Tomar, V. N. da Barquinha e Ferreira do Zêzere: roteiro templário pelo Médio Tejo

Tomar, V. N. da Barquinha e Ferreira do Zêzere: roteiro templário pelo Médio Tejo
Mística na História, monumental na arquitetura e bela por natureza, assim é a região que mantém o seu legado templário bem presente, e tem o Tejo como fio condutor de maravilhosas (re)descobertas.

À medida que o barco a motor rasga o manto azul de água e se aproxima da vila, as linhas das casas começam a ganhar contornos e cores mais definidos no meio do verde da montanha, encaixada que foi Dornes nesta península da albufeira de Castelo de Bode, no rio Zêzere, concelho de Ferreira de Zêzere. O seu aspeto pitoresco encanta desde logo, e já a calcorrear as suas ruas empedradas e íngremes, percebe-se porque foi considerada a mais bonita aldeia ribeirinha no prémio das 7 Maravilhas de Portugal, há dois anos.

O pórtico comemorativo do prémio foi montado logo à entrada e não há quem não pare para tirar uma fotografia com o enquadramento natural como cenário. Mas é explorando as ruas da vila que se descobrem outros encantos, neste caso a memória ainda vida daquela que foi uma importante atividade económica local: a construção de embarcações para transporte de gado, mercadorias e pessoas no rio Zêzere.

Dornes ergue-se encaixada no meio da serra. (Fotografia: DR)

José Alberto, de 60 anos, é hoje o único artesão em todo o país que ainda constrói os chamados barcos de três tábuas, ou de abrangel, originários do concelho de Abrantes. Leva dois dias a construir um barco, serrando grandes barrotes de madeira de pinho no seu estaleiro, e vende-os a 750 euros, sobretudo a quem pratica pesca desportiva e faz passeios de lazer na albufeira. A barragem de Castelo de Bode foi construída em 1951, com 50 quilómetros de extensão, e é uma das maiores do país ao abranger cinco concelhos (Ferreira do Zêzere, Abrantes, Tomar, Sertã e Vila de Rei). Grande parte da água que sai das torneiras nas casas dos lisboetas vem desta albufeira criada no Tejo.

O rio desvenda também um passado templário em Dornes, pois foi precisamente numa colina que o cruzado templário Gualdim Pais, ao serviço de D. Afonso Henriques, mandou construir a Torre Templária de Dornes, a partir da base de uma antiga torre romana, no século XII, para defender a linha do rio contra os mouros. A planta pentagonal da torre, pioneira no país, tornou-a um raro exemplar da arquitetura militar dos tempos da reconquista e ainda hoje impressiona estudiosos de diversas áreas e os visitantes da vila.

Ao lado da torre ergue-se a Igreja de Nossa Senhora do Pranto, mandada construir pela Rainha Santa Isabel e reconstruída no século XV. É forrada a azulejos, tem um órgão de tubos oitocentista e imagens de pedra de Santa Catarina e Nossa Senhora do Prato. No próximo dia 15 de agosto, centenas de peregrinos de 43 paróquias vão rumar até Dornes, para oferecer os seus círios (velas de grandes dimensões) à santa, num evento religioso de grande beleza. Um culto religioso que une em pouco quilómetros Dornes, Fátima e Tomar.

 

A cidade templária

A cidade templária fica a apenas meia-hora de carro da vila ribeirinha e é um ponto de passagem obrigatório neste roteiro pelo Médio Tejo. Fundada a 1 de março de 1160, foi nela que a Ordem dos Templários estabeleceu a sua sede e edificou o Convento de Cristo, obra que demorou oito séculos a ficar concluída. «Eles vieram para Portugal coincidentemente no mesmo período em que o Condado Portucalense estava na sua expansão depois da reconquista cristã», começa por explicar João Fiandeiro, guia turístico. «Sendo cruzados, vêm ajudar D. Afonso Henriques. Como o rei tinha compromissos com as forças multinacionais que estavam aqui, doou aos templários as terras do Vale do Nabão, que no fundo era um caminho português até Santiago de Compostela».

O Convento de Cristo é visitado por 300 mil pessoas por ano. (Fotografia: DR)

O Convento de Cristo – realça o guia – é arquitetonicamente único por apresentar todos os estilos arquitetónicos – românico (medieval), gótico, maneirista (renascentista) e barroco (na decoração) – e surge rodeado de uma muralha do século XV singular pelo seu alambor (construção artificial com função defensiva mais eficaz do que uma dupla muralha com fosso) «único em termos de dimensão». «Dos que eu conheço só existia semelhante no Médio
Oriente», nota João Fiandeiro.

Desde a fundação do castelo templário pelas mãos de Gualdim Pais que o convento, na verdade, se tornou palco de alguns dos mais importantes episódios da História de Portugal. Foi aqui que Infante D. Henrique delineou a estratégia dos Descobrimentos e que o rei D. Manuel I impôs a sua visão imperial do mundo, por exemplo, ordenando a transformação da magnífica charola numa Capela-Mor, já no século XVI. No interior do convento, onde chegaram a viver 300 monges, destacam-se ainda a Torre do Sino e a torre de menagem militar, ambas à
mesma altura.

Ana é uma das artistas que trabalham e expõem neste espaço. (Fotografia: DR)

É rica a história templária que se respira nos corredores do convento, sendo igualmente de admirar a Janela Manuelina da Sala do Capítulo e os pormenores do claustro principal. Todos os anos passam pelo monumento 350 mil pessoas, revela o guia, e talvez muitas não saibam que há uma igreja, noutro local da cidade, igualmente importante para perceber a história templária do território. É a Igreja de Santa Maria do Olival, nada mais que a matriz de todas as igrejas de Santa Maria edificadas nas colónias portuguesas na era dos Descobrimentos. A sua fundação é do século XII, quando os templários se instalaram definitivamente em Tomar, e é ali que está sepultado o primeiro grão-mestre desta ordem.

 

Da vila ao castelo

Quem procura respostas mais profundas sobre a passagem da Ordem do Tempo no território do Médio Tejo, encontra-as no novo Centro de Interpretação Templário de Almourol, em Vila Nova da Barquinha. O museu, aberto desde o final de 2018, «é o primeiro do género em Portugal», diz o município, e conta a história da presença da Ordem do Templo no território, até se ter transformado na Ordem de Cristo. Parte do espólio do convento de Tomar, aliás, está ali exposto, assim como medalhas do século XIV e XV encontradas em elevado estado de conservação num dos recantos do Castelo de Almourol.

Os atrativos da vila não se esgotam, porém, no seu legado templário. A arte corre-lhe nas veias, e prova disso são os ateliês que acabaram de se instlalar na nova Oficina das Indústrias Criativas, onde era a antiga escola primária de Vila Nova da Barquinha. Ana e Francisco, ela escultora de 40 anos, ele pintor de aguarelas, de 57, são dois dos inquilinos que aproveitam para mostrar ao público as suas artes. «A arte sacra tenho de fazer sempre, principalmente a figura de Santo António, porque há muita procura. Depois tenho escultura mais popular, e outra vertente mais criativa», diz Ana Dias, enquanto vai pintando mais uma peça de barro. No fundo, é uma montra que ali têm para trabalhar ao vivo, tendo regressado à terra onde Ana tinha raízes familiares do tempo dos bisavós. «Isto aqui é muito pacífico e tranquilo», elogia a simpática artesã.

Já no Parque de Escultura Contemporânea Almourol, a escassos minutos a pé do centro de interpretação templário, reinam a natureza e a arte contemporânea. Ao todo são sete hectares, 700 árvores e 11 esculturas inspiradas na vila, no rio e no castelo, encomendadas a artistas portugueses como Alberto Carneiro, Pedro Cabrita Reis e Joana Vasconcelos. Uma das esculturas funciona como baloiço e outra permite que as crianças brinquem dentro dela, num diálogo harmonioso entre instalações artísticas e a natureza. Outros aspetos, como o arranjo paisagístico e facto de a água usada na rega ser aproveitada do rio Tejo, valeram ao parque um prémio de arquitetura paisagista atribuído pela Sociedade Portuguesa de Arquitetos. Na imprensa, houve quem tenha comparado mesmo a zona verde ao Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

O Castelo de Almourol é um ícone de Vila Nova da Barquinha. (Fotografia: DR)

O ícone do concelho, porém, é mesmo a fortaleza que se ergue num ilhéu de rochas à margem do Tejo, o Castelo de Almourol. A fortificação foi reconstruída por Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, em 1171, e à época da reconquista integrava a linha defensiva do Tejo. Quem olha para ele ao longe pode até associar a imagem à dos castelos de areia feitos com moldes de plástico, tal não é o seu formato, e imaginar batalhas entre terra e rio. Para entrar no castelo e subir à torre é apenas necessário subir a bordo de um barco que parte do cais de Almourol, com capacidade para até 20 pessoas, e deixa as pessoas num pequeno ancoradouro na ilha. Uma oportunidade também para admirar a paisagem ribeirinha que o circunda, e em que mais uma vez a vegetação parece emergir do azul profundo. Mais uma vez é pelo rio que se navega nos trilhos templários do Médio Tejo.

 

Onde dormir e comer

O Hotel dos Templários é um dos mais procurados para ficar alojado em Tomar, e daí partir à descoberta da região. Tem 177 quartos e suítes – todos com varanda panorâmica sobre a cidade, o rio Nabão ou o castelo, um restaurante de cozinha portuguesa e internacional e um lobby-bar. O healthclub com piscina exterior e interior aquecida,as salas de tratamento, sauna, hidromassagem e ginásio completam os serviços da unidade. Para comer na cidade, o Abrigo de Alma é um espaço simpático e ganha pontos pela decoração. Já em Vila Nova da Barquinha, a proposta passa pelos petiscos portugueses e pela loja de produtos regionais Sabores do Tejo, e pelo restaurante Loreto, de cozinha portuguesa e vinhos regionais, cuja ampla sala permite ter vistas desafogadas sobre o Tejo.


Férias náuticas em Castelo de Bode

Castelo de Bode acolhe, até setembro, o evento Castelo de Board (um trocadilho entre «Bode» e «board», que significa prancha em inglês), dedicado às atividades náuticas. Em destaque está o wakeboard (modalidade surgida nos EUA nos anos 1980), que se pode praticar naquela que é a primeira estância mundial do género, nas praias fluviais da Aldeia do Mato (em Abrantes), Fernandaires (Vila de Rei), Lago Azul (Ferreira do Zêzere), Montes (Tomar) e Trízio (Sertã). O wakeboard é um desporto aquático semelhante ao snowboard, mas em que o praticante, em vez de ser puxado por uma lancha, é puxado por um cabo montado numa estrutura com duas torres. Quem quiser pode experimentá-lo gratuitamente em qualquer cable park da albufeira de Castelo de Bode, até 30 de setembro, de segunda a sexta, das 10h00 às 14h00. Aos fins de semana, num registo mais tranquilo, há experiências náuticas gratuitas, como canoagem, stand up paddle, passeios de barco e sky náutico, feitas em parceria com empresas da região.

O stand up paddle é uma das atividades incluídas. (Fotografia: DR)


Visitar o Médio Tejo com descontos

Quem quiser visitar a região pode aproveitar, até ao dia 15 de setembro, os vários descontos
da campanha StayOver Fátima-Tomar dinamizada pela Comunidade Intermunicipal do Médio
Tejo. A iniciativa dirige-se a todas as pessoas que reservarem uma ou mais noites nos alojamentos aderentes à campanha e dá direito a «entradas gratuitas e descontos em vários espaços da região». O valor total da reserva é ainda convertido em pontos que dão acesso a experiências em atrações turísticas locais e em empresas de animação. Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Ourém, Sardoal, Sertã, Tomar, Torres Novas, Vila de Rei e Vila Nova da Barquinha são os concelhos abrangidos.

EVASÕES RECOMENDA

DORMIR

Hotel dos Templários
Largo Candido dos Reis, 1, Tomar
Tel.: 249310100
Web: hoteldostemplarios.com
Quarto duplo a partir de 83 euros.

COMER

Abrigo de Alma
Rua Dr. Joaquin Jacinto, 48A, Tomar
Tel.: 917317439
Web: facebook.com/RestauranteAbrigodaAlma
Terça e domingo, das 12h00 às 15h00. Quarta, quinta, sexta e sábado, das 12h00 às 15h00 e
das 19h00 às 23h00. Encerra à segunda.
Preço médio: 10 euros

Loreto
Avenida dos Plátanos, Vila Nova da Barquinha
Tel.: 913868147
Web: facebook.com/loretorestaurantewinebar
Das 10h00 às 23h45. Não encerra.
Preço médio: 17,50 euros

Sabores do Tejo
Rua Marechal Carmona (Largo de Santo António), Vila Nova da Barquinha
Tel.: 919518791
Web: facebook.com/Sabores-do-Tejo-857173774435642
Das 10h00 às 22h00. Encerra à segunda.

VISITAR

Convento de Cristo
Tomar
Tel.: 249 315 089
Web: www.conventocristo.pt
Das 09h00 às 18h30 (junho a setembro).
Preço: 6 euros; 3 euros (maiores de 65 anos e estudantes)

Igreja de Santa Maria do Olival
Estrada de Marmelais de Baixo, Tomar

Centro de Interpretação Templário de Almourol
Largo 1.o Dezembro, Vila Nova da Barquinha
Tel.: 249720358
Web: cm-vnbarquinha.pt
De segunda-feira a sexta-feira, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30. Fim de semana,
das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 18h00.
Preço: 4 euros (inclui entrada no castelo de Almourol)

Oficina das Indústrias Criativas
Largo Luís de Camões, Vila Nova da Barquinha
Entrada gratuita.

Parque de Escultura Contemporânea Almourol
Praça da República, Vila Nova da Barquinha
Tel.: 249711550
Entrada gratuita.

Castelo de Almourol
Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha
Tel.: 249711550
Web: cm-vnbarquinha.pt
Preço: 4 euros (inclui entrada no centro de interpretação)

Torre Templária
Dornes (Ferreira do Zêzere)

Igreja de Nossa Senhora do Pranto
Dornes (Ferreira do Zêzere)

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