Roteiro dos leitores: História e doçaria na zona Oeste

Roteiro dos leitores: História e doçaria na zona Oeste
(Fotografia: Orlando Almeida/Gl)
Ora dentro de muralhas castelares, ou em históricas fortificações das Linhas das Torres, Cláudia Penetra mostra-nos a sua «calma» Torres Vedras, que recusa trocar pela capital. Pelo caminho, há arte e os clássicos pastéis de feijão, claro.

Ainda hoje se lembra do dia da visita. É provável que tenha subido ao Castelo de Torres Vedras antes disso, mas a primeira memória de Cláudia Penetra remonta ao primeiro ano da escola primária. Não será difícil antecipar a reação de uma menina de seis anos perante este cenário. «Nunca tinha visto um castelo por perto. As raparigas adoram este mundo. Recordo-me de o achar bonito e enorme», conta a jovem de 29 anos. Mora na vila de Turcifal, a dez minutos de carro dali, e está a concluir o ensino superior em Lisboa, mas passa a maior parte do tempo em Torres de Vedras, que não troca por nada.

«É uma cidade calma. Agrada-me não ter aqui a confusão de Lisboa, principalmente à noite», explica a jovem, enquanto sobe a escadaria da Igreja de Santa Maria. De pórticos românicos, em tons de azul e branco, está situada dentro das muralhas do castelo, assim como o que restou de cisternas romanas, de um torreão e cemitério medieval. Há também zonas de descanso, onde se pode e deve ler, ao som do chilrear de pássaros, rodeado de altos pinheiros e grossas oliveiras; e uma estátua para homenagear os homens que lutaram durante as invasões francesas.

A vista do castelo para o centro de Torres Vedras. (Fotografias: Orlando Almeida/GI)

A referência às Linhas de Torres, numa estátua no castelo.

As mesmas que continuam a guiar o passeio de Cláudia, que nos leva até ao vizinho Forte de São Vicente, parte das Linhas de Torres, um conjunto de fortificações erguidas a norte de Lisboa entre 1809 e 1810, como linha de defesa nestas invasões. A subida até lá faz-se ao volante, mas Cláudia já o percorreu a pé. Pelo caminho, passa-se por miradouros e atravessa-se o Rio Sizandro numa pequena ponte. «A importância histórica é fundamental, mas a vista panorâmica do forte é o melhor de tudo. Vê-se Torres inteira», explica a leitora. Deste espaço ao ar livre, amplo, avista-se o centro histórico, mas também as verdes encostas ao redor da cidade, ocupado por moinhos eólicos, hortas e vinhas. «Faz-se muito bom vinho aqui», acrescenta.

 

Arte e doces lado a lado numa praça

A tradição foi criada no século XIX por uma torriense, mas foi-se espalhando com o passar do tempo. Hoje, o pastel de feijão é um ex-líbris da cidade e fabrica-se em duas dezenas de pastelarias. Na Fábrica Coroa, uma das mais antigas na sua confeção, é assim desde 1940. «A receita é a mesma desde o início. O segredo é respeitar o produto, com amor e entrega», adianta Nuno Correia, dono desta histórica casa na Praça 25 de Abril.

A Fábrica Coroa é uma das mais antigas pastelarias na confeção dos típicos pastéis de feijão.

O pátio do Museu Municipal Leonel Trindade, no centro de Torres Vedras.

Gema de ovo, amêndoa, açúcar e feijão branco fidalgo, «por causa da cor e porque tem mais goma»: são apenas estes os ingredientes deste doce, que vai ao forno durante 20 minutos. O processo artesanal, sem conservantes, ainda se mantém, e mostra-se nas várias imagens que forram as paredes deste espaço, que já ganhou, por duas vezes, o Concurso Anual de Pastel de Feijão. Por dia, vendem-se uma média de 100 caixas, cada com uma dúzia de unidades. Além destes, fabricam-se outras variações, para satisfação de Cláudia, doceira por natureza, como o pastel de grão ou o de amêndoa torrada, para além de areias, ferraduras e suspiros.

Ali ao lado, na mesma praça, dá-se uma pausa ao apetite e seguimos pela arte. No Museu Municipal Leonel Trindade, a importância histórica e a arqueologia de Torres Vedras é a protagonista, mas também há lugar para workshops e festivais. Vale a pena espreitar as exposições que vestem estas paredes, mas é obrigatório passar pelos claustros, revestidos por centenas de azulejos. «As pessoas só conhecem Torres Vedras pelo Carnaval, mas há muito para descobrir aqui», remata, com razão.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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