfica.

O espaço é despretensioso e aberto a todos. Quem se lembra do Sushill Out já sabe onde fica, perto do Hospital dos Lusíadas. O chef Bértolo tomou o lugar como seu para desenvolver o seu trabalho. A exploração principal, aconselhável nas primeiras visitas, é por combinações. Longe de todo o radicalismo, Bértolo proporciona sublimidade em três grupos, cada um com três pratos diferentes.

O primeiro é livre de formalismos e inclui por exemplo a criação improvável (14,90 euros), que consta de quatro rolos de sushi, dois nigiri, dois gunkan, ceviche, frasco de conserva de salmão e salada nanban, reunindo sabores e técnicas japoneses, peruanos e mediterrâneos. O segundo grupo tem o incontornável set sushi mencionado atrás, mas é de juntar também o set sashimi (8,90 euros) de nove peças produzidas a partir de três peixes diferentes, ao nível do melhor que encontramos em trabalho perfeito de lâmina, frescura irrepreensível. No terceiro grupo encontramos pratos quentes e temos uma abordagem diferente à presença de Portugal no Japão, Petiscar Portugaru (13,90 euros), composto de sopa miso shiro, duas espetadinhas, duas gyoza, três tempura, puré de batata- doce e beterraba, especialidades agrupadas de forma pouco frequente.

À carta montamos a nossa própria refeição, a preços francamente acessíveis, sabores conseguidos e firmes. Só a visita recorrente e em boa companhia permite revelar o ecletismo e diversidade. O lado pedagógico do chef Miguel Bértolo, que dá formação a cozinheiros em contínuo na ACPP, é estruturante tanto para não iniciados como para os mais experientes. Lê-se na carta o que é a arte de realçar o que a natureza oferece, e é isso que se sente a cada passo. Acompanhar a natureza é em si mesmo um capricho e não se pode esperar que esteja tudo sempre disponível, há que acompanhar o fluxo de produto e da máxima frescura. Tem uma brigada bem treinada, este Lado Bértolo, trabalho imaculado de cozinha, acompanhamento brilhante à mesa.

É bom ser bem tratado, melhor ainda sentir a sofisticação assim acessível. E porque é sempre tempo de aplaudir os bravos, parabéns Miguel Bértolo. E obrigado.

Classificação:
O espaço: 3,5
O serviço: 4
A comida: 4,5

A refeição perfeita:
Ceviche de salmão e choco (7,50 euros)
Set sashimi (8 euros)
Petiscar Portugaru (13,90 euros)
Creme de sésamo caramelizado (3,90 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

Leia também:

Crítica de Fernando Melo: Restaurante Pesca, Lisboa
Crítica de Fernando Melo: restaurante Mesón Andaluz
Crítica de Fernando Melo: Restaurante Kanazawa, Algés




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend